Militares se revoltam contra Maduro, mas acabam detidos

Supremo também declarou nula a junta diretiva parlamentar presidida por Juan Guaidó

Por: France Presse  -  22/01/19  -  21:16
Manifestantes contrários ao governo venezuelano queimam um carro em frente à sede da Guarda Nacional
Manifestantes contrários ao governo venezuelano queimam um carro em frente à sede da Guarda Nacional   Foto: Yuri Cortez/ France Presse

Autoridades venezuelanas detiveram 27 militares que realizaram um motim contra o presidente Nicolás Maduro na segunda-feira (21), dois dias antes de manifestações opositoras para exigir um governo de transição e a realização de eleições.


À agitação provocada pela rápida insurgência, se somou uma sentença do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ, de linha governista), que declarou nula a junta diretiva parlamentar presidida pelo jovem opositor Juan Guaidó.


Sob a liderança de Guaidó, o Congresso – de maioria opositora – declarou Maduro “usurpador” após a sua posse em 10 de janeiro para um segundo mandato, considerado ilegítimo por vários governos, e acordou uma anistia para os militares que não o reconheceram.


“Fazemos um chamado à Força Armada para restabelecer a ordem. Família militar, ali estão os que querem perseguir”, disse Guaidó à imprensa, após a decisão que reiterou a decisão do TSJ de declarar o Parlamento em desacato em 2016.


De madrugada, 27 membros da Guarda Nacional (GNB) subtraíram armas de guerra de um posto militar em Petare (Leste) e, em seguida, se entrincheiraram no quartel do bairro Cotiza (Norte), onde foram detidos, segundo um informe oficial, que reportou o controle da situação.


“Aqui está a tropa profissional da GNB contra este regime que não reconhecemos completamente. Preciso do apoio de vocês, saiam às ruas”, disse um militar que as autoridades identificaram com Bandres Figueroa, em um dos vários vídeos que circularam nas redes sociais.


O número dois do chavismo, Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Constituinte, disse à imprensa que foi Figueroa quem liderou o levante e que 25 das detenções ocorreram no quartel.


Essa ação ocorreu às vésperas das manifestações convocadas pela oposição e pelo governo, que se anunciam como o primeiro grande ato nas ruas desde os protestos de 2017 que deixaram 125 mortos.


“Este Parlamento se mantém firme com as decisões tomadas. Temos um foco muito claro: em 23 de janeiro todos esses venezuelanos estejam muito atentos”, sustentou Guaidó nos jardins do Palácio Legislativo.


Sequestro


Segundo a Força Armada, os “atacantes” também sequestraram quatro militares.As autoridades também informaram que, “durante a prisão conseguiram recuperar o armamento roubado e, no momento atual, estão dando informações de interesse aos organismos de Inteligência e ao sistema de Justiça militar. A esses sujeitos será aplicado todo o peso da lei”.


Após saberem do caso por meio dos vídeos, um grupo de moradores de Cotiza chegou às proximidades do quartel para apoiar os rebeldes, bater panelas e fizeram barricadas em uma rua com lixo, após o que foram dispersados por efetivos policiais e militares com bombas de gás lacrimogêneo.


“Estamos com eles. Se eles se unem com nosso país, estamos com eles. Vamos estar nas ruas. Liberdade!”, gritou uma mulher. “Queremos que Maduro vá embora, estamos cansados!”, disse um homem.


Vários sofreram ferimentos de balas de borracha e foram afetados pela inalação de gás lacrimogêneo, lançado pela tropa de choque. A situação tendia à normalidade à tarde.


“Querem criar agitação (...) Checamos e não há nenhuma réplica”, disse Cabello, que advertiu que o ocorrido “gera decisões fortes”. “A força deve ser aplicada quando corresponder. O Estado vai se impor, venha a violência de onde vier, de dentro ou de fora. Nossa mão não irá tremer”, ameaçou.


Descontentamento militar


Guaidó, que se declarou disposto a presidir o governo de transição, assegurou que a mensagem do Parlamento está tendo “eco” na Força Armada, considerada o apoio do governo.


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