Cadeirante de Santos é impedida de tomar vacina por não receber auxílio do governo: ‘Um Absurdo'

Por não ser usuária do BPC, Andréa precisou atestar outra comorbidade pra vacinar. Prefeitura diz seguir plano estadual

Por: Ágata Luz  -  01/06/21  -  12:50
Atualizado em 01/06/21 - 12:54
      Andréa perdeu grande parte dos movimentos após sofrer um assalto
Andréa perdeu grande parte dos movimentos após sofrer um assalto   Foto: Arquivo/Davi Ribeiro e Acervo Pessoal

Há 25 anos, Andréa de Lima Azevedo sofreu um assalto, foi baleada três vezes e precisou mudar a vida drasticamente, já que ficou tetraparética (com perda incompleta de movimentos). Hoje com 52 anos, a empresária possui uma deficiência física permanente. Porém, esta não foi razão suficiente para que Andréa recebesse a vacina contra a Covid-19 em Santos. “Motivo: não tinha BPC [Benefício de Prestação Continuada]” explica a irmã, a psicóloga Monica de Lima Azevedo, de 62 anos.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


“Isso é um absurdo. Ela não anda, tem movimentos extremamente reduzidos de braços e pernas, depende de cuidados para higiene, alimentação e atividades de vida diária”, desabafa Monica. Segundo ela, Andréa foi até a Igreja Universal na Avenida Ana Costa procurar a vacina no dia 21 de maio.


“Foi tomar vacina com dificuldade imensa pra sair de casa. Apresentou CPF, comprovante de residência e o benefício por morte de meu pai, uma vez que, por ela ser deficiente e dependente dele, teve direito”, explica Monica. Apesar disso, a empresária foi impedida de receber o imunizante. Porém, a psicóloga explica que Andréa não recebe BPC, pois possui boas condições financeiras, além do benefício por morte do pai. “No Brasil a gente não pode ter dois benefícios”, ressalta.


Além de tetraparesia, a empresária possui doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) decorrente do assalto, desta forma, ela conseguiu ser imunizada apenas após três dias, quando foi até a Arena Santos com um atestado médico e recebeu a vacina. “Tivemos que ir ao médico pedir atestado para uma coisa que é evidente. É falta de consciência”, relata Monica sobre a ida ao especialista no mesmo dia em que Andréa foi impedida de receber a imunização.


“Imagina uma pessoa que não tem condições financeiras ou de ir ao médico? Isso é ‘burrocacia’. Até quando?”, questiona Monica. “Será que ao ver uma pessoa numa cadeira de rodas, que não mexe do pescoço para baixo, e se decide não vacinar porque ela não tem o benefício, não estamos deixando de olhar o ser humano?”, finaliza a psicóloga.


Respostas


ATribuna.com.br entrou em contato com a Prefeitura de Santos, que enviou uma nota confirmando que a vacinação é apenas para pessoas que recebem o BPC. Leia na íntegra:


“A Prefeitura de Santos esclarece que oferece a vacina contra a covid-19 apenas para as pessoas com deficiência que recebem o BPC, de acordo com a determinação do Governo do Estado de São Paulo a todos os municípios, conforme previsto no Documento Técnico de Vacinação contra a covid-19.”


A reportagem ainda procurou o Ministério de Saúde, que enviou outra nota. Leia na íntegra:


"O Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19 (PNO) elaborado pelo Ministério da Saúde estabelece uma ordem de vacinação para os grupos prioritários. A seleção das populações com prioridade na imunização foi baseada em princípios da Organização Mundial da Saúde (OMS), discussões com especialistas no âmbito da Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis e feita em acordo com entidades como o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

O Ministério da Saúde esclarece a importância de estados e municípios seguirem a ordem de vacinação recomendada pela pasta. É importante ressaltar que o PNO está em constante atualização e que os gestores locais do SUS têm autonomia para definir a estratégia local de vacinação, conforme o avanço da campanha."


Procurada por ATribuna.com.br, o Governo do Estado também se manifestou. Leia:


"O Programa Estadual de Imunização (PEI) está imunizando neste momento contra Covid-19 todas as pessoas com deficiência que recebem benefício de prestação continuada (BPC) acima de 40 anos em todo o estado.

São Paulo tem o compromisso de vacinar o maior número possível de pessoas contra Covid-19, no entanto para isso depende do envio de mais doses por parte do Ministério da Saúde. A medidas que mais vacinas forem encaminhadas pelo Programa Nacional de Imunização do órgão federal, mais públicos serão incluídos na campanha, incluindo as pessoas com deficiência que não recebem BPC."


Logo A Tribuna
Newsletter