De Popa a Proa: Liderança e confiança em tempos difíceis

Marcelo Neri é presidente da Federação Nacional das Agências de Navegação Marítima (Fenamar)

Por: Marcelo Neri  -  29/01/22  -  06:21
Atualizado em 23/02/22 - 12:02
  Foto: Unsplash

O contexto vem demonstrando que estes novos tempos, não somente de dificuldades pandêmicas, mas também com os avanços tecnológicos e a globalização cada vez mais latente, têm provocado mudanças profundas e irreversíveis em nossa sociedade.


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O processo de transformação em todos os segmentos dá sinais de que o mundo está adotando novas regras de comportamento. E quem não se adaptar ao novo está fadado à estagnação ou à obsolescência. Tais transformações exigem um novo perfil de líder, sendo necessário que ele desenvolva atitudes diferentes das tradicionais, com uma nova maneira de conduzir a empresa e se adaptando às novas condições, principalmente no que se refere à gestão de pessoas. Este novo perfil apresenta um modelo da liderança apreciativa, que deve principalmente focar na geração de confiança entre seus pares, principalmente diante dos desafios crescentes que a pandemia e o afastamento social oferecem para todos.


Peter Drucker, considerado “o pai da administração moderna”, já dizia que liderança não significa ocupar cargos de status, usufruir de privilégios e angariar títulos. Além de ter responsabilidade, liderança é acima de tudo a percepção de que já estamos na sociedade do conhecimento, o qual é recurso chave e os profissionais de conhecimento constituirão o grupo dominante da força de trabalho (Drucker, 2002, p. 170).


O líder percebe, pensa, cria, discerne para tomada de decisões e age. Tais momentos são chamados de pontos de inflexão, sendo eles receber, ver, perceber, estar plenamente presente, cristalizar, prototipar e atuar. (Ássimos, et. al., 2018, p. 83-84).


Segundo Peter Senge, na era do conhecimento e da informação, nós iremos finalmente deixar para trás o mito dos líderes como heróis isolados, comandando suas organizações a partir do topo, e completa: as diretivas de cima para baixo, mesmo quando implementadas, reforçam um ambiente de medo, desconfiança e competitividade interna que reduz a colaboração e a cooperação. Estas promovem a conformidade em vez do compromisso, mas apenas o compromisso genuíno pode trazer a coragem, a imaginação, a paciência e a perseverança necessárias em uma organização que transforma informação em conhecimento. E é exatamente com estes valores que uma liderança de gente grande, com foco no longo prazo, deverá ser distribuída entre diversos indivíduos e equipes que compartilham a responsabilidade de criar o futuro da organização.


Com estas premissas de liderança apreciativa, reformulando como um processo coletivo, simultâneo, colaborativo e compassivo, temos então um dos principais papéis do líder sendo facilitado, que é o processo de criação de um ambiente em que exista confiança.


A confiança gerada, mormente nestes tempos de crescente ansiedade, é um ingrediente relevante para o motor que vai fazer com que o ambiente se constitua em terreno fértil para o cultivo e a evolução de relacionamentos saudáveis e maior produtividade.


Podemos elaborar que a liderança apreciativa, que produz confiança, é mais facilmente gerada nos outros quando temos mais dela em nós mesmos, quando trabalhamos nossas mentes para minimizar nossos egos e maximizar as soluções, deixando de focar nos problemas.


Quando temos mais confiança em nosso potencial enquanto líderes, temos a positiva tendência em desenvolver novas lideranças, dando mais autonomia com responsabilidade para os nossos liderados. Este é outro genuíno papel de um líder: criar novos líderes.


Nesse exato momento, fertilizamos a terra para que se colham novos potenciais talentos através da confiança que é gerada tanto no interior das pessoas quanto entre elas. Estaremos então pavimentando o caminho para que, mesmo em situações que a zona de conforto do contentamento se estabeleça, sendo portanto obstáculo contra o crescimento, este desconforto seja superado e o caminho seja prosseguido.


Muitas vezes, o desconforto percebido como desafio, como forma de que é necessário que nós nos descontentemos com o status quo, é justamente o caminho que clama para a evolução.


Necessitamos capacitar nossos líderes com mais inteligência emocional para desligar o piloto automático de seus egos a fim de fazer com que gerenciem suas reações com protagonismo e positivismo. É este tipo de competência não cognitiva que vai fazer com que geremos maior confiança primeiro em nós mesmos, para depois produzir a confiança nos outros e no ambiente.


Autonomia, estabilidade emocional, sociabilidade, capacidade de superar fracassos, curiosidade (que podemos tratar também como inquietude intelectual), mansidão e perseverança são virtudes que formam uma liderança apreciativa e que vão fazer com que as pessoas lideradas se tornem mais felizes, pois se sentirão mais úteis, fazendo realmente parte da engrenagem, não como um simples número, mas possuidoras de um nome reconhecido na empresa.


Pesquisadores já decretaram que estas habilidades da inteligência emocional (o chamado “soft skills”) importam mais do que saber fazer as coisas. E o processo do fortalecimento de uma boa liderança, que promove um ambiente de confiança, está ligado diretamente a estas competências.


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