Sogras amadas, mães múltiplas

Muito acima dos estereótipos, elas são amigas e cuidadoras

Por: Sheila Almeida & Da Redação &  -  28/04/19  -  20:52
Maria Gomes Caseiro recomenda falar na hora certa e ter paciência
Maria Gomes Caseiro recomenda falar na hora certa e ter paciência   Foto: Nirley Sena/ AT

Nesse domingo (28) é comemorado o Dia da Sogra – grau de parentesco que virou alvo de piadas, estigmas e até problemas psicológicos a algumas delas. Muitas, porém, provam que nem só de ódio vive essa relação: se avó é mãe duas vezes, sogra é, pelo menos, três.


Um exemplo é o da dona de casa Maria Helena Silva Menezes, de 49 anos. Com duas filhas, ganhou, há cinco anos, a neta mais velha, cujo nome a homenageia: Helena. E conta que não se sentiu sogra após ver a filha mais velha, Tielle, se casar.


“Ganhei outro filho. O marido dela, o Daniel, é o filho homem que não tive. Faço tudo para agradar: até as comidas que eles gostam”, diz, sobre suas táticas.


Avós e amigas


A mãe biológica de Daniel é a aposentada Sandra Maria Darros, de 60 anos – portanto, sogra de Tielle. Pois essas duas mulheres que têm o papel de sogras e se uniram em torno da neta se tornaram amigas.


Sandra e Maria Helena se dão tão bem que, além dos encontros em família, saem juntas. Fazem, até, academia nos mesmos dias e horários. 


"A Maria Helena é quem cuida mais da neta e eu sugeri a ela que, quando não pudesse, que eu fosse para a casa dela ficar com a pequena, pois é lá que ela está acostumada a brincar. Então, ela é a avó que cuida e eu sou a que brinca”, ri Sandra. 


Saber a hora


Outra sogra amada por familiares e indicada, com direito a campanha para sair na reportagem, é Maria Gomes Caseiro, de 68 anos.


A mãe de César, de 47 anos, Fernando, de 40, e Célia, de 37, ri do estereótipo criado. Tem até uma opinião polêmica. “Acho que a culpa é da própria sogra se é vista assim. Porque tem sogra que acha que vai perder os filhos para a nora ou genro. Só perde se for chata, intransigente e não entender que ninguém quer se afastar de você”. 


Para ela, é difícil, mas se deve fazer um exercício diário: falar na hora certa e ter paciência. “É normal eu não gostar de uma coisa ou outra, mas, se você agrada à pessoa que está com seu filho, todo mundo fica feliz. Tenho várias ex-noras e me dou muito bem com elas”. 


E dá dicas: “Paciência, discernimento e relevar muita coisa. (...) Claro que, às vezes, a gente fica chateada, mas não vale a pena se afastar. Se a gente aprende a entender que o outro é diferente e que a felicidade dos seus filhos depende disso, todos só têm a ganhar”.


Na mitologia grega o papel era discutido


Séculos antes de Cristo, a mitologia grega punha fogo no debate sobre a figura da sogra, quando Afrodite, deusa do amor, desentendeu-se com Psiqué por ciúmes do filho Eros. É uma discussão que se estende à antropologia, à psicologia e ao Direito.


Muitos explicam o comportamento de sogras com o vazio que sentem ao ver filhos cuidados e amados por outro(a). Darrell Champlin, antropólogo cultural com especialização em Psicologia, explica que, “na pré-história, na espécie humana e de todos os primatas, quem cuidava dos filhotes era a mãe. Isso ia da alimentação e da proteção ao ensino do desenvolvimento de ferramentas”.


Daí vem a lei. Segundo a advogada Patricia Gorisch, professora de Direito das Famílias e Sucessões da Universidade Santa Cecília (Unisanta), toda a sociedade tem dever de educar, mas “sustento, guarda e educação dos filhos são exclusiva dos pais. Em divergência, quem decide é o juiz, não a sogra”.


A psicóloga clínica Cristina Pimentel acrescenta que ser sogra “é o momento de agregar com respeito e sabedoria às escolhas feita pelos filhos”.


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