Mulher trans se diz vítima de discriminação após ser cobrada como homem em bar de Santos

Valor da comanda era de R$ 15 para mulheres e R$ 30 para homens

Por: Natalia Cuqui  -  08/01/22  -  07:08
Atualizado em 08/01/22 - 09:50
Milena relatou que foi cobrada como homem na entrada de um bar em Santos.
Milena relatou que foi cobrada como homem na entrada de um bar em Santos.   Foto: Arquivo Pessoal/Milena Augusta

Uma mulher transexual acusa um bar do bairro Gonzaga, em Santos, de discriminação ao ter sua comanda cadastrada com o valor cobrado para homens. O caso aconteceu na noite da última quarta-feira (5) no Six Sport Bar, que publicou uma nota de esclarecimento nas redes sociais no começo da tarde desta sexta-feira (7).


Milena Augusta da Silva contou à A Tribuna que foi muito bem recebida na entrada da casa, mas, ao cadastrar a comanda de consumação, foi discriminada por uma funcionária.


"Pediram meu documento e a moça falou assim 'no final vc paga os 30'. Perguntei: 'mas como pago 30 se mulher paga 15?' e ela respondeu que no documento consta que eu sou homem. Eu falei 'mas o que você está vendo na sua frente?' e ela disse "estou vendo uma mulher, mas para mim você é um homem, porque é o que consta no seu documento'", contou Milena.


Ela afirma que sua reação foi pedir o documento de volta para ir embora. Foi então que a funcionária pediu desculpas e afirmou que trocaria a comanda. "Ela me pediu desculpas e disse 'vou mudar para o preço das mulheres, mas o que consta no seu documento é que você é homem'. Ou seja, me pediu desculpas e atacou novamente. Fiquei tão em choque que não sabia o que fazer, o que falar", desabafou.


Milena explica que, apesar do episódio, se divertiu na casa e que outros funcionários foram muito educados. "Não vou negar, curti a noite. Mas a questão é que eu não posso dizer isso da casa toda, seria injusto e uma coisa que eu não sou é injusta. Não posso crucificar a casa, mas o que eu passei, passei ali dentro com um funcionário deles".


Já em outro local, Milena chegou a publicar um vídeo nas redes sociais onde aparece chorando e contando sobre o episódio que havia acontecido no bar do Gonzaga, marcado na publicação.


"Eu não planejava postar aquele vídeo nas redes sociais. Fiz porque era um momento meu, eu estava triste e pensei 'não acredito que passei por isso'. Em vários momentos da noite aquilo vinha na minha cabeça. Nunca ia querer me expor desse jeito, não gosto de ficar aparecendo assim, mas eu precisava falar, e como passei por isso dentro da casa deles, tinha que marcá-los sim", disse.

Ela continua: "Eles são os responsáveis pelos funcionários e uma funcionária deles me maltratou, me discriminou dentro da casa. Então, é dever deles responder por isso. Me mandaram uma mensagem muito bonitinha dizendo que a casa é aberta a todos, mas não foi isso que foi me passado lá".


Mudança de documentos

Milena nasceu e cresceu em Santos, mas atualmente vive na Itália. Ela passou por uma cirurgia de mudança de sexo recentemente e veio para o Brasil para mudar seus documentos e, também, para se recuperar do procedimento ao lado da família. Ela afirma que essa foi a primeira vez que passa por um episódio de discriminação.


"Meu intuito de vir ao Brasil foi para mudar meus documentos, porque aí na Itália posso mudá-los também. Por incrível que pareça nunca tinha passado por isso e por nenhum outro tipo de constrangimento. Tanto que fiquei sem reação e cheguei a pensar 'será que ela está certa e não tem conhecimento e eu que estou errada?'", desabafa.


Posicionamento do bar

Em nota publicada nas redes sociais, o Six Sport Bar afirma que o episódio de fato aconteceu, mas que os funcionários se desculparam imediatamente e atribuíram a ela o gênero correto no cadastro.


"Sabemos que a vontade e o íntimo do ser humano é que devem se sobrepor a quaisquer documentações, sejam estas quais forem, mormente (principalmente), no que tange a escolha de seu gênero e nome social" diz parte da nota.


A casa ressalta também que "nunca fez, não faz e nem nunca fará, qualquer diferença quanto a ideologias de gênero, cor, etnia ou alguma outra que seja, afinal, tratamos o ser humano pelo que ele é, por como se vê e se sente, respeitando a todos, de forma igual, como deve ser feito".


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