Aposentada de Santos comemora absolvição após ter documentos usados por traficantes internacionais

Sonia Regina Santos Silva, de 58 anos, teve alguns documentos pessoais anotados em pacote com 106 gramas de cocaína enviado ao Reino Unido

Por: Brenda Bento  -  15/04/21  -  11:52
Aposentada Sonia Regina Santos Silva e o advogado Fabricio Posocco
Aposentada Sonia Regina Santos Silva e o advogado Fabricio Posocco   Foto: Arquivo Pessoal

Você já imaginou ter os documentos furtados e anos depois ter os dados pessoais usados para o envio de uma porção de drogas ao exterior por meio do Correios? Essa é a situação que a aposentada Sonia Regina Santos Silva, de 58 anos, viveu em Santos. Ela foi acusada de tráfico internacional de entorpecentes e precisou provar a inocência na Justiça. A sentença de absolvição saiu na quarta-feira (7).


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


O advogado de Defesa Fabricio Sicchierolli Posocco disse à ATribuna.com.br que a cliente foi acusada pelo Ministério Público Federal de ter enviado 106 gramas de cocaína ao Reino Unido. Por causa dessa acusação, a Polícia Federal abriu uma investigação e apurou que o pacote teria sido postado por ela em um agência dos Correios de Santos. A droga foi interceptada, rastreada e foi feita uma análise que constatou que alguns dados do pacote eram da cliente.


Segundo o advogado, a PF intimou ela, começou a investigar e analisar a grafia da Sonia e, por meio de uma perícia, a PF constatou que foi ela mesma quem teria redigido as letras que estariam no pacote e por conta disso seria responsável pela remessa de droga ao exterior.


"Nós fomos contratados pela Dona Sonia para fazer a Defesa dela e em um primeiro momento nós observamos que algumas coisa já não estavam muito corretas. Na medida em que alguns dados que se encontravam no pacote e nos documentos e nas informações que o Correios tinha já não conferiam com os dados corretos dela", explicou Posocco.


De acordo com o advogado, ao observarem o laudo pericial da PF que foi feito sobre a grafia dela, eles perceberam algumas inconsistências. "Acabamos contratando uma perícia particular que, fazendo a análise dessa grafia, demonstrou que existiam essas incosistências também na escrita da dona Sonia, demonstrando na verdade que as letras do pacote não foram emanadas do punho dela."


Ele explicou que ela não chegou a ser presa uma vez que no início do processo já que não se encontraram elementos que justificassem a prisão dela, portanto, a aposentada respondeu todo o processo em liberdade. "Para um cidadão comum ir até a PF e ser acusado de tráfico internacional de entorpecentes, um crime que varia de 5 a 15 anos de prisão, é algo extremamente complicado para grande parte da população."


Vítima do furto


Sabendo dessas informações, a defesa continuou buscando coisas que comprovassem a inocência da Sonia e descobriu que em 2015 ela teve os documentos pessoais furtados e que isso já havia causado diversos problemas para ela, como a abertura de uma conta fraudulenta no Banco do Brasil, abertura de vários cadastros em empresas de consumo, entre outros.


"Ela na época entrou com ação na Justiça onde ficou reconhecida a existência dessas fraudes, ou seja, tudo aquilo que aconteceu com ela em 2015, a abertura da conta no banco, abertura de cadastros e da confecção de compras feitas no nome dela também eram fraudulentas", afirmou o advogado.


Com toda a documentação comprovando as fraudes e a nova perícia da grafia, o juíz da 5º Varal Federal de Santos acabou sendo, segundo o advogado, extremamente sensível aos argumentos e absolveu Sonia por falta de provas. "O Ministério Público não conseguiu provar que ela efetivamente era responsável pela remessa da droga ao exterior."


'Fiquei perplexa'


Em entrevista à ATribuna.com.br, a aposentada contou que ficou perplexa quando foi informada que estava sendo acusada de tráfico internacional de drogas. "Tive meus documentos roubados há uns anos e recebi uma notificação para comparecer na Policia Federal, não entendi ao certo, mas compareci sem problema algum."


Sonia contou que ao chegar na delegacia foi comunicada da acusação e solicitaram que ela assinasse alguns papéis e questionaram quem era Nicole (a destinatária) do pacote. "Eu nem se quer sabia dos fatos. Fiquei muito nervosa com tudo, pelas acusações e por ter meu nome envolvido em um caso assim."


Com a sentença de absolvição, ela disse que a sensação é gratificante. "Ser acusada de uma coisa que você não cometeu é horrível. É desgastante. Eu não tive medo de ser injustiçada porque tenho certeza da minha inocência e o trabalho e paciência do meu advogado me acalmaram bastante"


A aposentada por invalidez contou que achou absurdo a perícia da PF ter apontado que a assinatura era dela, pois era notória a diferença da grafia. "Espqero que agora a Justiça se empenhe a encontrar os verdadeiros culpados e que os mesmos paguem".


"Essa situação ela nunca participou disso, ela nunca teve nenhuma ligação com isso, dona Sônia é uma senhora, aposentada, tem bons antecedentes, tem uma família estruturada, então ela nunca teve nenhuma relação com o mundo do crime", afirmou Posocco.


'Situação muito comum'


"Na verdade, não que o caso seja comum, a tentativa de remessa de drogas pelo Correios é muito comum de acontecer, isso é fato. E muitas pessoas acabam se utilizando de documentos de outras pessoas para poder fazer isso", explicou o advogado.


Ele reforçou que o diferencial desse caso foi a contratação da perícia particular para demonstrar efetivamente que havia um sério problema com o laudo da PF. "Apesar [do laudo] demonstrar algumas inconsistências, a gente observava que a letra não era parecida com aquilo que foi colocado como se fosse da dona Sonia."


A reportagem de ATribuna.com.br perguntou ao advogado o que as pessoas devem fazer em situações de furto ou roubo de documentos e quais precauções tomar para evitar problemas parecidos com os que aconteceram com a dona Sonia, veja o que ele disse abaixo:


"A primeira coisa efetivamente é fazer um boletim de ocorrência é muito importante. A Dona Sonia em 2015 ela fez um boletim de ocorrência para poder demonstrar esses problemas que existiu, tanto que ela teve que mover processos judiciais para que ficassem constatado junto aos bancos e outras empresas que não era ela que tinha aberto conta fraudulenta, que não era ela que tinha movimentado valores, toda uma situação complicada. O boletim de ocorrência foi extremamente importante", disse.


O advogado também recomenda para as pessoas que se veem em situações como essa a além de fazer o boletim de ocorrência também procurar um advogado de confiança ou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para uma orientação jurídica adequada.


"Não apenas fazer o boletim de ocorrência, mas comunicar essa ocorrência efetivamente nas plataformas específicas, se possível, dependendo da situação ter ficado extremamente complicada, comparecer aos órgãos específicos para poder fazer um novo documento, não simplismente tirar a segunda via do seu RG, mas sim estar esclarecendo o motivo desse problema para se ter um novo RG, inclusive, se for o caso. A Lei permite que em situações como essa venham a ocorrer quando a gente tem esse problema relacionado à fraude de documentos, ao furto de documentos", recomendou.


Danos morais


O advogado afirmou que vai analisar em conjunto com a cliente todas as situações específicas e o que todo esse processo causou efetivamente a ela, se ela teve algum prejuízo tanto de ordem material quanto moral e se ficar efetivamente constatado buscar a indenização efetiva perante à Justiça.


Já a aposentada contou que a sentença saiu recentemente e que ela está com Covid-19, por isso ainda não conversou pessoalmente com o advogado em relação aos danos morais.


"O que eu mais queria aconteceu, foi a minha absolvição e poder seguir com a minha vida de cabeça erguida. Essa situação causou muita dor de cabeça e preocupação. É triste saber que há pessoas que são capazes de tudo para prejudicar alguém, mas graças a Deus deu tudo certo e sou grata a todo amparo, dedicação e carinho do Dr. Fabricio Posocco", finalizou Sonia.


Logo A Tribuna
Newsletter