Acusado de violência doméstica, vídeo mostra ameaças de Da Cunha à ex em Santos: 'Vou te matar'

Defesa do deputado cobra perícia. Material foi exibido no Fantástico, da Rede Globo, neste domingo (17)

Por: Diogo Menezes  -  18/03/24  -  07:10
Betina Grusiecki, ex-companheira de Da Cunha, expôs vídeo com ameaças do deputado
Betina Grusiecki, ex-companheira de Da Cunha, expôs vídeo com ameaças do deputado   Foto: Reprodução

Em outubro de 2023, o deputado federal Carlos Alberto da Cunha, mais conhecido como "Delegado Da Cunha", de 46 anos, virou réu em uma ação de violência doméstica contra a ex-companheira, a nutricionista Betina Grusiecki, 28. Ela acusa o parlamentar de ameaça, agressão e injúria. Um vídeo apresentado com exclusividade pelo Fantástico, da Rede Globo, na noite deste domingo (17), revela um dos momentos mais tensos desse relacionamento.


No material é possível ouvir o deputado fazer graves ameaça contra a vida de Betina. “Eu vou te matar. Vou te encher a tua cara de tiro”, foram alguns deles. Também é possível ouvir batidas que, segundo a vítima disse ao Ministério Público, seria dela tendo a cabeça jogada contra a parede do banheiro pelo ex-companheiro.


As imagens foram capturadas pelo do celular da vítima. "Como eu já estava acostumada a escutar os xingamentos de sempre, então eu já estava acostumada também a colocar meu celular para gravar, porque depois ele desmentia. E ele evoluiu para uma agressão em questão de segundos".


As supostas agressões ocorreram no dia 14 de outubro, aniversário de Da Cunha. A ex-companheira diz que ele voltou alcoolizado para casa depois de um passeio com os filhos e passou a ofendê-la.


Em certo momento do vídeo, Da Cunha diz "Pode parar. Pode parar, senão vou te matar aqui". Após discutirem, em depoimento à Justiça, Betina explica que o deputado a empurrou com força para o banheiro, segundo ela, pelo pescoço, a sufocando e fazendo com que perdesse a consciência.


A vítima diz ter desmaiado e, caída no chão, conseguiu retomar a consciência, quando o viu batendo a cabeça dela contra a parede. Nesse momento a voz dele surge no vídeo dizendo: "Desmaia aí. Desmaia aí. A tua conta já deu".


Em seguida, Betina disse ter atirado contra Da Cunha um secador de cabelo. O aparelho abriu um corte no supercílio do deputado e os dois ficaram cobertos de sangue. Ela diz que, assustada com a reação dele, pediu por ajuda. "Chama a polícia. Chama a polícia".


Depois, resolveu chamar pelos filhos de Da Cunha, que estavam na casa. "Eles viram a gente ensanguentados, já ficaram super desesperados, sem saber o que aconteceu. E aí ele começou a falar que ia me matar, que ia dar tiro na minha cara. E aí o filho dele segura ele e fala: 'pai, pelo amor de Deus'".


Betina explicou que o filho trancou o deputado dentro na cozinha e pediu que ela aproveitasse para deixar o imóvel. Nesse momento, Betina foi embora e pediu abrigo na casa do pai.


Após o ocorrido, a mãe de Betina afirmou que Da Cunha tentava propor um acordo para que o vídeo não fosse exposto. Nos áudios, ele confessa ter errado e se dispõe a pagar uma indenização. "Queria que você conversasse com ela para não lançar esse vídeo. Porque esse vídeo acaba com a minha vida. Colocar um vídeo desse, eu vou perder o meu mandato".


Procurado, o delegado do deputado, Eugênio Malavasi, afirmou não ser possível confiar na veracidade do vídeo antes de uma análise. "Eu vou pedir a submissão desse vídeo à perícia. Porque esse vídeo não foi periciado. Não estou falando que é inverídico, mas não passou pelo crivo do Instituto de Criminalística (IC). Não foi submetido a perícia oficial".


Parlamentar sofreu um corte no supercílio provocado por um secador de cabelo atirado por Betina. MP afirma legítima defesa
Parlamentar sofreu um corte no supercílio provocado por um secador de cabelo atirado por Betina. MP afirma legítima defesa   Foto: Reprodução

Deputado nega as agressões

Em pronunciamento à Justiça, o deputado Da Cunha negou ter agredido a ex-mulher e, muito menos, ter batido a cabeça de Betina contra a parede. Também afirmou que ela não teria desmaiado durante as discussões.


"Em momento algum. A verbalização continuou o tempo todo. Ela falou assim 'eu estou perdendo o ar, me solta. Solta que eu tô perdendo o ar’", disse, atribuindo a culpa pelas discussões aos dois. "A gente estava num momento em que os dois estavam fora do prumo. Os dois estavam desestabilizados.”


Porém, o laudo do Instituto Médico-Legal (IML) constatou que Betina tinha escoriações do couro cabeludo e lesões corporais leves.


Por outro lado, após ser agredido com o secador, onde sofreu um corte no supercílio, Da Cunha registrou um boletim de ocorrência contra a ex. Entretanto, o MP concluiu que Betina agiu em legítima defesa.


Aumento das ameaças

Os dois se conheceram em 2020 e resolveram morar juntos. Porém, com o passar do tempo, Betina disse à Justiça que o deputado Da Cunha começou a desqualificá-la e agredir com xingamentos. Insatisfeita, ela ameaçava romper o relacionamento, provocando irritação ao parlamentar.


Para a advogada de Betina Grusiecki, Gabriela Manssur, o relacionamento entre os dois tinha altos e baixos. Pelo fato dela ser constantemente agredida verbalmente, tentava por diversos momentos se separar de Da Cunha. Porém, ele pedia perdão e, pelas insistências, os dois retomavam.


"Ela não conseguia romper o relacionamento. (...) Ela muitas vezes ficava com pena e isso acabou enfraquecendo a Betina, porque ela começou a adoecer, o que dá margem para agressões mais graves e mais intensas."


Betina explicou ainda que as agressões verbais evoluíram para físicas, até o momento em que começou a ser enforcada pelo deputado. “Quando ele me jogava contra a parede e segurava meus braços eu já paralisava e não pensava mais em ir embora.”


Manssur afirma ainda que sua cliente jamais manifestou interesse em requerer bens materiais do deputado. “A Betina, em nenhum momento, entrou com qualquer ação, ainda que ela vivesse com ele em união estável, requereu partilha de bens, requereu alimentos ou qualquer outra providência no âmbito material. Não. Ela simplesmente quer proteção, justiça e tranquilidade para continuar vivendo a vida dela.”


A Justiça concedeu medidas protetivas contra o deputado para Betina e para os pais. E determinou que ele entregasse suas armas.


Procurada pela Rede Globo, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) justificou que, devido à atividade parlamentar, Da Cunha está afastado da atividade de delegado. Informou ainda que, contra ele, há cinco procedimentos em andamento pela Corregedoria da instituição, todos sem decisão definida.


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