Primeiro laboratório de maconha medicinal do Litoral de SP já está funcionando em São Vicente

Mais de 280 óleos já foram produzidos na região

Por: Ravena Soares  -  07/02/24  -  06:27
Atualizado em 07/02/24 - 09:31
Oléo é produzido em laborátorio de São Vicente
Oléo é produzido em laborátorio de São Vicente   Foto: Alexsander Ferraz/AT

“Ele melhorou, não assim 100%, mas deu uma boa melhorada porque ele era bem agitado e agressivo”, diz Maria Aparecida Champoski Chrespim, de 56 anos, avó de Pedro Henrique Champoski de Almeida, de 11 anos, autista nível de suporte 1, que faz uso de canabidiol, por meio do Núcleo de Atenção à Saúde e Cuidados Integrativos (Nasci).


Atualmente, o instituto é o único do Litoral de SP a produzir o óleo à base de cannabis. Sua sede fica no Instituto Articulação de Tecnologias Sociais e Ações Formativas (Adesaf), em São Vicente, e desde sua fundação, em abril de 2023, mais de 570 pessoas já foram atendidas gratuitamente, e mais de 280 óleos à base de maconha foram produzidos para tratamento de doenças e transtornos.


Para Maria Aparecida, ver o neto, que cria como filho, mostrar uma melhora em sua rotina foi muito satisfatório. À reportagem de A Tribuna, ela contou que o menino fazia uso de cerca de seis medicações por dia. Com a chegada do óleo, os remédios foram reduzidos para dois. “Eu espero e acredito que logo ele passa para apenas uma medicação ao dia”, diz, esperançosa.


Atualmente o menino toma o canabidiol, prescrito por um médico, três vezes ao dia. Uma em cada período do dia. Assim como Maria Aparecida e Pedro, outras famílias tiveram a vida transformada por meio do canabidiol. A Tribuna já compartilhou outras histórias. Clique aqui e leia.


Maria e Pedro tiveram a vida transformada pelo canabidiol
Maria e Pedro tiveram a vida transformada pelo canabidiol   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Produção

A produção é 100% realizada pelo instituto, que conta com uma equipe ampla de profissionais, como farmacêuticos, biólogos, assistentes sociais, médicos e uma colhedora canábica.


De acordo com o jardineiro e assistente social Márcio de Lima, que atua no plantio da cannabis medicinal em um local sob os cuidados do Instituto, o processo é lento e demorado. “Mas vemos os resultados. Além da parte técnica, também colocamos muito amor no que estamos fazendo, um carinho que faz toda a diferença”, explica.


São muitos os cuidados que as plantas recebem até chegarem à casa dos pacientes. Por se tratarem de remédio, não podem ser ‘infectadas’, acumularem metais pesados ou outros componentes que façam mal ao ser humano. Como um cuidado extra, elas crescem ouvindo músicas selecionadas pelo jardineiro e, segundo a equipe do instituto, "isso faz toda a diferença".


O biólogo e coordenador do núcleo de políticas e ações sobre drogas do instituto, Marco Mion, também explica que o processo é demorado. "É por isso que o produto também é caro, no final das contas. Para entregarmos um óleo na casa de um paciente, a gente germinou uma semente, colocou essa semente em estágio de vega, depois essa planta passou por um estágio de flora e houve a colheita, a secagem, extração, diluição e envasamento. É um processo muito longo para o óleo chegar na casa do paciente”, explica.


Processo

Após o processo de plantio, é extraído o extrato da maconha e encaminhado ao laboratório do instituto, onde é transformado em canabidiol. Todo o processo é manual, e a produção ocorre aos sábados, com um farmacêutico especializado.


Em julho de 2023, A Tribuna foi até o instituto e acompanhou a sua construção, que ainda aguardava autorização judicial para o funcionamento. Desta vez, a Reportagem foi até o local e acompanhou de perto todo o processo de produção do canabidiol.


Ao todo são produzidos oito tipos de óleos, dois deles destinados a cães e gatos que levam o nome de ‘Adesaf Pet Caramelo’, em homenagem ao cachorro mais amado do Brasil, segundo o instituto.


De acordo com Mion, é um privilégio trabalhar com a saúde das pessoas. “Não é só um produto, mas estamos levando qualidade de vida, bem-estar e esperança. Estamos devolvendo noites de sono, tirando a dor das pessoas… Então tudo isso é muito gratificante”, diz.


A produção é manual e ocorre em laboratório dentro do Adesaf
A produção é manual e ocorre em laboratório dentro do Adesaf   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Investimento

Desde abril do ano passado foram investidos mais de R$ 644 mil, entre custos de produção do remédio e os serviços prestados à comunidade por meio do Nasci. Foram realizados 575 atendimentos gratuitos em pacientes entre 4 e 89 anos.


Dos óleos produzidos no instituto, 80% foram doados para pessoas em situação de vulnerabilidade social e apenas 20% custeados, parcialmente, por associados pacientes.


Mais dados

Mais de 50% dos pacientes que fazem uso do medicamento relatam sofrer de Transtorno de Ansiedade. Os demais dividem-se entre depressão, Transtorno de Espectro Autista (TEA), distúrbios de sono, dependência de substâncias psicoativas, síndrome do pânico, fibromialgia e dor crônica, deficiência intelectual, tetraplegia e espondilite.


A presidente e fundadora do Instituto Adesaf, Fernanda Gouveia, vê as conquistas com muita alegria. “Ter um laboratório aqui, e ter transformado isso numa coisa concreta, é extremamente gratificante. Todo dia é uma alegria (...) É um sonho realizado e mais que isso, é um compromisso nosso, porque quando a gente recebe feedback dos pacientes, sabemos que a justiça social está sendo feita por meio do Nasci”, conta.


Para o futuro, Fernanda espera que o atendimento seja ampliado, e que mais pessoas possam ter acesso ao tratamento.


Oléos são embalados e enviados aos pacientes
Oléos são embalados e enviados aos pacientes   Foto: Alexsander Ferraz/AT

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