"Na volta, a duas quadras de casa, próximo a um colégio, escutei um assobio e olhei para ver se enxergava alguma coisa. Estava bem escuro e jogaram areia molhada nos meus olhos. Aí, dois homens vieram com um pano na minha direção. Nessa hora, falei: 'pode me roubar, pode levar'. Mas o que eles usaram no pano queimou demais meus olhos e meu nariz. Fechei o olho e senti meu corpo sendo arrastado. Depois, minha mente apagou", conta.
O relato acima pertence a uma jovem de Santos, no litoral de São Paulo, que sofreu um ataque brutal de dois marginais ainda não identificados pela polícia. Vitória Raquel Celeste, de 23 anos, sobreviveu após ser atingida por mais de 18 facadas e passou vários dias em recuperação dentro de um hospital. Ela resolveu dar seu depoimento ao G1, e mostrar o próprio rosto, como forma de encorajar outras mulheres a fazerem denúncias do tipo. Confira, a seguir, o relato completo:
"Ele dizia que eu não era ninguém e eu não conseguia nem respirar. Enquanto isso, o segundo homem filmava. Depois, ele me falou 'agora eu vou te mostrar o que é ser mulher'. O tempo todo eu falava 'pode levar meu celular, meu dinheiro', mas eles queriam abusar de mim. Eu estava em cima de um colchão, olhei para o lado e vi uma faca preta, que eu fiquei olhando para tentar pegar e me defender", diz.
"Eu me lembro que esse homem, que estava quase nu, mandou o outro pegar meu dinheiro e ir comprar drogas para eles. Depois disso, apaguei de novo e não lembro com clareza se ele chegou a me violentar. Quando acordei de novo, os dois [suspeitos] estavam brigando. O que estava filmando foi embora, e o outro ficou. Eu apaguei de novo, já estava um pouco machucada", diz.
"Ele tirou minha parte de baixo da roupa, mas talvez ele só tenha me deixado assim para me humilhar, mas eu estava encaixada na roda do caminhão. Acordei com o latido de um cachorro, me joguei da roda para o chão e me arrastei até a calçada. Eu tentei procurar meu shorts, não encontrei e desmaiei. Depois, despertei novamente", conta.
"Acharam que eu estava morta. Até então, eu não sabia que tinha levado 18 facadas, fui saber disso no hospital. Eu ter sobrevivido, acredito que foi um milagre, foi Deus mesmo. Porque uma das facadas atingiu minha garganta, eu achei que nem voltaria a falar", desabafa.
"Agora, estou lidando melhor com o trauma, já conseguindo dormir e fazendo minhas coisas. Eu tive que aceitar que passei por algo prejudicial para a minha mente, e a respeitar minhas emoções. Passei por um crime brutal por ser mulher, mas sei que não tive culpa de nada. Isso tudo me mostrou que Deus é amor, porque eu sobrevivi. É ainda muito difícil, mas eu resolvi falar para ajudar mulheres e outras vítimas, sejam homens, crianças, a serem fortes. Temos que respeitar nossa dor, mas também fazer algo para que essa dor não cresça, ou seja, ter esperança na justiça", relata.
Em nota, a Polícia Civil informou que o caso foi registrado como estupro e tentativa de homicídio qualificado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Santos, e é investigado por meio de inquérito policial instaurado pela 3ª Delegacia de Homicídios, da Deic de Santos. Diligências seguem em andamento para esclarecimento dos fatos. Segundo a polícia, mais detalhes não serão fornecidos por envolver crime sexual.