Olhos da cara

Recado: “A grande obra dos alemães é o idioma alemão”, Jorge Luis Borges

Por: Dad Squarisi  -  16/01/22  -  06:36
  Foto: Ilustração: MAX

E a gasolina, hein? Ficou 67 dias comportada, sem aumento. Mas, na quarta-feira, veio o anúncio. O combustível subiu dez centavos por litro. O bolso geme.


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A língua também. Repórteres e comentaristas dizem que o preço ficou mais caro. Bobeiam. Preço caro? É redundância. Caro encerra a ideia de preço. Barato também. Produtos ou serviços são caros ou baratos. Preço é alto, baixo, elevado.


É assim: os remédios estão caros (o preço dos remédios está alto); a gasolina está cara (o preço da gasolina está alto); o diesel é mais barato que a gasolina (o preço do diesel é mais baixo que o da gasolina). Que barato!


A origem de barato? Só podia ser ela. A palavra vem do povo que mais sabe negociar no mundo. É o árabe. No idioma de Maomé e no de Camões, mantém o significado: baixo preço. Ora, o bolso é a parte mais sensível do corpo. Daí por que nasceu a expressão “o maior barato”. Eta coisa boa!


Bebida e direção
“Se beber, não dirija”, alerta o Detran. Dizem que a mensagem se tornou inútil. A razão: com o preço do combustível nas alturas, a alternativa é abastecer ou beber.


Mas a língua não tem nada com isso. O emprego da vírgula mantém-se alheio ao sobe e desce da bomba de gasolina. Se a condição vier na frente da oração principal, caracteriza-se a ordem inversa. A vírgula pede passagem. Compare: se beber, não dirija. Não dirija se beber. Se sair, apague a luz. Apague a luz se sair. Se encher o tanque, não bebo. Não bebo se encher o tanque.


É assim
O substantivo derivado do verbo conduzir é condução. De traduzir é tradução. De seduzir é sedução. De reduzir é redução. Moral da história: substantivos derivados de verbos terminados em -uzir escrevem-se com ç.


Sem privilégios
Moeda se escreve sempre com letra minúscula: real, dólar, libra, peso.


Não é
Na live das quintas-feiras, Bolsonaro disse que a variante Ômicron é bem-vinda, porque vai promover a imunização de rebanho. Todo mundo se contagia e termina a pandemia. Será?


A Organização Mundial da Saúde respondeu: “Nenhum vírus que mata é bem-vindo”. Enquanto dura o bate-boca, vale a dica: bem-vindo se escreve assim, com hífen.


Ômicron
Por que Ômicron se escreve com acento? Por que é proparoxítona. Na língua nossa de todos os dias, as proparoxítonas são sempre acentuadas: lâmpada, fósforo, estávamos.


Autoteste
Há escassez de testes de coronavírus nas farmácias. E agora? O Ministério da Saúde pediu à Anvisa que regulamente o autoteste. Assim, cada um fará o próprio teste. Ao escrever o documento, pintou a dúvida: autoteste ou auto-teste?


O prefixo auto- segue as regras de ouro do emprego dos prefixos. São elas:

1. O h é majestoso. Não se mistura. O prefixo, seguido de palavra grafada com h, pede o tracinho: auto-história, auto-higiene;
2. Letras iguais se rejeitam: auto-organização, auto-ordem;
3. Letras diferentes se atraem: autoescola, automassagem.


Férias
Cadê o... sol ou Sol? Letra maiúscula quando nomear o astro (eclipse do Sol). Letra minúscula quando nomear a luz do Sol: É bom tomar sol até as 11 horas. O sol do meio-dia é prejudicial à pele. Tomo sol todos os dias.


Leitor pergunta
Quem desafia a pandemia e ousa viajar para gozar férias tem sido surpreendido pelo cancelamento de voos. Minha pergunta: voo perdeu o acento? Miro Souza, Rio de Janeiro (RJ)


Perdeu. A reforma ortográfica cassou o chapéu do hiato oo: coroo, perdoo, abençoo, voos.


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