Como reagir ao olhar penetrante durante a comunicação

A dupla tarefa de manter o contato visual e raciocinar em busca da palavra sobrecarrega o cérebro

Por: Cida Coelho  -  10/05/21  -  11:12
 A dupla tarefa de manter o contato visual e raciocinar em busca da palavra, sobrecarrega o cérebro que quebra o contato visual para tentar salvar a linha de raciocínio.
A dupla tarefa de manter o contato visual e raciocinar em busca da palavra, sobrecarrega o cérebro que quebra o contato visual para tentar salvar a linha de raciocínio.   Foto: Unsplash

Mesmo reconhecendo a importância do olhar na comunicação, muitas pessoas tem grande dificuldade em manter contato de olhos durante uma conversa ou uma reunião. A dificuldade não é tão grande enquanto estão ouvindo a outra pessoa. Mas quando chega a vez delas falarem, o desconforto começa. Sentir o silêncio e o olhar da outra pessoa gera um incômodo muito grande, já que começa aí uma sensação desagradável de estar sendo avaliado.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


O problema piora quando há mais olhos avaliando, como na situação de falar em público. Nessa ocasião, alem de se preocupar com a linha de raciocínio e organizar os conteúdos há um esforço grande para evitar os olhares e fugir do centro das atenções.


Essa receita é certeira para puxar o tapete do orador e por tudo a perder. Até pouco tempo atrás, a explicação foi a timidez. Ela seria responsável tanto pela fuga dos olhares quanto pela perda da linha de raciocínio, mas sem ligação entre ambas.


Uma pesquisa recente, realizada pela Universidade de Kyoto, no Japão, trouxe uma explicação bastante interessante para esse fracasso comunicativo, tirou o peso apenas da timidez, e ainda demonstrou uma relação entre a perda da linha de raciocínio e a fuga dos olhares. Os pesquisadores fizeram o seguinte teste: pediram a um grupo de indivíduos que associassem palavras (o pesquisador dizia bola e o participante dizia chutar, por exemplo).


Metade desses indivíduos foi submetida ao olhar insistente do pesquisador, durante a tarefa. A outra metade pode responder tranquilamente, sem o olhar do pesquisador. Os resultados mostraram que, o grupo que foi “encarado” pelo pesquisador, teve um desempenho pior do que o que não foi “encarado”. Eles concluíram, então, que a dupla tarefa que manter o contato visual e raciocinar em busca da palavra, sobrecarregava o cérebro e que, como medida de segurança, a tendência era quebrar o contato visual para tentar salvar a linha de raciocínio.


Em outras palavras, não é apenas a timidez, mas falar e olhar nos olhos são duas tarefas que demandam energia do cérebro e é necessário um equilíbrio no uso dessa energia para não dar “tilt”. E isso pode acontecer tanto com os tímidos quanto com os não-tímidos.


Se uma pessoa não tímida, por exemplo, tiver que falar sobre um assunto complexo ou que não domina, ela sentirá mais dificuldades em manter o contato de olhos. Já os tímidos, que naturalmente já não se sentem confortáveis com os olhares, vão ter que se esforçar acima da média em relação ao domínio do conteúdo, já que sabem que manter o contato de olhos vai consumir grande energia e podem colocar em risco a performance.


O jeito é garantir a preparação do conteúdo, já que a familiaridade com o tema melhora a performance. Outra recomendação dos especialistas para quem tem extrema dificuldade em manter o olhar, é focar o olhar no triangulo formado entre os olhos e a boca do interlocutor. Os especialistas recomendam, ainda, o treino diante do espelho e conversas durante uma caminhada, quando a linha de raciocínio corre solta, sem o olhar do interlocutor para sobrecarregar.


Seja qual for sua escolha, insista e persista, porque a comunicação nos liberta, nos redime e nos conecta. Boa sorte!


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter