Jovem de Santos sem as duas pernas encontra no skate um meio de inclusão

Antônio Augusto Correa descobriu, aos 2 anos, o meio de locomoção e diversão que o acompanha até hoje

Por: Victória Fernandes Brugger*  -  17/10/21  -  07:51
 O amor pelo skate fez com que Antônio Augusto percebesse que poderia se tornar profissional
O amor pelo skate fez com que Antônio Augusto percebesse que poderia se tornar profissional   Foto: Robson Borges/Divulgação

Antônio Augusto Alves Correa descobriu cedo o amor pelo skate. Foi aos 2 anos de idade, numa festa de casamento. “Foi quando eu vi um pela primeira vez. Subi nele na maior naturalidade e fiquei ali a festa inteira”. Com o passar do tempo, surgiu a ideia de usar o skate como forma de locomoção. No caso, não era uma questão de diversão. Antônio, que mora em Santos, nasceu sem as duas pernas.


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Com o skate, ele não precisava mais rastejar ou usar pernas mecânicas. “Eu usava a prótese até o segundo ano do Ensino Médio, mas ela começou a me machucar bastante. Então hoje, só uso caso realmente seja necessário, como em dias de chuva ou ocasiões especiais”, explica.


Antes de Antônio Augusto nascer, sua mãe, Jocirene Alves, teve duas gestações. Perdeu os bebês em ambas. Quando ficou grávida na terceira vez, nem acreditava muito que o filho pudesse sobreviver. Os médicos diziam que isso era improvável, por problemas no útero. Mesmo assim, ela fez tratamento e seguiu adiante.


Jocirene conta que, quando Antônio Augusto nasceu, e contaram que ele era portador de má-formação, sua reação, para surpresa de todos, foi perguntar: “Só isso?”. Ela diz que o filho nunca dependeu de ninguém para nada, e gostava de explorar além dos limites. “Uma vez, eu estava em casa, e escutei o vizinho me chamando. Quando saio, vejo Antônio pendurado na grade, querendo escalar. Isso me marcou muito”.


 Jocirene Alves conta as dificuldades superadas pelo filho desde a infância
Jocirene Alves conta as dificuldades superadas pelo filho desde a infância   Foto: Divulgação

Hoje com 20 anos, Antônio Correa comenta que causa incômodo quando as pessoas o tratam diferente. “Fora do esporte, eu não tive nenhum grande problema com preconceito. É que muitas pessoas enxergam as pessoas deficientes como coitadinhos, mas como eu sempre fui bem ativo, e até mesmo por estar sempre no skate, acabam não me vendo tanto dessa forma, como seria o caso se eu estivesse numa cadeira de rodas, por exemplo”.


Ele lembra que, quando era criança, sofria algumas dificuldades em locais específicos. “As pessoas, nos parques, às vezes achavam que eu não seria capaz de ir em tal brinquedo, mas sempre dava um jeito, escondido ou chorando, até deixarem”, conta Antônio Augusto, rindo.


O jovem afirma que nunca teve problemas com acessibilidade, pelo fato de ter sido criado com bastante independência e aprendido, desde cedo, como se locomover. “Aprendi a subir escadas, rampas, a andar em todo tipo de lugar. Ou seja, consigo tirar de letra. Mas é evidente que, de modo geral, a Baixada é bem despreparada. Há muitos buracos nas calçadas, nem todas possuem guia acessível, nem todo lugar possui rampas. E também há os ônibus. Muitos motoristas, quando veem um deficiente, passam direto, e isso atrapalha bastante”, desabafa


 Por estar sempre no skate, Antônio Augusto diz que não enfrenta tanto preconceito
Por estar sempre no skate, Antônio Augusto diz que não enfrenta tanto preconceito   Foto: Divulgação

Inclusão
Antônio Augusto fala, emocionado, do amor que sente pelo skate, a sensação de liberdade que ele proporciona, e o quanto se sentiu inserido. “A comunidade do skate é muito inclusiva, e sempre motiva todos os que estão dentro dela”.


Estudante de Direito, ele diz que cada dia é uma nova etapa que ele sempre estará pronto para ultrapassar. “Mesmo com algumas dificuldades, ou situações e situações desconfortáveis, devemos ir atrás dos sonhos e fazer o que fazemos de melhor, com amor e dedicação”.


* Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão dos professores Lídia Maria de Melo e Eduardo Cavalcanti e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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