A cúpula do PSDB ligada ao governador de São Paulo, João Doria, tem aumentado a pressão pela expulsão do deputado federal Aécio Neves (MG) por conta da demora no pedido de afastamento do partido. O movimento se intensificou depois que o mineiro virou réu na Justiça Federal de São Paulo, na semana passada, acusado de receber propina de R$ 2 milhões do grupo J&F e tentar obstruir investigação da Lava Jato.
Desta vez, foi o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, que deu o tom da cobrança em relação a direção nacional da legenda. Na última quarta-feira (10), enquanto acompanhava o governador em exerício, Rodrigo Garcia (DEM) em uma entrega de trens da CPTM no Brás, o tucano disse que partido deverá escolher entre ele ou Aécio Neves. “E se o diretório do PSDB de Belo Horizonte quer a minha expulsão, essa é uma boa decisão, então, que fica agora para o PSDB nacional. Ou eu, ou Aécio Neves no partido”, disse Covas.
Pressão
O PSDB de São Paulo prevê, no curto prazo, o desgaste provocado pelo caso Aécio na campanha à reeleição do prefeito Bruno Covas. Aliados do deputado afirmam que não há hipótese de o parlamentar mineiro se afastar ou pedir a desfiliação da legenda neste momento. Há, porém, um grupo próximo ao deputado que tenta convencê-lo a se licenciar.
O movimento que pede o afastamento de Aécio parte de dirigentes do PSDB próximos a Doria e ao presidente da legenda, Bruno Araújo (PE). Apontado com um dos possíveis candidatos à sucessão do presidente Jair Bolsonaro, em 2022, Doria disse ao Estado que o melhor seria uma saída espontânea de Aécio dos quadros do partido.
Na quinta-feira passada (4), o diretório paulistano do partido, presidido por Fernando Alfredo, um dos aliados de Doria, aprovou um pedido de expulsão de Aécio. A mesma pauta foi ser levada ao diretório de São Bernardo por Carla Morando, líder tucana na Assembleia Legislativa, para depois, ser encaminhada ao diretório estadual paulista.
De acordo com Alfredo, o pedido de expulsão de Aécio não estava na pauta da reunião do diretório municipal de São Paulo - entrou como questão de ordem a pedido de um dos presentes. "Coloquei em votação e foi aprovado por unanimidade", afirmou. Estavam presentes 68 dos 71 membros do diretório.
Ele integra um colegiado de 20 presidentes de diretórios tucanos em capitais e é responsável por levar a demanda do grupo à executiva nacional do PSDB. "Há várias manifestações de outros presidentes querendo a expulsão do Aécio. Os únicos que se posicionaram contra foram os presidentes de Belo Horizonte e do Paraná", disse.
"Na minha opinião, vai crescer esse movimento pedindo a saída dele (Aécio) do partido. A capital deu um primeiro passo", disse ao Estado o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, membro da executiva nacional e marido de Carla. "O que a gente percebe claramente da militância é que a presença dele gera um desconforto (no partido)", afirmou.
A pressão envolvendo o deputado não é a única. Também são alvo de investida pela expulsão o ex-governador Alberto Goldman e o ex-secretário estadual Saulo de Castro. Os dois foram expulsos pelo diretório paulista por infidelidade partidária enquanto Doria disputava o governo de São Paulo, mas o diretório nacional tucano ficou de dar um desfecho final ao caso. Os dois, na época, disseram ser fiéis aos valores do partido.
Código de ética
Oficialmente, a cúpula do PSDB avalia que a manutenção de Aécio na sigla levaria ao questionamento do novo código de ética do PSDB, lançado em maio. Na prática, no entanto, há receio de que o caso envolvendo Aécio leve à derrocada dos tucanos nas eleições de 2020. O código prevê a expulsão de políticos condenados criminalmente ou que tiverem cometido infidelidade partidária. Não há, porém, punições para aqueles que estão sendo investigados, como é o caso de Aécio.
A executiva nacional informou, por meio de nota enviada ao Estado, que o código de ética do partido vai guiar a decisão do Conselho de Ética, sugerindo que o presidente nacional, Bruno Araújo, irá pautar o pedido de expulsão de Aécio.
Procurado, o diretório mineiro do PSDB se posicionou, por meio de nota, contra a remoção de Aécio do partido. "Temos plena confiança de que, assim como outros membros do partido, o deputado Aécio provará na Justiça a correção dos seus atos." Procurado pela reportagem, o deputado não quis se manifestar sobre o assunto.