Alunos de Santos lotam banco de sangue de hospital com doações para professores com Covid-19
Foram tantos voluntários, entre alunos, ex-alunos e funcionários, que foi necessário agendar horário para doações
Uma ação de empatia e solidariedade repercutiu nas redes sociais nas últimas semanas: dois professores universitários de Santos precisaram de doações de sangue devido a complicações causadas pela covid-19. O que as famílias não esperavam é que essa corrente manteria o estoque de sangue da Casa de Saúde de Santos abastecido por bastante tempo. Foram tantos os voluntários que foi necessário agendar horário para doações.
Essa corrente do bem reuniu mais de 80 pessoas, entre alunos, ex-alunos, funcionários das universidades onde eles lecionam, professores e parentes. O grupo Sangue013, com quase 400 membros no Facebook, ajudou a divulgar os pedidos de doação aos professores. Cris Mossini, mulher do professor Fábio Mossini, se disse emocionada. “As faculdades onde ele dá aula fizeram uma campanha enorme. Mais de 200 pessoas compartilharam nas redes sociais e recebemos até carta de agradecimento do hospital onde o Fábio estava internado. Ele aguardou um leito por quase cinco dias, ficou mais de um mês internado, 19 dias intubado, e agora está só em recuperação motora”.
Ela não sabia que pacientes de coronavírus precisavam de doação de sangue e se preocupou quando soube que se contaminou no trabalho, no Porto. O casal tem um bebê e, por isso, o isolamento em casa não foi fácil. Durante a internação, os rins de Fabio estavam entrando em falência e ele precisou de duas bolsas de sangue.
Vitória
Mossini sentiu os sintomas da covid em 3 de março, foi internado seis dias depois e não se lembra de nada que ocorreu entre 9 e 30 de março. Venceu a batalha contra o coronavírus e teve alta em 11 de abril. Hoje, ele faz questão de agradecer pela nova chance e dá um recado a quem ainda nega a gravidade da doença, que já matou mais de 400 mil brasileiros.
“Passei o aniversário da minha esposa e da minha mãe intubado. Na UTI, fiquei isolado. Recebi orações, preces e me emociono até hoje. Eu espero que isso alerte as pessoas. 400 mil mortos equivalem a uma cidade que desapareceu”.
Houve fila
O professor Gerson Prando também ficou internado e precisou de doações. Para ajudá-lo, quem reuniu voluntários foi o também docente Julio César Raymundo, coordenador do curso de Gestão Portuária da Faculdade de Tecnologia Rubens Lara (Fatec), de Santos, e ex-aluno de Prando.
“Eu conversei com um grupo de alunos e estagiários. Aí, passamos as informações para o pessoal de Comunicação da faculdade e começamos a compartilhar. Teve aluno que chegou a esperar quatro horas para poder doar e outros que foram para o hospital mesmo durante o lockdown”.
A professora Adélia Saraiva foi uma das doadoras e contou que Prando está na Fatec há 35 anos, formou todas as turmas da faculdade e é muito querido pelos alunos, a exemplo de Fabio. Ela afirmou que eles trabalham “bem próximos à comunidade e aos alunos”.
Prando passou 34 dias na UTI, foi intubado e passou por uma traqueostomia. Teve alta no último dia 29 e agradece a todos que se uniram para ajudá-lo. “Eu teria que voltar duas ou três encarnações para agradecer a quem tirou 40 minutos do dia para fazer doações. É assim que a gente vê quem são as pessoas que gostam de você”.
Lição
Muito antes de ser beneficiado pela corrente do bem que encheu o banco de sangue da Casa de Saúde, o professor Fábio Mossini sempre teve o costume de pedir aos alunos formandos para que doassem sangue antes de encerrar o ciclo universitário. “Faço isso há cinco anos. Vou com os alunos e depois almoço com eles”.
