Justiça condena acusados de integrar organização criminosa ligada ao Hezbollah

Dez pessoas condenadas são ligadas pelo envio de centenas de quilos de cocaína à Europa pelo Porto de Santos

Por: Eduardo Velozo Fuccia & Da Redação &  -  22/01/20  -  10:36
Associação Comercial de Santos bate recorde e emite quase 9 mil Certificados de Origem
Associação Comercial de Santos bate recorde e emite quase 9 mil Certificados de Origem   Foto: Carlos Nogueira/AT

A Justiça Federal condenou dez homens acusados de integrar uma organização criminosa responsável pelo envio de centenas de quilos de cocaína à Europa pelo Porto de Santos. A cúpula do grupo ainda é suspeita de financiar atividades terroristas do Hezbollah e tentar comprar um laboratório farmacêutico envolvido na Operação Lava Jato.


A organização criminosa começou a ser desmantelada pela Polícia Federal (PF) em 2014, a partir de dossiê elaborado pela Drug Enforcement Administration (DEA), agência antidrogas norte-americana. O documento foi enviado às autoridades do país por meio da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil.


“Inteligência recente da DEA indica que Mohamed Ali Jaber [vulgo Ali, Mohamed] é, atualmente, o líder de uma organização de tráfico de drogas internacional com base em São Paulo. Ele também é responsável por carregamentos de centenas de quilogramas de cocaína para países da Europa e África, trabalhando via Porto de Santos, no Brasil”, informa parte do dossiê.


Não à toa, a posição de liderança do libanês Mohamed lhe rendeu a mais elevada pena imposta aos membros da superquadrilha: 37 anos, nove meses e 18 dias de reclusão pelos delitos de tráfico internacional de drogas e integrar organização criminosa. O cabeça contaria com a parceria de compatriotas no comando do grupo, razão pela qual a PF batizou a investigação de Operação Beirute.


1,5 tonelada


O grupo é apontado como dono do carregamento de 1.180 kg de cocaína pura apreendido no dia 7 de julho de 2014 no município de Ipeúna (SP).


Escondida em uma carga lícita de pisos cerâmicos, a droga foi preparada na cidade vizinha de Rio Claro e seguia de caminhão ao Porto de Santos. O objetivo dos criminosos era enviar o entorpecente a Portugal, onde ele valeria US$ 60 milhões (R$ 253 milhões).


Apesar da vultosa apreensão, as atividades do grupo continuaram. Houve a interceptação de mais dois lotes de cocaína para exportação em Guarujá (30 kg) e Santos (290 kg), respectivamente, nos dias 3 de setembro e 26 novembro de 2014. Quem a PF não conseguiu prender em flagrante nas operações de logística do tráfico foi identificado durante as investigações da Beirute.


O Ministério Público Federal (MPF) denunciou 17 réus. Dois respondem às acusações em processos distintos, ainda em trâmite. Mohamed e os 14 restantes foram sentenciados, no último dia 13, pela juíza federal Daniela Paulovich de Lima, da 1ª Vara Federal de Piracicaba. Por insuficiência de prova, ela absolveu cinco.


Além de Mohamed, os demais condenados e as suas penas são: Walter Fernandes (cinco anos e dez meses), Hicham Mohamad Safie (10 anos, um mês e 12 dias), Marcelo Thadeu Mondini (22 anos e dois meses), Nahim Fouad El Ghassan (21 anos, quatro meses e 24 dias), Nivaldo Aguillar (32 anos e oito meses), Andrew Balta Ramos (30 anos e quatro meses), Jesus Missiano da Silva Júnior (30 anos e quatro meses), Carlos José da Silveira (cinco anos e dez meses) e Marcelo Almeida da Silva (17 anos e seis meses).


Habeas corpus


Segundo Durante, prisão preventiva já durava tempo 'além do razoável' para quem sequer foi condenado
Segundo Durante, prisão preventiva já durava tempo 'além do razoável' para quem sequer foi condenado   Foto: Eduardo Velozo Fuccia/AT

Defensor de Andrew Ramos, Marcelo da Silva e um terceiro réu que foi absolvido, o advogado Eduardo Durante informou que os dez condenados poderão recorrer em liberdade. Na sentença, a juíza fundamentou a possibilidade de os acusados apelarem soltos com o fato de eles terem sido beneficiados com habeas corpus do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3).


O habeas corpus foi concedido no dia 19 de fevereiro de 2018, substituindo a prisão preventiva dos réus pelas medidas cautelares de comparecimento mensal em juízo para justificar atividades, proibição de deixar as cidades onde moram sem autorização judicial e proibição de sair do país, com entrega do passaporte à Justiça Federal.


Interesse americano


As suspeitas de que a megaquadrilha injetava recursos financeiros no Hezbollah, detentor de braço político no Líbano, e lavava dinheiro do narcotráfico internacional nos Estados Unidos com a compra de imóveis, despertaram o interesse da DEA.


Durante a Operação Beirute, a PF apurou que Hicham Safie iniciou tratativas, que não evoluíram, para comprar um laboratório farmacêutico. A empresa objeto da negociação, segundo a PF, foi usada pelo doleiro Alberto Youssef, delator da Lava Jato, para lavar dinheiro e mascarar o repasse de propinas a agentes públicos e políticos.


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