Uma aventura digna de filme. Dois argentinos e suas duas filhas resolvem tirar um ano sabático para realizarem o sonho de cruzar o continente americano, do país portenho até o Alasca. Mas não é filme, não; trata-se de pura vida real e vai virar um livro, escrito por eles mesmos, com relatos diários de tudo o que estão vivendo nas estradas sul americanas.
Os protagonistas da cruzada são a camareira Ari Yuri, de 28anos, e seu marido, o chefe de cozinha Lucas Martín, de 33. Além das suas duas filhas, claro, Candela e Uma, de 4 e 2 anos, respectivamente. Na terça-feira passada, os quatro chegaram a Santos, estacionando sua van na avenida da praia, próximo à Rua Olavo Bilac, na Pompeia. Até a próxima terça-feira, o calçadão santista será o lar deles.
“Começamos a viagem no dia 2 de junho. Saímos de San Pedro (província de Buenos Aires) em direção ao Chile, passando pela Bolívia, até chegarmos aqui. Estamos muito, muito felizes com a receptividade do povo santista. A alegria e o amor. Foi uma surpresa enorme”, diz Martín.
Os viajantes largaram tudo na Argentina. Alugaram a casa, juntaram dinheiro e começaram a viagem. Para complementar a renda, vendem lanches ou até mesmo serviços, de acordo com o local onde estão. Em Santos, fizeram um amigo que mora em frente à praia e ele arruma alguns carros para Martín lavar.
Os quatro comem pela praia mesmo. Tomam banho como podem e lavam roupas usando o que têm em mãos. Aqui, estão aproveitando até mesmo os chuveiros da praia. Dentro da van, um varal foi improvisado para a roupa secar. Há cobertores e itens básicos. O que for necessário eles pegam pelo caminho.
O casal já passou pelo Deserto do Atacama, pela Cordilheira dos Andes e pelo famoso Salar de Uyuni, na Bolívia. Eles entraram no Brasil pelo Mato Grosso do Sul, passaram por Campo Grande e por Bonito até chegarem à Baixada Santista. “Ficamos impressionados com a praia. As meninas estão se divertindo muito, porque nunca haviam entrado no mar”, diz Ara.
A ideia é viajar o ano inteiro. Eles dizem que era um sonho da família fazer isso, tanto que havia um planejamento para a aventura desde antes do nascimento das meninas. Quando elas atingiram uma idade em que era possível viajar, os pais botaram o pé na estrada.
Percalços
Infelizmente, nem tudo são flores. Os argentinos tiveram que retornar antes do previsto da cordilheira, porque Ara pegou uma gripe muito forte, chegando a ficar internada e com falta de ar, devido à alta pressão do local.
Por aqui, tiveram um prejuízo de mais de R$ 1 mil, pois foram roubados. “Nos levaram US$ 100,00 e também R$ 700,00. Mas não ficamos tristes. Fomos muito bem recebidos em Santos. Podem ter nos roubado, mas recebemos em dobro por meio da ajuda das pessoas. Elas sempre param e nos perguntam de onde somos e para onde vamos. Digo que um sonho não tentado é uma vida perdida”, diz Martín.
Todos mantêm um sorriso enorme no rosto e a placa que carregam consigo resume bem o ideal de vida: “Se um plano não funciona, mude o plano, mas nunca mude a meta”.