Porto de Santos é pilar da economia local e do Brasil

Em meados de 1790, o Porto de Santos passou a exportar o produto que mudaria a história econômica do País

Por: ATribuna.com.br  -  26/01/23  -  19:57
Porto teve papel estratégico na economia santista e brasileira desde a época do império
Porto teve papel estratégico na economia santista e brasileira desde a época do império   Foto: Luigi Bongiovanni / AT

No Brasil Império, o Porto de Santos já era o pilar da economia local e, quiçá, do Brasil. A ideia do que seria o complexo portuário surgiu no século 16, quando a esquadra de Pero Lopes de Sousa – que trazia Martim Afonso de Sousa – aportou no dia 22 de janeiro de 1532 e as âncoras foram lançadas no fundo lodoso do canal onde fica a Praia do Góes. “Ali começa a história, apesar de já haver navios atracando em comércio ilegal desde meados de 1505”, lembra Sergio Willians. “Em 1541, Braz Cubas traz o Porto para as cercanias do atual Centro Histórico, entre o Valongo e o Outeiro de Santa Catarina, para iniciar a primeira exportação, como resultado da primeira atividade econômica do Brasil, que era a açucareira, o plantio de cana-de-açúcar”, completa.


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Em meados de 1790, o Porto de Santos passou a exportar o produto que mudaria a história econômica do Brasil, mesmo depois de enfrentar muitas dificuldades para chegar ao litoral. “O café começa a transitar pelo Porto trazido do Vale do Paraíba por tropas de mulas. Os tropeiros vinham com esse produto do Interior, descendo a Serra do Mar pela Calçada do Lorena (primeiro caminho pavimentado que ligou São Paulo a Santos), chegando assim a Cubatão e, de Cubatão, tomavam barcos até Santos, pois não existia uma ligação seca entre as duas cidades. Eles chegavam até o Rancho Grande, região onde hoje está a Cadeia Velha (Praça dos Andradas). Ali ficava o Rancho dos Tropeiros”.


Com o advento da ferrovia, a partir de 1867, o café começa a ganhar a importância decisiva para a economia do País, porque a quantidade transportada passou a ser muito maior, com nível de perda bem menor (os tropeiros perdiam grandes quantidades durante as viagens). Desse modo, o café transformou a vida do Brasil, de São Paulo e, principalmente, de Santos. “Por isso foi chamado de ouro verde. Toda a pujança do Centro Histórico se deveu ao café, representado no brasão de armas de Santos. No suporte são ramos de café que suportam nosso escudo”, conta o historiador. O Porto passa a ser exportador de café, mas também de algodão, que vinha do Interior, e de tabaco, enquanto trazia sal do exterior. Outros navios vinham com centenas de passageiros principalmente de países como Portugal, Espanha e Itália.


“A partir da segunda metade do século 19, o Porto se torna a porta de entrada de toda a imigração brasileira ou quase toda. São Paulo era uma província que já começava a se industrializar e tinha mais atrativos de oferta de mão de obra. E o café era produzido em São Paulo, sul de Minas Gerais e Paraná”.


Movimento sindical
Os trabalhadores que chegavam ao Porto, de acordo com Sergio Willians, traziam preceitos políticos da anarquia. E existia entre esses imigrantes um sentimento e uma consciência coletiva muito fortes pela defesa dos direitos das pessoas e das categorias. Tudo isso provocava intensas mobilizações.


“Quando falamos das categorias do Porto de Santos, lá no século 19, estamos falando de carroceiros, carregadores de sacas de café, que eram os estivadores, e essas pessoas lutavam pelos seus direitos. Então, havia vários embates contra o governo e isso foi tornando Santos uma cidade com essa característica de contestar. Santos tinha figuras públicas, formadores de opinião que lutavam por preceitos da época. Eram abolicionistas e republicanos. Toda essa inquietação do santista fez com que a Cidade ficasse marcada ou vista pelo status como um Município que brigava por seus direitos”.


Obviamente, os governantes não gostavam. Santos passou até a ser chamada de Cidade Vermelha e pagou pela fama. “Quando os regimes do País foram de intervenção ou frutos de um golpe de Estado, Santos, por sua postura ideológica e a estratégica posição no cenário nacional como um porto de escoação do produto brasileiro (o Porto movimenta boa parte do PIB), deixou o governo preocupado com os rumos da Cidade; então, ele intervinha, cassava prefeitos e não permitia que o Município elegesse os seus representantes”.


Um dos momentos mais emblemáticos aconteceu durante o governo militar de 1964 a 1985. Santos sofreu intervenção e passou a ter prefeitos nomeados. Iniciava-se, assim, uma luta pela autonomia da Cidade.


“Santos, em momentos críticos da história nacional, era castigada por todo o seu arcabouço de contestação. E a luta pela autonomia é uma imagem histórica do Município”.


Se a luta pela autonomia é motivo de orgulho, o santista pode ficar feliz por tudo o que a Cidade representa, por seu valor histórico e por também ter feito história. Um momento crucial poderia ter acontecido em Santos. Outros tiveram seu início no Município, mesmo que de passagem.


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