Banco de Brasília sai na frente

Viva! O Banco de Brasília (BRB) saiu na frente. Incomodado com a placa ao lado dos elevadores, decidiu mudá-la

Por: Dad Squarisi  -  16/04/23  -  08:38
  Foto: José Cruz/Agencia Brasil

Recado
“Escrever é cortar.”
Marques Rebelo


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Viva! O Banco de Brasília (BRB) saiu na frente. Incomodado com a placa que aparece ao lado dos elevadores, decidiu mudá-la. A razão: o texto está eivado de erros.


Aviso aos passageiros.
Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.


Mas, visto tantas vezes, não causa mais estranheza. Parece natural. Mas não é. Nossos olhos é que se acostumaram com ele. As falhas estão comentadas a seguir.


Aviso aos passageiros
Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.


Valha-nos, Deus, Maria e Divino Espírito Santo! O texto é a receita do cruz credo. Sem cerimônia, exibe cinco erros – propriedade vocabular, colocação do pronome átono, pontuação, emprego do demonstrativo mesmo e estrutura da frase. Ufa!


Palavra adequada
Vamos combinar? Ônibus, avião, trem, bonde, navio, táxi & cia. transportam passageiros. O elevador sobe e desce com usuários.


Fortões e fracotes
O pronome átono se chama átono porque é fraquiiiiiiinho. Há palavras fortonas que o atraem e o obrigam a ficar antes do verbo. Uma delas é a conjunção subordinativa (que, se, porque). No aviso, aparece “verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”.


Viu? A conjunção se (verifique se) lá está. Chama o fracote. Ele tem de obedecer: … verifique se o mesmo se encontra parado neste andar.


Pra lá e pra cá
As orações adverbiais são passeadeiras. Não param quietas. Parece que têm asas nos pés. Ora aparecem no começo do período, ora no meio, ora no final. Mas elas têm lugar fixo. É no fim. Quando se deslocam, a vírgula denuncia a escapadinha.


Compare:
Não dirija se beber.
Se beber, não dirija.
O texto exibido de norte a sul do país tem uma oração deslocada. Cadê a vírgula? O gato comeu. Que tal devolvê-la? Assim: Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo se encontra parado neste andar.


Etiqueta pega bem
O pronome mesmo exerce vários papéis. E o faz com dignidade e espírito de colaboração. Ele ajuda o autor a reforçar a declaração ou a dar mais precisão a termos que precisam de destaque. Com funções tão importantes, é natural que tenha exigências. Não são muitas, mas convém conhecê-las para tirar as vantagens que o dissílabo oferece.


1. Às vezes, o pronome aparece antes do substantivo. No caso, tem o sentido de “igual”, sem tirar nem pôr. Concorda, então, com o substantivo a que se refere: A mesma campanha teve resultado diferente. As mesmas campanhas tiveram resultados diferentes.


2. Outras vezes, o danadinho vem depois do nome ou do pronome para reforçá-los. Aí concorda com o termo a que se refere.


Compare:
Eu vendi a casa. Eu mesma vendi a casa. Eu mesmo vendi a casa. Ele mesmo vendeu a casa. Ela mesma vendeu a casa. Nós mesmos vendemos a casa. Nós mesmas vendemos a casa. Eles mesmos venderam a casa. Elas mesmas venderam a casa.


3. Eta pronome polivalente! Ele também pode significar realmente. Aí, mantém-se invariável – sem feminino e sem plural: O depoente disse mesmo a verdade. Eles saíram mesmo às 18h. Foi bobeira mesmo do Luís.


Nada mais
Viu? O pronome dá destaque e reforço. Mas não ocupa o lugar do substantivo ou do pronome. É proibido usá-lo em frases como estas: Falei com o médico. O mesmo disse que estava de férias. Xô, coisa feia! Vem, belezura: Falei com o médico. Ele disse que estava de férias.


Eureca
Agora está moleza encontrar o erro no aviso do elevador. O dissílabo está usurpando o lugar do pronome ele: Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado neste andar.


Retoque
Que tal dar uns retoques? A forma nota 10 pode ser esta: Antes de entrar, verifique se o elevador se encontra neste andar. Melhor ainda é a forma encontrada pelo BRB: Antes de entrar, verifique se o elevador está neste andar.


Leitor pergunta
Ouço amigos dizerem “será se”. Meus ouvidos estranham essa construção. Preferem “será que”. Quem está certo?
Tony Peter Floriano, lugar incerto

Tony, seus ouvidos têm razão. A forma “será se” não existe. O correto é “será que”: Será que amanhã vai chover?


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter