Sem as medidas de isolamento social, válidas desde o fim de março, o número de pessoas infectadas e de mortes por decorrência da Covid-19 ultrapassaria a marca de até 10 vezes superior ao atualmente registrado no Estado de São Paulo. Com esse cenário, o sistema público de saúde paulista entraria em colapso no começo de maio. É que informa o médico coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus, David Uip.
As estimativas foram debatidas, nesta quinta-feira (9), durante live (transmissão ao vivo) com representantes do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em São Paulo. O encontro virtual discutiu os avanços nas pesquisas globais de combate à Covid-19 e cenários para enfrentamento da pandemia no Brasil. “O governo [do Estado, com a ação de isolamento] agiu certo, na hora certa e do jeito certo”, diz o médico infectologista.
Conforme os modelos matemáticos apresentados por Uip, entre 50 mil e 80 mil paulistas devem ser contaminados pelo novo coronavírus até o fim do mês. Sem as regras de distanciamento social, esse número saltaria para pico superior a 800 mil pessoas no estado no igual período. “Em maio [no cenário sem isolamento], haveria uma superlotação dos hospitais, que agravaria a situação”.
Segundo Uip, 49% da população paulista segue em isolamento social, conforme georeferenciamento mapeado pelo gabinete de crise da pandemia, por meio dos 80 milhões de celulares ativos no estado. “Tivemos um pico de 56% [da população em casa]. Mas isso ainda é pouco. Precisaríamos avançar para 70%, o que será muito difícil”.
O maior percentual de confinados está concentrado nas regiões metropolitanas, como a Baixada Santista, São Paulo e Campinas. “Sabemos o quanto a população sofre e quanto é ruim para a economia, mas é uma medida necessária”, destaca.
O infectologista não quis opinar sobre o isolamento proporcional nas localidades em que a ocupação dos serviços de saúde seja abaixo de 50%, conforme passou a defender o Ministério da Saúde nesta semana. “Seguiremos com nossos planos”, sustenta.
Contudo, Uip destaca a “interiorização” dos casos da Covid-19. “A epidemia ainda está concentrada na Grande São Paulo, mas rapidamente o vírus já passou a circular em 100 municípios paulistas. Não acredito que alguma cidade poderá ser poupada”, afirmou. “Não se sabe ao certo quem vai ou não ser infectado. Há registros de recém-nascidos com a Covid-19”.
O coordenador do Centro de Contingência afirma que ainda é prematuro estimar o fim do isolamento social. Na cidade chinesa de Wuhan, onde surgiu a pandemia do novo coronavírus, o confinamento foi suspenso na quarta-feira (8), após 76 dias de duração. Nesta quinta, a localidade voltou a registrar duas mortes pela doença. “Ainda estamos no começo da curva ascendente de casos [no estado]”, diz.
Uip afirma que quatro medicações são testadas em pacientes com a enfermidade nos hospitais de referência paulistas. E relata que são tímidos os resultados científicos globais que atestam eficiência da cloroquina no tratamento do novo coronavírus. O uso da substância foi defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em pronunciamento em rede nacional de Rádio e TV, na noite de quarta-feira.