A onda de frio pode afetar a colheita de café em 2022, mas os impactos ainda neste ano não devem ser tão grandes, na avaliação do sócio da Five Star Comércio Exterior, Ronaldo Jamar Taboada. O executivo, que trabalha com importação e exportação do produto, avalia que cerca de 60% da colheita para 2021 já foi feito e, por isso, os preços não devem ser tão afetados por essa questão climática.
“A safra atual está muito avançada, então o impacto da geada é menor neste momento”, diz. No Interior do Estado, cafeicultores se protegeram da onda de frio e aplicavam nitrato de potássio e aminoácido para aumentar a resistência das plantas.
“O potássio reduz o ponto de congelamento da seiva do cafeeiro, que fica mais resistente aos efeitos da geada”, explica o engenheiro agrônomo e consultor Marcus Dell Agnolo.
Segundo o pesquisador do Consórcio de Pesquisa Café da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Vinícius Andrade, a cafeicultura é uma indústria a céu aberto e o produtor precisa avaliar os riscos dos eventos climáticos, como a geada, que ocorre com determinada frequência.
Uma geada severíssima, como a de 1994, acontece a cada 30 anos. Já uma severa, que causa danos parciais ou totais, pode se repetir a cada seis anos.
“O produtor deve se perguntar e consultar seus técnicos sobre o grau de risco que sua lavoura tem de ser afetada pela geada e pelo frio para tomar decisões”, conclui.
No comércio, o preço do café aumentou 2,01% na terceira quadrissemana de julho, na comparação com o mesmo período de junho, aponta o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Para Taboada, a geada por si só não é um fator que influencie tanto no preço do café. Ele cita as oscilações do dólar, pandemia e instabilidade do mercado. “(Essa situação) cria uma expectativa preocupante, não só para o comprador, mas também para o exportador”, diz.
Nas gôndolas
Segundo ele, ainda não é possível prever uma queda de preços nas gôndolas, no entanto, o avanço da vacinação e a perspectiva de retomada de atividades vai acalmar o mercado.
Taboada diz que a alta demanda de itens básicos contribuiu para a subida dos preços do café, junto a produtos da cesta como o leite longa vida e o açúcar. Esses itens básicos subiram 3,10 e 9,99%.
Arábica sobe
Em um ano, o preço da saca do café arábica saltou 82,94%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). A saca de 60 Kg do produto líquido saía por R$ 483,25 à vista em junho de 2020 contra R$ 884,10 no mesmo mês deste ano. Em dólar, o preço à vista saiu de US$ 93 no ano passado para US$ 171,47.
No ano passado, as exportações foram de 36,8 milhões de sacas, superando o recorde de 35,4 milhões registradas no ano anterior.
O Porto de Santos é o principal local de embarque do produto, respondendo por mais de 75% da movimentação da commodity no País.
Mas a redução na oferta de contêineres vazios é um dos entraves para os exportadores. “O armazenamento ainda é um dos nossos grandes problemas a serem resolvidos”, diz o sócio da Five Star Comércio Exterior, Ronaldo Jamar Taboada.
O assunto foi tema de uma reunião da Câmara de Exportadores da Associação Comercial de Santos, no último dia 22.
Segundo o coordenador da Câmara, Ronald Pires de Moraes, muitos exportadores ainda têm em seus armazéns um volume remanescente da safra anterior. “A falta de espaço nos navios e a escassez de contêineres próprios para café ainda é muito preocupante. O cenário poderá melhorar a partir de setembro, porém, já sabemos que permanecerá sobrecarregado em 2022”, diz.