Post de jovem em rede social chama atenção para a prevenção ao suicídio

Suicídio é considerado epidemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mas pode ser evitado, dizem especialistas

Por: Fernando Degaspari & Da Redação &  -  13/02/19  -  19:14
Post de jovem em rede social chama atenção para a prevenção ao suicídio
Post de jovem em rede social chama atenção para a prevenção ao suicídio   Foto: Adobe Stock

Um relato emocionante, detalhado e extenso foi compartilhado, visualizado e curtido milhares de vezes nesta terça-feira (12), no Facebook. Um jovem universitário de 25 anos, de Santos, expôs seu drama na página pessoal da rede social antes de tirar a própria vida. O texto chocou amigos do rapaz e milhares de pessoas que deixaram comentários em seu post.


O suicídio é considerado epidemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mas pode ser evitado, dizem especialistas.


O caso aconteceu na terça-feira à tarde, na Universidade Católica de Santos (UniSantos), campus Boqueirão. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado e mandou duas ambulâncias ao local.


“Há mais de três meses, planejo meu suicídio. Incluindo neles duas tentativas”, publicou o jovem, formando em Direito.


O jornalista, escritor e palestrante André Trigueiro, da GloboNews, se especializou no tema nos últimos 20 anos. Para ele, pessoas próximas precisam aprender a observar sinais. “Quando o assunto é suicídio, cão que ladra, morde. Na dúvida, leve a sério”, avisa.


O médico psiquiatra Sidney Gaspar compara que “seres humanos se mostram, muitas vezes, insatisfeitos, mas pessoas que estão prestes a cometer o suicídio vão reclamar praticamente o tempo todo”.


Foi o que aconteceu com o jovem. “Quando comentei em um post que cometeria suicídio em abril deste ano [era minha data inicial, mas falhei em esperar até lá], choveu gente no meu in box. Uns pedindo ajuda e outros querendo me ajudar”, revelou.


A psicóloga Luciana Cescon, da Prefeitura de Santos, mestre em Ciência da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), atua na prevenção ao suicídio. Ela explica que os motivos que levam ao ato diferem muito entre os pacientes. “O que me chamou a atenção foram a carta e a reflexão de que, muitas vezes, o suicídio começa na infância, quando a criança não é compreendida”.


Como ajudar


Trigueiro, autor do livro “Viver É a Melhor Opção - A Prevenção do Suicídio no Brasil e no Mundo”, diz ser preciso criar um ambiente acolhedor.


“A primeira abordagem é uma conversa franca, aberta, sem julgamento, sem recriminar. Crie um ambiente de acolhimento em que a pessoa possa abrir o coração sem repreensão e checar se é o caso de encaminhar para um profissional da área da saúde”, afirma.


Um trecho da carta publicada pelo estudante deixa isso bem claro. “Julgamentos não ajudam, uma palavra de conforto, sim”.


Além de amigos e familiares atentarem aos sinais, especialistas afirmam que Poder Público e entidades privadas, como universidades, podem fazer mais.


“Não adianta uma faculdade fazer palestra se o estudante não tem para onde ser direcionado. Por exemplo, um adolescente que sofre bullying na escola: não adianta dar antidepressivo para ele, se ele continua sendo agredido. A gente precisa de uma rede de cuidados”, diz Luciana Cescon.


Acolhimento, diálogo e reflexão podem contribuir


Em 2017, houve 20 suicídios em Santos. Segundo a prefeitura, pessoas entre 30 e 39 anos são as que mais tiram a própria vida. Especialistas ouvidos por A Tribuna dizem que é preciso fazer mais.


“É necessário prevenir de uma maneira muito mais eficaz do que está sendo feito até hoje”, escreveu o jovem que, nesta terça, deu fim à própria vida.


Na carta publicada no Facebook, ele citou exemplos de como isso pode ser feito. “Começa quando você acolhe seu filho com as diferenças dele, ao invés de colocá-lo para fora de casa por ele ser diferente daquilo que você almejou um dia”.


O jornalista André Trigueiro, que se especializou no assunto, conta ter visto em universidades brasileiras um movimento que não se restringe a palestras ou campanhas no Setembro Amarelo.


“Pode-se criar um ambiente acolhedor dentro do campus orientando os alunos, sem prejuízo do sigilo, para quem estiver passando por alguma crise. Isso é feito com professores e profissionais que terão as habilidades necessárias para ouvir e acolher”, afirma.


O que é feito


A UniSantos diz realizar, periodicamente, palestras, mesas-redondas e encontros de reflexão que tratam de temas relacionados à ética, ao respeito às diferenças e à diversidade, além de temas que tratam da valorização da vida, emoções e convívio social.


Sobre o acolhimento, o Departamento de Apoio Pedagógico, Psicológico e Social atende, de forma gratuita quem enfrenta problemas que interferem na vida pessoal e acadêmica.


O Facebook informa que trabalha com prevenção de suicídios há mais de dez anos, em parceria com organizações de especialistas como o Centro de Valorização da Vida (CVV) e o Safernet.


Se a palavra suicídio é procurada por alguém, essa pessoa recebe mensagens de ajuda. Segundo o Facebook, 3,5 mil pessoas foram salvas, só no ano passado, graças a uma tecnologia que aciona socorristas contratados pela empresa.


A Prefeitura de Santos diz tratar do assunto nas unidades de saúde mental. “A gente tem uma programação específica no mês de setembro. Tivemos, por exemplo, vivências na Escola de Surfe e palestras no Museu da Imagem e do Som”, afirma o chefe do Departamento de Atenção Especial, Devanir Paz.


Onde buscar ajuda


Centro de Valorização à Vida (CVV)


Atendimento pelo telefone 188 ou por email/chat – www.cvv.org.br


Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata)


Atendimento pelo telefone (11) 3256-4831 ou pelo email comunicacao@abrata.org.br


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