Nova expedição da família Schurmann visita 60 destinos para alertar sobre poluição marinha

Os cinco membros da família visitaram pontos do globo à bordo do veleiro Kat - nome em homenagem à filha, morta em 2013

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  05/09/21  -  09:23
 A viagem dos mares
A viagem dos mares   Foto: Famiília Schurmann/Divulgação

Cinco anos após o fim da última expedição, a família Schurmann está de volta aos sete mares. E com direito a parada em Santos. Aliás, aqui é o primeiro destino dos 60 portos por onde a família deve passar mundo afora, previstos no projeto "A Voz dos Oceanos". Desta vez, porém, a viagem tem um propósito ainda mais amplo do que as trocas culturais: visa informar e conscientizar sobre o risco da poluição nos mares, especialmente o do plástico.


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“A ideia nasceu na última expedição: em 2015, passamos em uma ilha entre Austrália e Japão infestada de plástico. Fizemos um vídeo, 2 milhões de pessoas acessaram, houve 150 mil compartilhamentos... já éramos ecologistas, mas aquilo nos despertou”, relembra Vilfredo Schurmann. “Percebemos que as pessoas estavam preocupadas com o oceano, que é responsável por 60% do oxigênio do planeta”, completa Heloísa Schurmann.


Da ideia na cabeça ao barco no mar, foi o tempo do planejamento da viagem e da construção de parcerias e apoios. Um deles, de peso: o do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A ONU, inclusive, criou uma extensa agenda sobre o tema, entre 2021 e 2030 – por isso chamada de década dos oceanos.


“Nós vamos transmitir o que está acontecendo, os desafios, e o que se pode fazer para melhorar essa situação. Serão vários programas em tempo real, mostrando o que as comunidades estão fazendo”, explica Heloísa.


Em Santos, por exemplo, a trupe irá visitar o Instituto Arte no Dique, na quarta-feira; na quinta, eles partem para o segundo destino da viagem: Ilhabela. Além da família, a bordo do veleiro Kat (batizado em nome da filha do casal, falecida em 2013), há uma tripulação de oito pessoas.


Vilfredo enfatiza a importância da divulgação para conscientizar sobre o tema. “No interior, as pessoas acham que não têm nada a ver com essa situação, que a poluição marinha é um problema de quem mora na costa. Mas 70% do lixo chega ao oceano pelos rios”.


O mundo mudou
Lá se vão 37 anos da primeira aventura da família. Após 10 anos de planejamento, os Schurmann subiram a âncora pela primeira vez em 1984, para outros 10 anos no mar. Foi a primeira volta ao mundo. No retorno, eles – e sua vida – já eram outros: o mar já era uma parte indissociável deles. Depois da primeira, foram duas outras viagens do tipo.


“Estamos no mar, queremos chegar logo em terra. Quando chegamos, passa pouco tempo, já ficamos loucos para sair pro mar de novo”, resume, num sorriso, Vilfredo.


Mas esse mundo grande, visto do mar, também mudou muito em três décadas de navegação. Os Schurmann recordam uma localidade na Polinésia, onde lá pelo início dos anos 90 nem eletricidade havia. Os habitantes vinham passar as noites na praia, tocando violão próximo ao veleiro, partilhando a companhia. Muitos anos depois, ao retornarem, a realidade era outra: “estavam todos em casa, nas redes sociais. Faz parte, é a evolução”.


Coração
A evolução só não altera uma certeza: a de que um pedaço do coração vai ficando em cada porto por onde passam. Como não se apaixonar ao chegar por exemplo na ilha de Mopélia, na Polinésia Francesa, e serem acolhidos por seus 18 habitantes como se fossem parte deles? E, assim, participar da pesca da lagosta, de madrugada, à luz de lampião?


“Depois de uma semana, tínhamos que ir embora, e dois tripulantes começaram a chorar, não queriam ir”, recorda Heloísa. “Quando o veleiro chega pelo mar, é sempre uma nova descoberta. Estamos em uma espécie de tapete mágico”.


Mas se tivessem hoje que parar de navegar e se fixar, em que lugar do mundo seria? Vilfredo diz: “Tem um momento feliz na Polinésia (sempre ela!). Fizeram uma festa tradicional, íamos embora no dia seguinte, eu fui pra beira do mar...eu também não queria ir...chegou um senhor, ‘por que você está triste?’. Eu disse. E ele: ‘por que vocês, ocidentais, sofrem tanto pelo que passou e com o amanhã?”.


Ou seja: de que importa o lugar onde se está, desde que seja vivido plenamente?


Do mar

- Na Ilha de Páscoa, território chileno no Oceano Pacífico, é proibido o plástico desde 2015. “O que eles fazem com as garrafas PET? Estavam construindo uma escola”, diz Vilfredo.


- No lado de fora da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, em 2016, foi o lugar onde mais encontraram lixo. “Recolhemos 20 sacos de lixo de plástico, e do mundo todo, não só do Brasil”, recorda Heloísa.


- A expedição Voz dos Oceanos aposta em três pilares de atuação para alcançar uma transformação efetiva. O primeiro deles, com vertente empreendedora, atua em conjunto com a aceleradora SPIN, focada em encontrar soluções ambientais para indústrias. A ideia é fomentar empreendedores e startups que tenham como proposta encontrar soluções para diminuir ou eliminar o uso do plástico no âmbito industrial.


- O segundo pilar, científico, desenvolvido em parceria com a Infinito Mare, investigará os níveis de impacto que os oceanos estão sofrendo, com três metas principais: investigar a qualidade da água e a biogeoquímica dos oceanos; analisar áreas mais amplas, com vôos de drone e sensoriamento remoto via satélite, e construir o Hub Voz dos Oceanos, uma rede global para divulgar dados à comunidade científica e para a opinião pública em geral.


- Por último, o pilar educacional – uma parceria Voz dos Oceanos, Instituto IRAPA e Instituto Supereco – deverá realizar jornadas educativas, que incluem criação de materiais educativos e gamificação; oficinas de formação com estudos sobre oceanos, resíduos e sustentabilidade, e proposta de inclusão transversal e transdisciplinar da temática no currículo escolar.


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