Em nova fase da carreira, Zimbra celebra o recomeço no álbum ‘Sala Dois’

Trabalhando pela primeira vez com o produtor Rick Bonadio, a banda segue proposta de ganhar maior projeção nacional

Por: Pedro Porto*  -  12/04/22  -  16:43
Banda santista Zimbra: métodos diferentes de gravação no estúdio
Banda santista Zimbra: métodos diferentes de gravação no estúdio   Foto: Divulgação

Com o lançamento de seu quarto álbum de estúdio, ‘Sala Dois’, a banda Zimbra, formada em Santos, em 2007, inicia nova fase. Tendo como base Rafael Costa, o Bola, nos vocais e na guitarra; Vitor Fernandes nos vocais de apoio e na guitarra; Guilherme Goes no baixo; e Pedro Furtado na bateria. Eles se adaptam a um momento inédito na carreira, já que vão trabalhar pela primeira vez com o produtor Rick Bonadio, em parceria com Andherson Miguez.


A palavra “recomeço” está presente nas dez faixas do álbum, lançado pela Midas Music, como um mantra a ser preservado, não só nas letras, mas também na identidade visual e nas pretensões artísticas de cada integrante. De acordo com Rafael Costa, a banda é uma extensão da vida de quatro pessoas diferentes entre si, mas com a mesma meta de pensar sempre adiante, em um meio onde muitas vezes se mistura o pessoal com o profissional, principalmente em se tratando de música e composição.


“Acho que nesses últimos dois anos tivemos que nos reinventar por conta da pandemia e momentos que presenciamos”, diz o vocalista. “Precisamos nos adaptar, tanto profissional quanto pessoalmente. Então, recomeço é um tema muito presente nesse disco. Seria inevitável não falar sobre isso depois de ter vivido tantas coisas novas”.


Teve o recomeço da vida pessoal também. Rafael Costa conta ter passado por muitas situações na vida pessoal em que teve de se readaptar. “O recomeço é um jeito muito honesto e verdadeiro de você continuar sua vida”, diz o músico.


Nesse cenário de renovação, a Zimbra teve, também, de buscar uma identidade de música e composição que, ao mesmo tempo, atendesse às demandas dos fãs e do estúdio, com métodos diferentes de gravação. Segundo Rafael Costa, foi uma experiência diferente. “Nunca tínhamos trabalhado com uma gravadora, nem com o Rick Bonadio”.


Até o lançamento de ‘Sala Dois’, a banda sempre tinha as músicas bem encaminhadas com os ensaios. Depois de dez anos, ela foi apresentada a um novo método de gravação. “Íamos ao estúdio com o material praticamente pronto. Desta vez, não foi bem assim. No caso de algumas músicas, tínhamos o corpo, o instrumental, mas fizemos basicamente um laboratório dentro do estúdio para montar os arranjos, a estética da música, como queríamos que ela soasse e fosse conduzida, ou então ver se alguma parte da letra ficou mal explicada e corrigir”, explica o vocalista.


Em relação às composições, a Zimbra sempre atuava do mesmo jeito. Os músicos chegavam para os ensaios com as músicas já esboçadas e, a partir daí, começavam a formar a estrutura, com todo o material interno e as referências externas.


Rafael Costa conta que seu método de composição não mudou. Ele sempre escreve as letras ainda em casa, e tenta ser fiel aos seus pensamentos iniciais. “Escrevo sobre o que aconteceu, comigo ou com alguém que conheço, e é muito natural. Tudo o que escrevo gira em torno de situações da minha vida, de relações que eu vivo, pessoas com quem eu converso e quem eu vejo. Acho que eu escrevo muito sobre nostalgia, saudade, memória, de coisas que vivi, e que já passaram”.


O músico explica que as letras não são sobre arrependimento, e sim sobre o desejo de viver algo novo. “Acredito que sempre devo olhar para o passado apenas como uma memória, um sentimento de lembrança, e não querer mudar aquilo, mas aceitar. Tenho dificuldade de me desprender das coisas e enterrá-las. Tudo que ocorreu conosco, levamos como bagagem”, diz Rafael.


O baterista Pedro Furtado acredita muito que, como músicos e fãs de música, é necessário sempre pesquisar novos artistas, e também trocar muitas informações. “Às vezes, estou ouvindo um som diferente e mando no nosso grupo, ou alguém está ouvindo uma banda em específico e também manda. Somos muito atentos a essa questão, porque tem muito a ver com nosso trabalho, mas também com nossa paixão, que é ouvir música. Novas possibilidades vão surgindo e se refletem na nossa forma de enxergar e criar música”.


Furtado também sente que a Zimbra já influencia novos artistas, em um movimento que ocorre desde cedo. “Vivemos o momento final das grandes bandas emo, como Fresno e NX Zero. Já ouvimos algumas vezes, entre esses shows e no próprio estúdio, algumas bandas tocando Zimbra. Da mesma forma que artistas influenciaram nosso som e participaram da nossa trajetória musical, nos sentimos muito felizes que bandas novas se voltaram para nós”, diz.


Viagens

Para o baterista, viajar o Brasil inteiro para fazer shows é algo especial. “A primeira vez em que saímos do Estado foi em 2015, para tocar em Manaus, que era uma cidade onde pessoas se juntaram para formar um fã clube nosso. Isso nos pegou de surpresa, porque tínhamos tocado, no máximo, em São Paulo. Já tocamos em quase todos os estados do País, quase todas as capitais, e é muito gratificante. Saímos de Santos para ir a lugares como o interior do Ceará, que é maravilhoso e tem um grande número de seguidores da banda”. Música é sobre criar laços, avalia Pedro Furtado, algo que a banda comprovou viajando por todo o País”.


Relação com os fãs

A relação com os fãs também é sempre expandida, porque a banda é parte de uma época em que a barreira entre o artista e o fã se quebrou, ou pelo menos ficou menor. Furtado acredita que isso ocorre por causa da internet, e o acesso que ela propicia a outra realidade e a novos contextos.

“Sempre fizemos questão de alimentar a relação nesse aspecto. Não existe essa história de endeusar o artista. Somos pessoas como nossos fãs, e temos muito em comum com eles, em termos de idade, gosto e interesses. Não temos a mesma trajetória, e moramos longe uns dos outros, mas temos valores e gostos em comum, e é gostoso acompanhar esse processo”, conclui.


*Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão do professor Eduardo Cavalcanti e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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