Em Santos, gravação em estúdio ainda é garantia de qualidade em tempos de música digital

Lado negativo é o custo, que não costuma sair barato, principalmente para quem está começando

Por: Giovanna Corerato*  -  04/12/21  -  12:18
Os estúdios de gravação garantem aos músicos condições de produzir material profissional
Os estúdios de gravação garantem aos músicos condições de produzir material profissional   Foto: Karina Cyrillo/Arquivo pessoal

Ter o trabalho disponível com qualidade nas plataformas digitais é o que muitos músicos iniciantes almejam. Mas o grande obstáculo enfrentado por quem está começando é o investimento necessário para as produções em estúdios profissionais. Em Santos, os músicos chegam a desembolsar cerca de R$ 2 mil para cada música gravada.


Willians Cruz, de 34 anos, proprietário de um dos estúdios mais populares de Santos, explica que o preço final de um álbum completo depende de diversas escolhas do artista e das horas de gravação. “A estética, a técnica, o estilo musical, a complexidade dos arranjos, todos esses são fatores que influenciam diretamente a carga de trabalho e, por consequência, a quantidade de horas dentro do estúdio.


O produtor explica que, se um artista pretende ter seu álbum gravado num estúdio profissional, terá de desembolsar, no mínimo, R$ 5 mil. “Esse valor inclui gravação, mixagem, masterização e gravações antes da edição final”.


A banda santista Depois da Tempestade, formada por Victor Birkett (vocal), Gutto de Albuquerque (guitarra), Maru Mowhawk (teclado e sintetizador) e Bruno Andrade (bateria), comemora uma década em janeiro e ensaia há 8 anos no estúdio de Willians Cruz, no Canal 3.


Os integrantes afirmam que o preço da produção de apenas uma faixa varia de R$ 400 a R$ 2 mil. “Depende das condições do estúdio e da qualidade que o artista deseja. Estúdios mais equipados acabam sendo mais caros”.


Produção
O processo de produção tem início a partir dos ensaios na presença do produtor musical. É quando ele verifica a harmonia das linhas de cada instrumento, além de voz e letra. Depois, começa a gravação dos instrumentos. Pela ordem, primeiro vêm bateria, baixo, guitarras, teclados e, finalmente, a voz e backing vocals.A segunda parte do processo conta com o protagonismo do produtor, quando ocorre a edição e masterização dos áudios.


Karina Cyrillo: isolamento acústico é um dos recursos que permitem maior qualidade técnica
Karina Cyrillo: isolamento acústico é um dos recursos que permitem maior qualidade técnica   Foto: Karina Cyrillo/Arquivo pessoal

A estudante Karina Cyrillo, de 18 anos, já havia gravado um EP em estúdio profissional. Agora, está novamente em processo de produção em um feat (parceria) com seu amigo GH Braga. Ela acredita que há vantagens em poder contar com um estúdio profissional durante o processo de produção.


“O diferencial é, principalmente, a qualidade do áudio. O estúdio musical é projetado para a qualidade das gravações, por isso ele possui um isolamento acústico muito bom. Os equipamentos, como microfones e instrumentos, também influenciam muito”, conta.


Além dos custos com ensaio, instrumentos, produção, gravação e mixagem, os artistas ainda têm de desembolsar uma parcela do dinheiro para a transcrição do registro de partitura na Biblioteca Nacional e o registro de ISRC, o Código de Gravação Padrão Internacional. “Registramos para não ocorrer plágio. É como se fosse o RG da música”, explica Karina.


Produção caseira
Vinicios Ribeiro, 23 anos, usa o nome artístico Allure Dayo. Ele produziu seu álbum em casa, por conta própria, com o auxílio de softwares e aplicativos. “Foi um desafio. Produzi desde a parte musical até a técnica, e isso demandou muito tempo, estudo e esforço; além dos equipamentos serem muito caros”, afirma.


Sem as vantagens de ter o auxílio de um produtor musical, Ribeiro conta que o home studio é uma alternativa. “Uma das melhores vantagens de gravar em casa é a flexibilidade para trabalhar. Tendo um setup bem básico para gravar as guias e demos, o artista consegue se virar”, afirma.


Mas ele admite que, às vezes, só um estúdio profissional pode suprir as necessidades do músico com os ambientes e instrumentos adequados para fazer uma gravação. Vinicios Ribeiro explica que gravar em um espaço sem o isolamento acústico influencia muito o resultado do projeto. “Sempre acontecem imprevistos, como quando o cachorro da vizinha late, ou passa uma moto, e você precisa gravar tudo de novo”.


A maioria das gravações é realizada em softwares de Digital Audio Workstation (DAW), que são programas e aplicativos para trabalhar com áudio. No mercado, os DAWs variam de preço, e podem até ser encontrados de forma gratuita. “Cada software possui um objetivo diferente. Alguns são destinados a quem trabalha com composição, outros para a parte técnica. No meu caso, eu usei o FL Studio para produzir meu álbum”, diz Ribeiro. Esse software é pago e conta com planos de US$ 100 a US$ 500.


A vontade de ter o próprio controle sobre o trabalho e o alto custo de contar com um estúdio profissional foram os principais fatores que influenciaram a decisão de Vinicios Ribeiro de fazer a produção caseira. “Uma hora de estúdio custa R$ 60, Acredito que, no mínimo, foram umas 100 horas que eu precisei para gravar tudo, além da mixagem e masterização”, explica o músico.


*Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna-UniSantos sob supervisão do professor Eduardo Cavalcanti e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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