Homem atropelado enquanto dormia nas ruas de Praia Grande ganha lar e pede emprego para recomeçar

André Nascimento viralizou nas redes sociais ao postar que vendia balas nas ruas em cadeira de rodas

Por: Ágata Luz  -  20/10/21  -  10:19
Atualizado em 20/10/21 - 21:04
 Além da cadeira de rodas e da gaiola, a memória comprometida e uma perna menor que a outra foram as sequelas do atropelamento que André sofreu
Além da cadeira de rodas e da gaiola, a memória comprometida e uma perna menor que a outra foram as sequelas do atropelamento que André sofreu   Foto: Arquivo Pessoal

Após pedir socorro por meio de uma publicação nas redes sociais em que contava sua história de vida, o autônomo André Nascimento, de 40 anos, ganhou uma chance de recomeçar. Pessoas que se comoveram com o texto colaboraram para o homem voltar a ter um lar, após um ano nas ruas de Praia Grande, onde foi atropelado enquanto dormia. Tentando superar as sequelas do acidente, ele pede doações e, principalmente, uma chance no mercado de trabalho. “O que mais quero é um emprego”.


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Em entrevista para A Tribuna, o homem conta que foi salvo das ruas por duas mulheres – Isadora Bonomo e Gersi Fiais – que alugaram um imóvel para que ele pudesse morar. A mobilização ocorreu após elas se comoverem com sua história na internet. Na publicação, ele relatou a rotina que vivia: vender balas e pedir esmolas em uma cadeira de rodas e com gaiolas nas pernas, segurando uma placa com a frase ‘preciso de roupas, comida e dipirona’.


Além da cadeira de rodas e da gaiola, a memória comprometida e uma perna menor que a outra foram as sequelas do atropelamento que André sofreu enquanto dormia na calçada da Avenida Presidente Kennedy, em 6 de julho de 2020 - três dias antes do próprio aniversário. Após ser atingido por uma motocicleta, ele não apenas passou o aniversário internado, como ficou por 11 meses e 21 dias no Hospital Irmã Dulce, com fraturas no maxilar e fêmures, além de queimaduras em parte do corpo.


Após ter alta, André chegou a ficar em um abrigo municipal, mas retornou às ruas com a promessa de um amigo de que eles dividiriam um imóvel. “Não deu certo. Mas não desisti, levantava com a cadeira de rodas e vendia bala. Recebi bastante apoio”, explica, mas sem esquecer que também sofreu muito preconceito enquanto estava nas ruas.


“Até que eu ganhei um celularzinho e resolvi fazer a primeira postagem na internet”, conta, sobre a publicação que mudou sua vida. De acordo com o autônomo, a história ganhou repercussão e uma mulher entrou em contato para oferecer ajuda. “No início, achei que era mais uma promessa, porque na rua você recebe promessa de tudo que é jeito, mas nada resolve”. No entanto, para surpresa dele, a oferta era verdadeira e ele passou a ter um local para dormir e viver.


Segundo André, Isadora e Gersi se tornaram amigas. “A Isadora me chamou pelo número do WhatsApp que publiquei na postagem. Nisso, ela começou a vasculhar outros comentários e viu a dona Gersi perguntando se alguém sabia como chegar até mim, porque queria me ajudar”. As duas se juntaram e, em contato com André, buscaram mais ajuda para conseguir um lar. “É um cômodo simples, mas é bem melhor do que estar na calçada”.


 André está vivendo em um cômodo alugado por pessoas que se sensibilizaram com a história
André está vivendo em um cômodo alugado por pessoas que se sensibilizaram com a história   Foto: Arquivo Pessoal

Apesar de ser grato às duas, André continua buscando doações de roupas, alimentos, itens de higiene pessoal, curativos e um emprego para chamar de seu. “Um trabalho é o que mais quero. Posso conseguir trabalhar pela internet ou em casa, fazendo um artesanato".


Para ajudá-lo com qualquer doação, basta entrar em contato pelo telefone (13) 98198-2219.


Ajuda

Para A Tribuna, Gersi Fiais, de 49 anos, explicou que conheceu André quando ele ainda estava hospitalizado e, ao ver a publicação na internet, pediu ajuda ao chefe da empresa em que trabalha para comprar comida e remédio. Em seguida, encontrou Isadora e todos começaram a lutar pelo bem de André. “É uma união de forças”. O aluguel do novo lar do autônomo vem sendo pago pela empresa onde Gersi trabalha.


Já Isadora Bonomo, de 28 anos, diz ter ficado comovida pela história de André porque a avó dela era cadeirante e precisou superar muitas dificuldades. “Além de ser morador de rua, o que já é muito difícil, ele é cadeirante. Por tudo o que passei com minha avó, tentei começar a ajudá-lo”.


A chegada às ruas

Natural de São Paulo, André viveu em Embu das Artes por muitos anos. Porém, vendeu o imóvel que tinha para tentar a vida em São Bernardo do Campo, onde montou um bar, mas a empreitada deu errado. Para pagar as dívidas, vendeu a casa que possuía e passou a morar de aluguel. Sem conseguir emprego, o homem optou por ir para as ruas.


Primeiro, ficou nas calçadas da Avenida Paulista, em São Paulo. No Réveillon de 2019, ele viajou para a Baixada Santista em busca de uma oportunidade para trabalhar. Neste período, André vendeu água em Praia Grande, passou por Guarujá, voltou para a Capital e retornou ao litoral de São Paulo, após o Carnaval de 2020, ao receber promessas de emprego. Mas veio a pandemia e tudo ruiu. “Vendi água e balas e deu para ganhar um dinheirinho, mas tudo acabou de vez quando fui atropelado”.


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