'Romualdo, quando nasceu, não chorou, ele apitou', diz ex-árbitro de Santos e amigo de Arppi Filho

Juiz da final da Copa do Mundo de 1986, que consagrou Maradona, faleceu neste sábado (4) em Santos

Por: Régis Querino  -  05/03/23  -  19:45
Romualdo Arppi Filho, um dos grandes nomes da história da arbitragem brasileira
Romualdo Arppi Filho, um dos grandes nomes da história da arbitragem brasileira   Foto: Arquivo AT

“Romualdo, quando nasceu, não chorou, ele apitou. A mãe de Romualdo não lhe deu uma chupeta, lhe deu um apito”. A frase, bem-humorada, define o talento inato do santista Romualdo Arppi Filho, ex-árbitro de futebol, que morreu na noite deste sábado (4), aos 84 anos, em Santos, vítima de problemas renais.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Dita para A Tribuna pelo amigo e ex-árbitro Renato de Oliveira Braga, 80, a frase é de outro juiz, contemporâneo de Braga e Arppi Filho. “O Emídio Marques de Mesquita, amigo da nossa geração, sempre dizia essa frase para definir o Romualdo. Ele nasceu para ser árbitro, porque tinha talento, vocação, feeling. Não é porque ele é meu amigo, mas tecnicamente falando, eu não vi ninguém igual”, afirma Braga.


Os dois se conheceram quando estudavam no antigo Colégio Tarquínio Silva, em Santos, na década de 1950. “Foi muito antes de sonharmos em ser árbitro de futebol. Ele fazia o Científico e eu, o Ginásio, porque era mais novo. Fui ser árbitro por culpa dele (risos). O Romualdo começou na várzea, me espelhei nele, um grande árbitro, porque chegar onde ele chegou, não é qualquer um que chega”, aponta Braga.


E Romualdo chegou longe. Foi o segundo árbitro brasileiro a apitar uma final de Copa do Mundo, depois de Arnaldo Cézar Coelho, em 1982. Em 1986, no México, Arppi Filho comandou a decisão entre Alemanha e Argentina. Liderados por Maradona, que foi amarelado pelo juiz santista, os argentinos venceram por 3 a 2 e conquistaram o bicampeonato.


Além da final, o ex-juiz apitou outros dois jogos no Mundial de 1986: o empate entre França e União Soviética, por 1 a 1, e a vitória do México sobre a Bulgária, por 2 a 0. Em entrevista para A Tribuna, em 2014, ele relembrou o ponto mais alto da carreira.


“É o máximo que um árbitro espera, desde sua formação, quando tira o diploma, chegar a uma final de Copa do Mundo. E eu, graças a Deus, apitei várias decisões paulistas, brasileira, da América do Sul, Taça Libertadores, apitei uma final dessa (Copa) Toyota, mas acredito que essa (Copa do Mundo) foi a principal”, disse Arppi Filho.


Romualdo Arppi Filho relembrou momentos da carreira em entrevista para A Tribuna
Romualdo Arppi Filho relembrou momentos da carreira em entrevista para A Tribuna   Foto: Irandy Ribas/Arquivo AT

Currículo invejável


Apitar a final do Mundial foi só um dos tantos feitos de Romualdo na carreira. “Muita gente lembra dele pela final da Copa de 1986, mas faço questão de ressaltar que o Romualdo entrou para o quadro da Fifa aos 23 anos. Ninguém conseguiu essa façanha. E, até hoje, ele é o árbitro que mais tempo ficou no quadro da Fifa, dos 23 aos 50 anos, quando foi jubilado. É um recorde mundial, nenhum árbitro conseguiu isso”, diz Braga.


Na carreira, Romualdo, entre muitos jogos importantes, apitou duas decisões do Campeonato Brasileiro, em 1984 e 1985, uma final do Mundial de Clubes (1984) e em três Olimpíadas (1968, 1980 e 1984).


“O próprio Armando Marques, árbitro de renome da nossa geração, falava abertamente: ‘Vocês falam que eu sou o melhor árbitro do Brasil, mas o melhor árbitro brasileiro é o Romualdo Arppi Filho. Isso eu não ouvi dizer, eu ouvi o próprio Armando falar”, recorda Braga.


Em Belo Horizonte visitando amigos, Renato de Oliveira Braga lamentou não estar em Santos para se despedir do grande amigo e ex-companheiro de apito, com quem ele conversou em janeiro passado, quando Arppi Filho completou 84 anos. E comentou sobre o que considera uma falta de reconhecimento da Cidade ao filho ilustre.


“A cidade de Santos tinha que ter feito homenagem ao Romualdo em vida. A Câmara, com um título de desportista emérito. É como o Pelé falava: ‘Quer me homenagear, me homenageia em vida’. Infelizmente chegou a vez dele, a gente lamenta, que Deus o tenha, o receba e conforte a sua família”.


Romualdo Arppi Filho, que residia nos últimos anos em São Vicente, foi sepultado neste domingo (5), no cemitério do Paquetá, em Santos. Deixou esposa, três filhos e três netos.


Logo A Tribuna
Newsletter