Olhos, corações e mentes voltados para Cabul, no Afeganistão

As imagens de desespero dos afegãos após a retomada do País pelo Talibã, no início dessa semana, chocaram o mundo

Por: Caio França  -  18/08/21  -  09:46
  Tropas do Taleban tomaram conta do país
Tropas do Taleban tomaram conta do país   Foto: Estadão Conteúdo/AP

As imagens de desespero dos afegãos após a retomada do País pelo Talibã, no início dessa semana, chocaram o mundo. A quantidade de pessoas na pista do aeroporto de Cabul, correndo em direção ao avião, jogando-se contra a aeronave, debruçando-se sobre as suas asas, agarrando-as como se fosse possível e seguro decolar e se sustentar sobre a superfície no ar são cenas extremamente impactantes.


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Uma cena que faz você questionar a veracidade da gravação, que faz você torcer para que seja apenas uma montagem de vídeo ou uma fake news. Mas quando nos damos conta de que aquilo é real, que aconteceu mesmo e que pessoas morreram durante uma atitude desesperadora, em fuga por um pesadelo que volta a assombrá-las após vinte anos, temos a dimensão de que ninguém cometeria um desatino daqueles se não soubesse o que está por vir.


A imagem choca porque se assemelha a um prédio em chamas ou até mesmo com o naufrágio de um navio em alto mar, quando as pessoas vão para o tudo ou nada, quando não lhe sobram muitas opções. Agarrar-se a uma aeronave em movimento é ir para o tudo ou nada, é aceitar a morte a viver sob o regime talibã.


Quando o avião efetivamente decola, o fio da esperança se esvai. É como se o sonho de uma vida nova, em um novo lugar ficasse pra trás e ninguém mais pudesse mudar o destino daquelas pessoas. Enfim, a imagem choca, principalmente, porque nos faz sentir impotentes diante da situação e nos fere enquanto humanidade.


A retomada do território se deu após a retirada das tropas americanas e o abandono do governo afegão. O temor agora gira em torno de como se desenhará o novo governo e a forma de regime. O receio dos afegãos é o retrocesso nos avanços conquistados após a saída do Talibã do poder (de 1996 a 2001), quando ocorreu a invasão americana.


Foram cinco anos que não deixaram saudades aos civis. Um governo marcado pela proibição à cultura ocidental, sem espaço para a diversão e lazer, período em que televisão, música e dança não eram permitidos, de forte opressão, violência e anulação do papel da mulher na sociedade e de uma rígida interpretação dos textos islâmicos.


Malala Yousafzai, paquistanesa e muçulmana, baleada por um militante do grupo radical Talibã, em 2011, tornou-se símbolo da luta pelos direitos da mulher no Afeganistão. A coragem de Malala e o seu exemplo de superação em jamais desistir da sala de aula e sempre incentivar os estudos fez com que a jovem fosse agraciada com o prêmio Nobel da Paz, em 2014.


Desejo que a luta de Malala não tenha sido em vão, que a cultura machista seja vencida e que essa guerra definitivamente tenha fim.


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