Baixada Santista na Fase Vermelha deixa prefeitos em rota de colisão com o Governo do Estado

Alberto Mourão, por exemplo, criticou a decisão que, segundo ele, deveria ser discutida com 30 dias de antecedência.

Por: Alexandre Lopes  -  23/12/20  -  13:13
Santos, assim como todo o estado de São Paulo foi para a Fase Vermelha
Santos, assim como todo o estado de São Paulo foi para a Fase Vermelha   Foto: Carlos Nogueira/AT

Imagine um caminhão descendo a Rodovia Anchieta. Agora, pense no mesmo caminhão, só que sem freio. Nós somos esse caminhão, com a peculiaridade de que nossa descida desenfreada é feita pela contra-mão. Enquanto grandes - e nem tão grandes assim - nações começam a vacinar contra o coronavírus, o Brasil desce ladeira abaixo sem previsão de dias melhores. Para piorar, prefeitos da Baixada Santista e o governo do Estado acabaram entrando em rota de colisão.


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Importante ressaltar, aqui, que ao contrário do que algumas pessoas defendem, estamos vivendo, enquanto alguns já observam uma luz no fim do túnel, o pior momento da pandemia. Ontem, por exemplo, foi registrada a maior média móvel de novos contágios desde o surgimento da doença. Foram 49.395 diagnósticos em apenas 24 horas. Essa conta, em termos de mortos, chegará daqui uma ou duas semanas e deverá bater novos recordes.


Falando em mortos, ontem foram 963. Já são 188.285 brasileiros que perderam a vida desde o início da pandemia. São Marias, Antônios e tantos outros que deixaram famílias completamente devastadas que, na maior parte dos casos, não tiveram nem a oportunidade de uma despedida digna. São pessoas que, em geral, foram 'colocadas para dormir', em busca de uma recuperação, sem saber que nunca mais acordariam.


Ontem, para surpresa de muita gente, o Governo de São Paulo decidiu endurecer a quarentena durante as festas de final de ano para conter o avanço da Covid-19 no Estado. O Comitê de saúde determinou que apenas serviços essenciais poderão funcionar nos dias 25, 26 e 27 e, depois, nos dias 1, 2 e 3 de janeiro. Não demorou para os questionamentos começarem a aparecer. Qual o real efeito de uma 'mini-temporada' na Fase Vermelha?


Falando exclusivamente do litoral de São Paulo, temos uma situação atípica nessa época do ano. A população na região chega a triplicar em determinados períodos, principalmente em épocas de tempo firme e muito sol. Obviamente, uma fase mais restritiva é capaz de intimidar as pessoas a descerem a serra rumo a praia. Porém, está longe de ser suficiente para impedir uma hecatombe no sistema de saúde. Nosso problema é durante todo o mês de janeiro.


Nesses dias de 'Fase Vermelha', podem funcionar apenas farmácias, mercados, padarias, postos de combustíveis, lavanderias, meios de transporte, hotéis, pousadas e outros serviços de hotelaria. Shoppings, lojas, concessionárias, escritórios, bares, restaurantes, academias, salões de beleza e cinemas estão completamente proibidos de funcionar nas cidades da região em uma época que já era considerada como uma excelente oportunidade de faturamento e retomada.


O prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), criticou a decisão do estado. Barbosa, inclusive, reiterou que a Baixada Santista precisa de medidas diferenciadas no Réveillon. Ele está certo quando diz que o período mais crítico vem depois, quando, teoricamente, existirá um 'relaxamento'. Sem o apoio da Polícia Militar e sem barreiras sanitárias nas estradas, a situação tende a piorar em todo o litoral de São Paulo.


Em Praia Grande, o prefeito Alberto Mourão (PSDB) também ficou incomodado com o rebaixamento. Ele afirmou não concordar com a iniciativa por, segundo ele, não ser possível operacionalizar as medidas restritivas há apenas dois dias do Natal. De acordo com Mourão, essa determinação deveria ter sido debatida há, pelo menos, 30 dias para que os setores da economia se preparassem para o impacto, já que bares e restaurantes estocaram mercadorias que seriam comercializadas.


Marco Vinholi, Secretário de Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo, falou sobre a reclamação dos prefeitos. "O Governo aumentou as restrições. É prerrogativa dos prefeitos municipais o aumento de restrições quando acharem adequado. Eles poderão aumentar as restrições e o Estado irá apoiar esse aumento. É descabível jogar a responsabilidade desses termos para o Governo do Estado. O Estado irá apoiar as ações das prefeituras, assim como foi feito desde o primeiro dia de pandemia"


Mais do que medidas cada vez mais restritivas, que sufocam o comércio e que já não são respeitadas em sua plenitude pela população, é necessário que todos tenham um pouco mais de consciência e que façam a sua parte, além de uma fiscalização rígida que, há tempos, foi deixada de lado, causando uma sensação de impunidade em quem não cumpre as determinações. Como dito pelo infectologista Evaldo Stanislau durante participação no podcast Baixada em Pauta, do G1, o melhor que podemos fazer agora, nas festas de fim de ano, é evitar levar o vírus para a casa dos nossos familiares. Chega de politicagem.


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