Pandemia esgota profissionais da saúde e muitos desenvolvem Síndrome de Burnout, aponta pesquisa

Levantamento revela que 62% do pessoal da enfermagem apresenta problemas emocionais

Por: Daniel Rodrigues*  -  02/01/22  -  15:42
Atualizado em 02/01/22 - 19:45
Para sindicalistas, estresse vem atrelado às jornadas prolongadas, um dos efeitos da covid sobre o setor
Para sindicalistas, estresse vem atrelado às jornadas prolongadas, um dos efeitos da covid sobre o setor   Foto: Unsplash

Os profissionais de enfermagem sofreram desgaste físico e emocional tão intenso por conta da sobrecarga de trabalho durante a pandemia que, segundo pesquisa, desenvolveram transtornos como Síndrome de Burnout e do Pânico. Afora isso, muitos outros profissionais demonstram interesse em mudar de área.


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“Temos relatos de colegas que pensam em desistir da profissão, procurar outros caminhos, por causa desse desgaste da saúde mental”, informou o vice-presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo, Péricles Cristiano Batista Flores.


O Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo (Coren-SP) divulgou no final de 2021 que 62% dos profissionais afirmaram ter desenvolvido a síndrome durante a pandemia – a pesquisa foi realizada de forma on-line com 10.329 profissionais, entre eles enfermeiros, obstetrizes, técnicos e auxiliares de enfermagem.


De acordo com Péricles, a Síndrome de Burnout é a que mais acomete os trabalhadores. Trata-se de um esgotamento emocional, um distúrbio de caráter depressivo.


O presidente do Coren-SP, James Francisco dos Santos, complementa que entre os 62% que revelaram ter desenvolvido Burnout, 70,2% apresentaram sintomas físicos: fraqueza, tonturas, dores em geral, problemas para respirar, dormência, formigamentos, dificuldade de concentração e esgotamento físico ou cansaço.


O estudo do apontou, ainda, que 64,5% destes profissionais revelaram sentir com medo, culpa, pânico e esgotamento mental.


O presidente do Coren diz que que, com base no estudo, há a necessidade de intervenções imediatas de prevenção e manutenção do bem-estar mental dos profissionais de enfermagem expostos à covid-19, por se encontrarem na linha de frente, o que exige atenção especial.


“Algumas ações foram tomadas pelo Coren com a intenção de mitigar os problemas levantados. Destacamos a fiscalização contínua das instituições de saúde, com foco no dimensionamento e nas condições adequadas para assistência”, explica James.


Assédio moral

O presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Péricles Cristiano, ressalta que a categoria tem sofrido ainda mais casos de assédio moral, o que tem agravado o surgimento destas síndromes. “São assediados pelas chefias imediatas para que façam dobras excessivas de plantão”.


Segundo ele, faltam profissionais e “não se pode abandonar o posto de trabalho”. “Temos um compromisso com a vida. Isso tudo tem afetado a saúde física e mental, além da vida social, dos profissionais de enfermagem”.


Medo do desconhecido

O diretor médico do Hospital São Lucas de Santos, Marcos Antônio Cavalhero, contou que no começo da pandemia existia um “desespero por não saber com o que estávamos lidando” e, obviamente, os profissionais tinha “medo de pegar a doença”.


“Eu tive perdas de médicos por óbito, pela doença. A primeira fase foi extremamente estressante, cansativa, com a sensação de que não ia dar certo, que isso não ia acabar”. Com a vacinação, entretanto, o diretor aponta que o hospital passou a viver uma “calmaria”.


A gerente de enfermagem do São Lucas, Jaqueline de Moraes, explica que no começo da pandemia, os profissionais tinham à disposição uma equipe de psicólogos para atendimento on-line. O serviço era oferecido mesmo para quem não havia contraído a doença, mas estava com medo de trabalhar.


Ela diz que o hospital teve grande dificuldade para contratação de funcionários. Com isso, os que já estavam trabalhando ficaram ainda mais sobrecarregados. Na segunda onda da covid, Jaqueline acredita que as pessoas estavam mais preparadas psicologicamente, porque já sabiam como era a doença, embora a sobrecarga, segundo ela, também tenha ocorrido.


*Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão do professor Eduardo Cavalcanti e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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