“É difícil ter de conversar com os técnicos e escolher quem receberá a vacina contra sarampo: se uma criança ou uma família que tem um caso da doença”. O desabafo do diretor de Vigilância em Saúde de Guarujá, Marco Antônio da Conceição, resume o quadro atual da imunização contra a doença na cidade, prejudicada pelo estoque zerado de doses em quase todas as unidades de saúde desde meados da semana passada.
Nesta terça-feira (24), o único local que possuía vacina era a Unidade de Saúde da Família (Usafa) Santa Cruz dos Navegantes. Hellen Bezerra da Silva, 18 anos, sentiu a situação na pele. Ela conta que, há dois meses, tenta colocar em dia a caderneta de vacinação de sua filha, Natasha, de 9 meses, sem sucesso.
“Já tinha feito várias tentativas, mas não deu. Na terça-feira da semana passada, me disseram que era preciso vacinar a menina com urgência”.
Ela só conseguiu a dose no dia seguinte. Porém, teve de sair do Santo Antônio com a mãe, Kelly da Silva Bezerra, 35 anos, para ir à Usafa Perequê. “Foi uma hora de ônibus para ir e outra para voltar”.
Nesta terça-feira, as duas faziam nova peregrinação na Usafa Jardim dos Pássaros com a pequena Natasha. “Minha filha já deveria ter tomado a segunda dose da pentavalente também e até agora nada”.
A dona de casa Daiane de Brito, 28 anos, nunca tomou a medicação e está preocupada. “Vou amanhã [nesta quarta-feira] ver se consigo tomar a vacina. Tomara ela chegue às unidades de saúde”.
O que vem por aí
A expectativa, segundo o diretor de Vigilância em Saúde, era distribuir cerca de 2 mil doses para as unidades nesta quarta-feira (25). O reforço foi enviado pelo estado. “Deve durar até o fim de semana”.
Guarujá sofre com o desabastecimento desde fevereiro. A cidade tem, até agora, 13 casos da doença, sendo dois adultos. Os demais são crianças de até 4 anos: cinco delas haviam sido vacinadas e outras seis não receberam doses. Há ainda 40 casos suspeitos.
“Em situação normal, são necessárias entre 800 e 1 mil doses mensais em estoque para atender as crianças que nascem na Cidade. Em surto, tudo muda”.
Em momentos assim, segundo ele, é preciso segurar o que tem para realizar os bloqueios vacinais.
O município chegou a fazer cotação para adquirir a medicação - a compra é de responsabilidade do Governo Federal. Porém, o custo anual seria de R$ 4 milhões, o que se mostrou inviável. “A prevenção é feita com a vacina. Se falta, há o risco da doença. A região está em surto é uma situação gravíssima”, conclui Conceição.
Governo do Estado e União explicam dificuldades
Consultada, a Secretaria de Estado da Saúde reafirmou, em nota, que a responsabilidade pela aquisição e distribuição da vacina tríplice viral é do Ministério da Saúde. “O estado apenas redistribui para os municípios, à medida que os lotes chegam”.
A pasta informa ainda que, nos últimos meses, o envio das doses vem ocorrendo “de forma irregular e em quantidades insuficientes, impactando na redistribuição”.
O estado disse também que recebeu um lote parcial, referente ao mês de setembro, que já está sendo repassado aos municípios.
O Ministério da Saúde, no entanto, alega ter enviado somente este mês “mais de 1,3 milhão de doses da vacina tríplice viral para o Estado de São Paulo”.
Diz ainda que adquiriu para 2019 e 2020 o equivalente a 114% a mais de doses da vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, na comparação com 2018. “Para isso, a pasta comprou recentemente 47,4 milhões de doses da vacina, quantitativo atualmente disponível no mundo”.