De Popa a Proa: Fertilizantes, futuro do agronegócio no cais de Santos

Fernando Biral é diretor-presidente da Santos Port Authority (SPA)

Por: Fernando Biral  -  26/03/22  -  14:53
  Foto: Pixabay

A guerra na Ucrânia lançou luz sobre a importância da infraestrutura portuária especializada para dar suporte ao agronegócio em conjunturas atípicas. Como efeito colateral da guerra, os fluxos de comércio entre Brasil e os países daquela região estão sofrendo com a reprogramação dos embarques e a adaptação da logística. O Brasil, que importa mais de 80% dos fertilizantes, mostra particular dependência da Rússia e de Belarus – juntos, ambos os países responderam por 27% do total importado pelos portos brasileiros em 2021, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Diante desse quadro, o Ministério da Infraestrutura recomendou aos portos brasileiros que adotassem medidas imediatas para aumentar o atendimento à operação de navios com essa carga, visando acelerar a formação de estoques para os nossos agricultores.


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O crescimento anual das importações de fertilizantes pelo Porto de Santos tem se mantido em dois dígitos desde 2016. Só não é maior porque Santos carece de capacidade especializada para receber o fertilizante destinado à sua região de influência para este segmento de carga: o Centro-Oeste. Os recentes acontecimentos na Ucrânia e o crescente fluxo de embarcações com fertilizantes deixam evidente que o Porto de Santos precisa ampliar urgentemente as instalações dedicadas a esse mercado. O complexo portuário tem um terminal especializado para fertilizantes com um berço de atracação (Termag) e um terminal multipropósito, o Tiplam, que opera essa carga em mais dois berços, em média. Além disso, seis berços em cais público estão sendo utilizados por navios com esses insumos. Um recorde em relação ao ano passado. Ou seja, a maior parte das embarcações com fertilizantes opera no cais público via descarga direta, que não apresenta as mesmas condições de desempenho e segurança comparativamente aos terminais citados.


O fertilizante é – ou deveria ser – a típica carga de retorno nos vagões que descem do interior do País com destino aos portos com produtos para exportação. Mas a falta de oferta dedicada no cais santista produziu uma anomalia logística. Que, de resto, onera o produto na prateleira do supermercado. O corredor logístico de exportação da soja, do milho e do açúcar é, em linhas gerais, o mesmo das importações de fertilizantes. Por uma simples razão: a atual produção de granéis de origem vegetal no Brasil depende de fertilizantes de outros países. Contudo, Santos aproveita apenas 14% do potencial do frete de retorno criado pela rota das exportações do agronegócio, enquanto o indicador de Paranaguá (PR), hoje líder nas descargas de fertilizantes, é de 46%. Mesmo, reitera-se, que Santos seja o caminho mais curto e com o melhor custo para o produtor e para o consumidor.


Para termos de comparação, em 2021 o cais santista exportou 57 milhões de toneladas do complexo soja, milho e açúcar. Na mão inversa, importou 8 milhões de toneladas de fertilizantes (21% das compras brasileiras). Reverter essa distorção é tarefa do planejador portuário. Foi o que fizemos com o arrendamento do STS 20, arrematado pela Hidrovias do Brasil em 2019 e em implantação, e é o que faremos com o STS 53, ora em consulta pública e com leilão programado para o 4o trimestre deste ano. Frente a esse cenário, além de investimentos na infra e superestrutura já instaladas, Santos se prepara para o leilão do STS 11, marcado para a próxima quarta-feira, na B3. Com capacidade dinâmica para 14,3 milhões de toneladas e investimentos da ordem de R$ 765 milhões, será o maior terminal portuário do País dedicado a granéis vegetais. Tais iniciativas integram o planejamento de longo prazo do Porto de Santos que leva em conta, sobretudo, a necessidade do prévio provimento da capacidade para que o principal ativo da infraestrutura brasileira seja um facilitador das trocas comerciais com a máxima eficiência, especialmente em um cenário de retomada da economia. Planejar e implantar são a nova ordem que nossa gestão introduziu. E da qual não se desviará.


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