A clara rejeição do acordo do Brexit no Parlamento britânico não fará a União Europeia (UE) mudar de posição, convencida de que apenas uma alteração radical dos “limites” dos britânicos poderia evitar um divórcio sem acordo, segundo especialistas.
As reações foram rápidas. A UE deixou claro, na noite de terça (15), que não modificaria o “Acordo de Retirada” de quase 600 páginas fechado entre as duas partes e deixou nas mãos de Londres explicar como sair desse beco sem saída.
“O perigo para a UE de tentar tirar a [primeira-ministra britânica] Theresa May de seu buraco é que haja semanas de discussão que não levem a lugar nenhum e nos aproximem mais do 29 de março”, a data prevista para o Brexit, aponta Peter Kellner, da Carnegie Europe.
Para este pesquisador, “o mais útil que Bruxelas pode dizer é: 'Vocês devem se decidir”. “Se quiserem sair sem um acordo, nos adaptaremos; se quiserem reconsiderá-lo, a organização de um novo referendo permitiria considerar” um adiamento.
Os europeus “não aceitarão tocar de novo no acordo de retirada”, opina Andrew Duff, do European Policy Center, para quem a UE estaria “disposta, inclusive feliz, de reabrir a declaração política” sobre a futura relação, sobretudo comercial, que o acompanha.
Isso implicaria que a premiê britânica modifique os “limites” que traçou pela pressão dos partidários de um Brexit mais abrupto, como o de não respeitar as condições de acesso ao mercado único, que incluem a liberdade de circulação.
Se Londres renunciar a seus limites, poderia considerar uma futura relação baseada na que existe entre a UE e a Noruega. “É a ideia de considerar algo que seja muito mais como um Brexit suave e que possa estar mais em linha com as bases do Partido Trabalhista”, atualmente na oposição, diz Elvire Fabry, pesquisador do Instituto Jacques Delors.