Soldado da PM de Praia Grande acusa tenente-coronel de abuso sexual e ameaça de morte; ÁUDIO

Em entrevista à ATribuna.com.br, Jéssica Paulo do Nascimento, de 28 anos, descreveu a perseguição sofrida

Por: ATribuna.com.br  -  27/04/21  -  21:04
          Soldado da PM de Praia Grande acusa Tenente Coronel de abuso sexual e ameaça de morte
Soldado da PM de Praia Grande acusa Tenente Coronel de abuso sexual e ameaça de morte   Foto: Arquivo Pessoal

A Soldado da Polícia Militar Jéssica Paulo do Nascimento, de 28 anos, precisou mudar da capital paulista para Praia Grande para começar uma nova vida após ser alvo de perseguição, assédio moral e sexual, além de ameaças de estupro e morte por parte de um Tenente Coronel da PM.


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Jéssica contou à reportagem de ATribuna.com.br que tudo começou em 2018 quando ela trabalhava na Força Tática do 50° BPM na Zona Sul de São Paulo, no setor de comunicação social da PM. Na época, ela já era casada com um também soldado e já tinha dois filhos.


Segundo ela, no mesmo ano, o Ten Cel chegou para comandar o batalhão e, por isso, foi em todas as companhias para se apresentar e conhecer o efetivo. A partir daí, o problema começou na vida da Soldado.


"Ele me assediou, me chamou para sair, só que até então foi uma coisa que acontece corriqueiramente na Polícia. Falei para ele que era casada, que não ia rolar, dei um corte nele, inclusive, ele é casado também, falei que não queria e pronto", disse a vítima.


Após as negativas, o Ten Cel começou a perseguir a vida da Soldado na PM. "Comecei a passar por problemas, queria fazer um curso para Bombeiros e ele não permitiu. Eu queria sair do Batalhão para ir para outro e ele não deixava e me colocou em uma companhia extremamente longe de onde eu morava, era quase uns 40 km de distância."



Assédio moral


Com os problemas, Jéssica tentou sair do Batalhão e marcou uma reunião com o Ten Cel para conversar com ele sobre o pedido de mudança, mas ela foi humilhada por ele na frente de outros profissionais.


"Ele me recebeu, na sala dele tinha uns quatro policiais, ele me humilhou na frente deles, me comparou com uma vagabunda, falou que carioca é tudo ladrão, tudo vagabundo", relembrou a Soldado.


Como forma de se afastar do assédio, Jéssica pegou férias e, em seguida, uma licença fornecida pela psiquiatria da PM para ficar um tempo longe da polícia, mas chegou um momento, após seis meses de licença, em que ela não conseguiu mais afastamento. "Quando eu vi que não estava mais dando para pegar, que não tinha mais jeito, resolvi pegar uma licença sem vencimento em que a gente não recebe durante dois anos."


Mudança de cidade


Ela e o marido resolveram mudar para Praia Grande, litoral de São Paulo, para começar uma nova vida longe das ameaças e assédio. Após o período de dois anos da licença, a Soldado teve que retornar ao trabalho em abril deste ano.


"Quando a gente retoma da licença sem vencimento, geralmente, eles dão preferência para que você retorne ao local que você já estava trabalhando, ou seja, teria que retornar lá para a Zona sul, mas eu moro em Praia Grande, sou casada, tenho filhos aqui, meu marido trabalha aqui, não tenho mais como trabalhar lá", contou.


'Começou o inferno'


Ela precisou retornar à SP para conversar com a administração do Batalhão onde trabalhava, mas precisaria da autorização do Ten Cel para que a transferência do local acontecesse. Jéssica conversou com a secretária do Ten Cel e explicou toda a situação.


Após isso, sem saber como ele conseguiu o contato dela, em 25 de março 'começou o inferno', conforme ela mesma descreveu.


"Ele começou a entrar em contato comigo, ele me ligou, uns palavreados bem pesados. Eu já vi que ele estava com certa maldade, liguei para meu advogado, expliquei a situação, ele foi me orientando, não dar liberdade, para ir conversando até ver onde ele vai para ter provas."


A Soldado foi ameaçada de estupro, morte, entre outras humilhações conforme mostram os prints das conversas entre ela e o Ten Cel pelo WhatsApp. Segundo ela, são mais de 89 conteúdos entre prints, áudios e fotos (confira no vídeo acima).


Últimas mensagens


Em 1° de abril, véspera do feriado de Sexta-Feira Santa, ela foi até a Corregedoria da PM denunciar o Ten Cel após combinar com ele de ir no dia seguinte ao Departamento Pessoal (DP), que é o local onde as transferências são realizadas, sob promessas de que iria transferir ela para o Litoral.


Após entrar em contato com um amigo que trabalha no local e confirmou que o DP estaria fechado, Jéssica confirmou com o Ten Cel se realmente deveria ir, pois estaria fechado e ele foi se entregando, falando pra ela ir ao local, chamou para ir para um motel, só que como ela já tinha denunciado ele, a Corregedoria estava acompanhando a conversa.


Com a denúncia na Corregedoria, o Comando Geral viu a situação da Soldado e, finalmente, transferiram ela para uma companhia no bairro Ocian, em Praia Grande.


Sonho destruído


A Soldado resolveu denunciar os assédios e ameaças, pois ficou com muito medo. "Fiquei com pânico, o que me motivou foi o medo, eu conheço o sistema até por ser policial, é muito fácil ele mandar fazer alguma coisa comigo e a Polícia passar pano e [dizer] que por ser policial eu morri. Vou jogar isso para frente para as pessoas ficarem sabendo, como forma de proteção."


Jéssica contou à reportagem de ATribuna.com.br que o ato de denunciar encorajou outras vítimas a o denunciarem também. Segundo ela, o mesmo Ten Cel está sendo investigado por outros dois ou três documentos no mesmo teor.


O sonho de adolescente em se tornar PM, virou pânico na vida da Soldado. "Eu tinha esse sonho quando era adolescente, eu pensava que era uma coisa, na verdade é totalmente diferente quando você entra. Hoje não tenho mais vontade, não tenho mais desejo. Eu perdi totalmente o tesão de continuar na polícia, estou estudando, me formando em farmácia porque não tenho mais desejo de continuar na polícia porque é muito machismo e abuso de poder."


"Eu não me sinto mais segura, ele pode deixar a poeira baixar e como qualquer policial que trabalha na rua está sujeito a morrer a qualquer momento, ele vai me matar, aí vai aparecer na nota da Polícia que eu estava na rua, troquei tiro com bandido e morri. Minha vida vale mais, hoje prezo pela minha vida, minha liberdade e ver meus filhos crescerem também, isso que é importante", finalizou.


A defesa da Soldado, o advogado Sidney Henrique, explicou à ATribuna.com.br que foi peticionado para o Corregedor pleiteando para que ele represente pela prisão preventiva do investigado.


Segundo o advogado, na mesma petição foi solicitado medidas protetivas para Jéssica e a família dela, evitando que o Ten Cel se aproxime da vítima.


Além disso, foi solicitado que a Soldado seja transferida para uma companhia mais próxima à residência dela para evitar que ela se desloque tanto por questões de segurança. Todos esses pedidos estão sob análise do Corregedor.


O que diz a PM


Em nota, a Polícia Militar esclareceu que recebeu a denúncia e imediatamente instaurou um inquérito policial militar para apurar rigorosamente os fatos.


Ainda de acordo com a PM, o Ten Cel foi afastado do comando do Batalhão e a investigação é conduzida pela Corregedoria da PM e que os fatos são sigilosos, conforme a legislação.


A reportagem de ATribuna.com.br entrou em contato com o Ten Cel, mas não obteve retorno até a publicação.


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