Sadao Nakai desiste de concorrer à reeleição e demonstra insatisfação com o PSDB

Em seu terceiro mandato como vereador em Santos, parlamentar promete continuar fazendo política: 'Ninguém pode me chamar de desleal'

Por: Maurício Martins  -  22/09/20  -  09:37
Após três mandatos, Nakai não vai mais disputar a reeleição
Após três mandatos, Nakai não vai mais disputar a reeleição   Foto: Alexsander Ferraz/AT

SadaoNakai(PSDB) está em seu terceiro mandato como vereador na Câmara de Santos. Em 2012, foi o parlamentar mais votado da Cidade, com 6.253 votos que o credenciaram para a presidência da Casa, cargo que ocupou no biênio 2013-2014.Foi, ainda, líder do Governo Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) no Legislativo, de 2015 a 2016. Entre janeiro de 2017 e outubro de 2018, assumiu o posto desecretáriomunicipalde Esportes de Santos, atuando também como gestor das praias.


Apesar dos anos de vida pública e de ter um eleitorado cativo,Nakainão tentaráareeleição. Afirma queé uma decisão pessoal e que não tem relação com o contexto político.Mas demonstra insatisfação com oseu partido,que écontrolado pelo prefeito em Santos.Nos últimos anos, foi crítico de projetos que o Executivo enviou à Câmara e chegou a votar contra o Governo.


O vereador pretende se dedicarao Clube Estrela de Ouro, na Ponta da Praia, e à Associação Japonesa de Santos,entidades que preside. Mas deixa claro: vai continuar participando da vida política da Cidade e em breve pode voltar a se candidatar.


O senhor já foi o vereador mais votado, presidiu a Câmara, tem um capital político. Por que, então, resolveu não concorrer novamente?


Foiuma decisão pessoal. Não tem a ver com o contexto político. Foi uma decisão maturada desde a eleição de 2016.Eujátinha sido o vereador mais votado, o presidente daCâmara, concorri para deputado estadual, fui líder deGoverno. Tudo em uma mesma legislatura.Foitudo muito intenso. E ainda teve a eleição municipal, da qual me submeti.Naquele momento, eu fiz uma reflexão,falei para todos que estavam na minha assessoria: se preparem que é o último mandato e vou fazer intensamente.Só que logo no início do mandato, o prefeito me convidou para ser secretário de Esportes. Eu não queria de jeito nenhum. Mas acabei indo em função da minha intenção de ajudar o meu partido, o Governo, a melhorar as questões.


Vereador, para ficar claro, qualfoio principal motivo que o fez desistir da reeleição?


Foi eu ter conversado com minha esposa (risada).Verdade. Havia até a possibilidadede eu sair do partido. Resolvi ficar. Só quenoferiado de 7 de setembro, viajei com a minha esposa e conversei com ela. Ela vê as minhas aflições,de ficar insatisfeito de não conseguir resolver alguns problemas, algumas situações. Isso realmente me afeta, quando eu peço alguma coisa para o Executivo.Precisa agilizar processos lá(na Prefeitura), pô.Pequenas coisinhas acabamprejudicando os munícipes, por uma morosidade administrativa. E isso me afeta muito.Falei que pensava em parar e ela falou que seria a melhor coisa a fazer.


Como foi a experiência na Secretaria de Esportes?


Foi importantíssima.Fui criticado, algumas pessoasdisseram que abandonei o mandato.O papel do vereador não é só produzir legislação.Ele tem que entender toda a máquina pública para conseguir fiscalizar corretamente. Então,era uma oportunidade para conhecer. Tive uma baita deexperiênciana secretaria,que me deu uma visão ao voltarpara a Câmara. Comecei a fazer uma discussão mais aperfeiçoada, por exemplo, nas leis orçamentárias.


Mas o senhor conseguiu fazer o que queria? Era o que esperava? Peloo quepercebi,o senhor enfrentou várias dificuldades naSecretaria deEsportes.


Não sou o tipo de pessoa queesperatodas as condições para trabalhar. É importante trabalhar comoque a gente tem. Lógico, se tivesse o dobro de orçamento que eu encontrei na secretaria,teria feito muito mais.A gente viveu contingenciamento orçamentário, teveobrigações de cumprir doMinistérioPúblico, em relação aoschequinhos(pagamento de prestadores de serviços em cheques, de forma irregular). A gente tinha que eliminar todos oschequinhos.Não acho que perdi tempo, pelo contrário.Posso ter me desgastado politicamente,porque eu enfrentei uma série de conflitos. Quisregulamentar,deixar as coisas certinhas. É um perfil que eutenho.Sefaltou dinheiro, teve criatividade para fazer as coisas acontecerem.Teve um dia que eu esperei o prefeito, para conversar com ele, das 18 horas até às 22 horas. Porque ele tinha dado um alinhamento de cortes. Eu tinha um orçamento aprovado e ele disse: contingencia 15%.Fiquei lá, esperando. E ele falou ‘tem que cortar’. Falei, então se prepara porque vão aparecer aquicincomil munícipes que vão deixar de ter serviço. Isso é bom pra administração pública? Isso é bom paraapopulação?Aí ele disse então fazaí o que você tem que fazer e eu consegui fazer essa transição. Mas é pegar processo debaixo do braço e ir lá. Então, isso desgasta fisicamente, psicologicamente.


Entãohouve um desgastecom o prefeito Paulo Alexandre Barbosa? Porque osenhorsaiu da secretaria mais crítico aoGoverno, votando contra projetos do Executivo. Há alguma mágoa?


Não, não mágoa.Eudefiniqueseria um último mandatoe faria de acordo com as minhas convicções. Quandodiscordei de algumas coisas, foi porque entendia que tinha que teroutracondução. Principalmente em relação às consultas públicas.Ogrande debate quando eu volteipara a Câmarafoicom relação àPonta daPraia(obras de remodelação). Porque faltou debate.Conversei com o prefeito e disse que não abriria mão da minha condiçãodevereador.Nãovou ser desleal no debate, masvou questionar.Não teve nadade eu fazer as coisas semo prefeitoestar sabendo.


Mas o senhor deixou o cargo de secretário pordivergências com o prefeito?


Não. A minha saídadasecretaria teve a ver com o momento dentro daCâmara. Se eu fossecontinuar naSecretaria deEsportes,deixariade votar orçamentos, emendas impositivas. Não participaria de algumasdiscussões que estavam ocorrendo.Então, nãosai pelo simples fato de estar discordando por falta de recursos. Foi um contexto que eu entendi assim: ‘acho que deu aqui’. Eu já entendi como éo Executivo,vou voltar para oLegislativo porque é lá que eu tenho que cumprir o meu mandato.


O senhor gostaria de ser candidatoa prefeito?


Nesse momento, nessa condição, não. Parauma candidatura,eu tenho que estar com o plano de governo pronto, sabendoo que vou fazer emquatroanos,e teruma equipetécnicacomigo paraexecutar.No diaemque tiveressasduas condiçõeseuestareiapto parapleitearnopartidoparasercandidatoa prefeito, antes disso é aventura.


Nuncapleiteouisso,então?


Não. O que eu fiz, em 2016, foi entender que isso era importante(terplano de governo e equipetécnica)parater um debate entre os poderes, entre oExecutivoe oLegislativo. Ter um nortepara aspessoas, para gente ter produtividade aqui dentro(daCâmara). Não ficar discutindoprojetosque sãoinconstitucionaise ficam sendoconduzidosaqui para o prefeito vetar. Isso é perda detempo, élevar falsa imagem deprodutividadeprapopulação.


Há umadecepçãocom os rumos doseupartido,o PSDB,que naCidade é controlado pelo prefeito Paulo AlexandreBarbosa?


Decepção, não. A minha vida partidária começou já com o prefeito Paulo Alexandre estando com uma dasgrandeslideranças dopartido.Sempre foi assim. Eu tentei, realmente, em alguns momentos, levar uma discussão mais aprofundadapara opartido, dividir experiências daCâmaradentro das reuniões. Mas cada partido tem sua diretriz,sua forma de ser conduzida.A minha insatisfação teve a ver com a conjuntura que ocorreu, porque perdemos temponessa briga entre aexecutiva estadual e o diretóriomunicipalnadefiniçãodequem seria ocandidato (a prefeito).Isso gerouinsatisfação.Porque a gente não sabia quem seria ocandidato. Houve umainsegurança.


Vai sair dopartido?


Não sei, nesse momento eu não penso nisso. Mas também não vou dizer que ficarei o resto da vida no partido.Quero focar na minha vida fora.Prefiro me afastar da vida partidária, pública, domandato,por causa dessapriorização da minha vida privada.


O trabalho do vereador também é fiscalizar oExecutivo. Osenhoracha que aCâmara, na atual legislatura, cumpriu esse papel? Vimos muitos projetos doprefeito sendo aprovados de forma veloz.


Umacríticageral,e tenho que concordar, é que muitosprojetos que geram polêmica foram mandados com pouco tempo para discussão.Tenho queadmitirque realmente oGoverno não deu esse tempo de maturação. Usouaprerrogativa de ter umabancada estendida para aprovar os projetos que tinha necessidade(...).Tenhoque ser honesto,não posso deixar virar as costas e teatacar. Lealdade é a gente divergir.Saio com essaconsciência.Ninguém pode me chamar de deslealaqui. Todas ascoisasque eu fiz as pessoas sabiam que eu faria, eu deixava muito claro.Percebe a diferença de motivação que eu tinhaquando oprefeitofoieleito,quandome dediquei de corpo ealma,porque a gente tinha sintoniacomo governador doEstado?E esse final,como chega?Então,nãodápara dizer que saiosatisfeitocom opartido,que vou ficar até morrer, defender com unhas e dentes.


Colaborou BeatrizAraujo


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