Sem Anvisa, audiência sobre vacinação de crianças tem médicos que defendem cloroquina

Audiência pública sobre o assunto foi convocada pelo Governo Federal

Por: Estadão Conteúdo  -  04/01/22  -  15:12
Decisão do Governo deve sair na próxima quarta-feira (5)
Decisão do Governo deve sair na próxima quarta-feira (5)   Foto: Imagem Ilustrativa/Pixabay

A audiência pública sobre vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19 tem a participação de três médicos indicados pela presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara, Bia Kicis (PSL-DF), que compartilham posicionamentos semelhantes ao do presidente Bolsonaro, como o suposto tratamento precoce contra a covid com medicamentos com ineficácia comprovada, como a cloroquina. São contrários também ao passaporte sanitário - a obrigação de apresentar um comprovante de vacinação para entrar em locais públicos ou aeroportos.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Iniciada por volta das 10h15, a audiência pública não conta com a participação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que autorizou a aplicação da vacina da Pfizer nas crianças em 16 de dezembro. A agência foi convidada, mas decidiu não participar. "(A Anvisa) encaminhou um e-mail ao Ministério da Saúde e informou que o parecer da agência é público e que não irá agregar ao debate, por isso, não há representante da Anvisa aqui", informou a Saúde no início da audiência.


Em transmissão ao vivo em sua rede social no começo da audiência, Bia Kicis relatou ter convidado os médicos Roberto Zeballos, José Augusto Nasser e Roberta Lacerda, contrários à imunização de crianças, para falar no encontro.


Em agosto, o Projeto Comprova, do qual o Estadão faz parte, mostrou que Zeballos fez diversas afirmações incorretas sobre a covid-19 em vídeo no Instagram. Hoje, ele tem mais de 390 mil seguidores. Na ocasião, o médico minimizou a importância da variante Delta ao escrever que ela era "pouco agressiva".


Zeballos também errou ao dizer que as vacinas disponíveis até aquele momento não funcionavam contra a Delta. É verdade que os imunizantes foram desenvolvidos quando a variante ainda não circulava, mas eles são,sim, eficazes contra a variante.


Procurado, Zeballos afirmou na época ter sido "o primeiro brasileiro a entender o mecanismo da doença" e declarou que "não tem sentido você vacinar com uma vacina que não é livre de riscos - todo mundo sabe disso - nas pessoas que já tiveram a doença", mas, completou que "talvez as pessoas tenham o benefício de ter uma doença mais leve". O Comprova considerou a publicação do médico enganosa porque ele usa dados incorretos ou imprecisos sobre a variante Delta e sobre a vacinação.


Zeballos falou na audiência pública desta terça por cerca de 10 minutos e repetiu a versão de que a vacina "gerou uma resposta imunológica de 95%" para a "cepa anterior" que não está mais circulando. Referiu-se ao imunizante contra a covid como "vacina emergencial", ignorando o fato de que a Pfizer tem o registro definitivo das doses contra a doença. O médico pediu ainda respeito à "ciência da observação".


Em outra checagem, o Projeto Comprova também apontou que a médica Roberta Lacerda tirou dados de hospital israelense de contexto ao acusar o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos de mentir sobre infecções em não vacinados. A postagem circulou em agosto do ano passado.


A reportagem tentou falar com a profissional pelo Twitter, onde ela fez a postagem, na época, mas o perfil manteve fechado o canal para mensagens privadas. Uma mensagem solicitando um meio de contato foi deixada na postagem. O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque ele retira informações de contexto e as utiliza de modo a confundir.


Logo A Tribuna
Newsletter