Presa, mãe que jogou bebê do 2º andar em Praia Grande tem 'personalidade cruel', diz polícia

Colocada em saco de lixo, recém-nascida despencou da janela de prédio. Mulher alega que o saco “caiu” sem a sua intenção

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  19/06/20  -  20:34
Caso foi registrado na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Praia Grande
Caso foi registrado na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Praia Grande   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

A jovem de 20 anos acusada de jogar a filha recém-nascida do 2º andar do prédio onde mora, em Praia Grande, disse a policiais da Delegacia da Defesa da Mulher (DDM) do município que ignorava estar grávida. Autuada em flagrante pelo crime de infanticídio, ela deverá ser recolhida à cadeia quando receber alta.


A informação de desconhecer a gravidez foi prestada de modo informal pela acusada no Hospital Irmã Dulce, onde permanece internada. Ela também contou ter colocado o bebê em um saco de lixo, imaginando que ele estivesse morto. Por fim, alegou que o saco “caiu” da janela do apartamento sem a sua intenção.


A queda do saco foi livre até o mezanino do edifício, localizado na Rua Jamil Issa, no Caiçara. Na sequência, a jovem recolheu o saco com o bebê e o descartou em uma lixeira do condomínio. Imagens de câmeras de monitoramento do prédio mostram um saco caindo da janela e, posteriormente, a acusada arrastando-o até o elevador.


Rastro de sangue


Um cabo e um soldado da Polícia Militar foram incumbidos na manhã de quinta-feira (18) de apurar um caso de “encontro de feto” na lixeira do prédio. No edifício, o porteiro disse aos policiais que moradores viram o saco com a criança e o avisaram.


Em conversa com condôminos, os PMs souberam que havia uma poça de sangue no mezanino. Deste ponto, um rastro de pingos de sangue se estendia até o elevador de serviço e a lixeira.


Os moradores também informaram o número de um apartamento do 2º andar no qual haveria uma gestante. Os policiais se dirigiram à unidade indicada e lá se depararam com a jovem, identificada como Maylin Lopes Gobbetti, e a mãe dela, que tem 39 anos.


Avó do bebê reage


Quando os PMs perguntaram às mulheres se havia alguma grávida que dera à luz recentemente e relataram o que fora encontrado na lixeira, a mãe de Maylin reagiu com a seguinte frase dirigida à filha: “Não acredito que você fez isso”. A avó da recém-nascida jogada do 2º andar declarou que “desconfiava” da gravidez da filha, mas sem ter certeza.


Mayla sempre negou estar grávida quando era perguntada, conforme contou a sua mãe aos policiais. A gestante justificou aos PMs que também não sabia da gravidez. De acordo com a jovem, ela passou mal na quarta-feira após tomar uma medicação e foi ao banheiro, expelindo o “feto”.


Sob a alegação de não saber o que fazer com o suposto feto, Maylin decidiu descartá-lo na lixeira após o saco “cair” da janela do apartamento. De acordo com a jovem, ela imaginou que o bebê estivesse morto, mas a criança nasceu com vida. Conforme relatório médico, a acusada teve parto normal e os remédios que ingeriu não são abortivos.


Questão médico-legal


Por ser doloso (intencional) contra a vida, o infanticídio deve ser julgado pelo Tribunal do Júri, de acordo com previsão constitucional. Configura o delito o ato de “matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após”.


A pena é de dois a seis anos de detenção, menor que a do homicídio simples (seis a 20 anos de reclusão). A justificativa jurídica para a punição mais branda é a de que a mulher sofre intensas alterações psíquicas e físicas durante o puerpério.


Este período começa no início do parto e se estende até o organismo da mãe voltar ao estado anterior à gestação. Sobre o tempo do puerpério, não há consenso. Há quem diga que ele dure algumas horas, dias e até um mês. Cada caso há de ser avaliado por médico.


Avaliação policial


Embora tenha autuado a jovem por infanticídio, a delegada Lyvia Cristina Bonella, titular da DDM de Praia Grande, ressalvou que esta capitulação jurídica poderá ser oportunamente alterada pelo Ministério Público, caso surjam novas informações, principalmente no campo “técnico-científico”.


Deste modo, a acusada poderá responder até pelo crime de homicídio, na hipótese de perícia atestar que ela não agiu sob a influência do estado puerperal. Os exames periciais necessários à completa elucidação do caso foram requeridos pela delegada, sendo aguardados os respectivos laudos.


Além de autuar Maylin, a delegada requereu a decretação da sua prisão preventiva. Segundo ela, a medida é necessária para preservar a ordem pública, porque o caso “envolve ação capital contra o próprio filho, fato causador de ojeriza (repulsa) no seio popular”. Ainda segundo a titular da DDM, a acusada demonstrou “personalidade cruel”.


Logo A Tribuna
Newsletter