Jovem camaronês foge para o Brasil e chega a Santos após dias escondido sem comer e beber

Uma das motivações de Eugene Kameni foi a possibilidade de se tornar jogador profissional de futebol

Por: Daniel Rodrigues*  -  17/10/21  -  07:35
 Eugene Kameni enfrentou condições sub-humanas na viagem, e vê no futebol a chance de superar as dificuldades que enfrentava em seu país
Eugene Kameni enfrentou condições sub-humanas na viagem, e vê no futebol a chance de superar as dificuldades que enfrentava em seu país   Foto: Daniel Rodrigues e Arquivo Pessoal

Fugir de um país e ir para outro continente que proporcione qualidade de vida melhor muitas vezes exige condições sub-humanas de quem se aventura. Foi o caso do jovem camaronês Eugene Christian Keou Kameni, de 18 anos, que chegou ao Brasil em maio, por meio do Porto de Santos, e está na Cidade desde então. “Vim escondido em um navio de carga, onde fiquei dias sem comida e água”, afirma, sem perder de vista o maior sonho: tornar-se jogador de futebol.


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Kameni diz que passava por muitos problemas, e por isso decidiu escapar de sua terra natal. “Minha mãe não trabalha, meus quatro irmãos não estudam, meu pai abandonou a gente desde criança. Estava passando por muitos problemas”.


Ao chegar no Brasil, pelo porto santista, conta que foi abordado e interrogado pela Polícia Federal (PF). “Os policiais me pediram documentos e pensaram que eu era traficante, ou bandido, e eu disse que não. Eu vim por causa dos meus problemas nos Camarões, e porque quero ser jogador de futebol”.


Para cuidar do jovem, a PF comunicou a ONG Organização dos Haitianos que Vivem no Brasil, uma organização que atende e acolhe refugiados que vieram do Haiti, ou que são encontrados na região. O rapaz recebeu ajuda da ONG, em especial da coordenadora de Projetos Fernanda Aparecida de Araújo e do presidente Martineau Cherubin, que forneceram roupas e comida, e conseguiram um lugar para ele dormir, no Albergue Noturno de Santos.


Kameni explica que era capitão da seleção sub-17 camaronesa. “Mas lá eu achava que não teria a mesma chance que no Brasil”. Ele afirma que aqui ao menos costuma fazer testes em clubes de futebol da região.


Para fugir da República dos Camarões, ele começou a trabalhar num porto local por algumas semanas, e foi conhecendo como funcionava o transporte por navios. “Antes de fugir, me alimentei bastante. Quando houve a troca de turnos no navio que vinha para o Brasil, entrei rápido e fui até a parte alta dele. Encontrei um lugar para ficar escondido, onde continuei agachado, sem comer e beber, durante dias”, conta o jovem. Com medo de que alguém fizesse mal a ele, só apareceu quando o navio atracou no Porto de Santos.


No futuro próximo, o jovem espera ser atleta profissional. Ele diz ter interesse, também, em poder ajudar outras pessoas. Segundo ele, os brasileiros foram muito bons na recepção, e menciona a ajuda da ONG. Mesmo assim, ele ainda se encontra numa situação difícil, sem escola, emprego e lugar onde ficar. Ele diz ter só a roupa do corpo, porque as que foram doadas teriam sido furtadas.


A Organização dos Haitianos divulgou que, para a doação de roupas, alimentos ou outros suprimentos para o camaronês, é preciso entrar em contato pelo número (13) 3034-5535. A ONG diz que vem tomando providências quanto à situação de Kameni. Como ele entrou no País de modo ilegal, recebe suporte e ajuda visando a regularização da documentação.


*Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão dos professores Paulo Bornsen e Eduardo Cavalcanti e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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