Maior ‘serial killer’ da Baixada Santista tem pena de 30 anos confirmada pelo TJ

Condenação se refere ao assassinato de uma menina de 8 anos. Réu é acusado de mais sete homicídios de crianças

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  20/02/21  -  18:12
Douglas Baptista está envolvido na morte de 8 crianças entre 1992 a 2004
Douglas Baptista está envolvido na morte de 8 crianças entre 1992 a 2004   Foto: G1 Santos

Apontado como autor das mortes de oito crianças, omaior assassino em série da Baixada Santista de todos os tempos e um dos principais do país, Douglas Baptista teve confirmada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) decisão que o condenou a 30 anos de reclusão por apenas um dos homicídios.


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Em sessão virtual realizada na última segunda-feira (15), os desembargadoresEduardo Abdalla (relator), Ricardo Tucunduva e Machado de Andrade, da 6ª Câmara de Direito Criminal do TJ-SP, por unanimidade, negaram provimento ao recurso de apelação da defesa doserial killerpelo assassinato da menina Priscila Elias Inácio, de 8 anos.


O homicídio aconteceu no dia 20 de outubro de 1997. A vítima teve as mãos amarradas e foi jogada em um braço de mar na Área Continental de São Vicente, próximo ao Canal dos Barreiros. O corpo só foi resgatado 20 dias depois. Acima de qualquer suspeita, Douglas participou do reconhecimento do cadáver com o pai da menina e o consolou.


As ações da fauna aquática e da própria água dificultaram a realização de exames para a apuração da causa da morte e a investigação de eventual violência sexual. Priscila era irmã de Luana, de 9 anos, que sumiu em 21 de março de 1996 e foi achada morta dois dias depois, em um rio de Praia Grande. A sua morte também é atribuída a Douglas.


Sob a presidência do juiz Daniel D’Emidio Martins, ojúri da morte de Priscila ocorreu no dia8 de agosto de 2017, 20 anos após o crime, no Fórum de São Vicente. Na sentença, ele frisou que as qualificadoras do homicídio (recurso que dificultou a defesa da vítima, meio cruel e motivo torpe) “extrapolam a mera gravidade em abstrato da previsão legal”.


“Trata-se de crueldade extrema”, sentenciou Martins, ao se referir ao fato de a vítima ser jogada ao mar com as mãos amarradas. Sobre a qualificadora da torpeza, o juiz disse que Douglas agiu com “sadismo” e demonstrou “desprezo pela vida humana em patamar superior aos motivos usualmente verificados para a prática de homicídios”.


A sentença foi mantida na íntegra pelo colegiado. “A decisão do júri foi tomada de acordo com as provas dos autos”, avaliou o desembargador Eduardo Abdalla. Segundo o relator, o réu agiu com “mero sadismo”, caracterizado pelo “prazer em ver o sofrimento da vítima se debatendo no oceano”. Priscila morreu de asfixia decorrente de afogamento.


Durante a reconstituição, Douglas aponta onde deixou corpo de uma das vítimas em São Vicente
Durante a reconstituição, Douglas aponta onde deixou corpo de uma das vítimas em São Vicente   Foto: Arquivo/AT

Inimigo mora ao lado


Além das irmãs Priscila e Luana, também figuram como vítimas de Douglas as criançasVanessa, de 12 anos; Fabiana, 9; Sabrina, 10; Leandro, 9; Nathaly, 5, e Nájila, 5. Os homicídios ocorreram entre 1992 e 2004. As sete meninas e o garoto desapareceram de suas casas, em São Vicente. Vanessa era enteada do réu.


Com exceção de Leandro, que residia nas proximidades, as demais vítimas moravam na Rua José da Silva Xavier, no Parque São Vicente. Antiga Rua da Lama, denominação da época em que a via de apenas um quarteirão não possuía pavimentação, ela também era o endereço de Douglas Baptista.


Solícito com os vizinhos, o réu ganhou a confiança de todos, inclusive das crianças, frequentemente presenteadas com guloseimas e passeios. Dono de um caminhão-baú, Douglas usava o veículo para levar os menores de idade para pescarias em rios da área continental do município e também à praia.


Os meninos e as meninas gostavam. Os seus pais não se opunham. Afinal, até então, ninguém imaginava que o vizinho era umserial killer. Durante as investigações de dois dos homicídios, os demais casos vieram à tona. Douglas confessou ter matado as sete meninas e o garoto, sem saber explicar a razão de tamanha crueldade.


O réu justificou à Polícia Civil ter agido sob o impulso de uma “força estranha”, que fugia ao seu controle. “Douglas negou premeditar os crimes, afirmando que era acometido por um impulso incontrolável, que aflorava repentinamente”, relatou na época o delegado Niêmer Nunes Júnior, responsável pelas investigações.


“Ele não é louco e sempre foi muito lúcido. Essa história (de força estranha) é uma desculpa para justificar o que fez”, disse Rejane Ferreira paraA Tribuna. Ex-mulher doserial killer, ela é mãe de Vanessa, uma das vítimas. Preso preventivamente em 2004, quando os crimes começaram a ser elucidados, Douglas tem atualmente 68 anos.


Oserial killervive dupla segregação. Além de estar recolhido no sistema penitenciário estadual, Douglas encontra-se isolado do restante da população carcerária. A separação é medida necessária para a manutenção da vida do sentenciado. Os detentos não toleram violência contra crianças e a punem com a pena de morte.


Reportagem de A Tribuna sobre os casos de homicídios cometidos pelo condenado
Reportagem de A Tribuna sobre os casos de homicídios cometidos pelo condenado   Foto: Arquivo/A Tribuna

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