Presidente do Sindicato dos Aposentados quer que categoria seja prioridade

João Batista Inocentini é presidente do Sindicato dos Aposentados e dá entrevista exclusiva à A Tribuna

Por: Rosana Rife  -  11/12/21  -  15:18
  Foto: Alexsander Ferraz/AT

Entre os dias 15 e 17, Mongaguá vai sediar o 6º Congresso Nacional do Sindicato dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). A entidade elegerá a nova diretoria e traçará uma pauta com reivindicações da categoria, que será entregue ao presidente eleito em 2023. Segundo o atual presidente do sindicato, João Inocentini, será a primeira vez que o congresso terá como foco diretrizes políticas. Segundo ele, a atual conjuntura do País motivou a estratégia. Ele esteve ontem no Grupo Tribuna para falar sobre o evento, que reunirá 750 delegados do Sindnapi e contará com a presença do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do presidente do INSS, José Carlos Oliveira, na quinta-feira. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participará do encerramento do congresso, no dia seguinte. O evento, segundo ele, foi organizado cumprindo-se todos os protocolos de segurança sanitária. Confira os principais trechos da entrevista.


O sr. falou que, nesta edição, ao contrário das anteriores, vai predominar uma discussão mais política.


O congresso ocorre a cada cinco anos. Seria em 2022. Mas antecipamos por causa da eleição. Nós temos de nos envolver na política, porque a situação que o Brasil está passando hoje é muito difícil. Somos 35 milhões de aposentados e pensionistas, e parece que somos invisíveis, diante da ausência de políticas públicas. Temos o dever e a obrigação de participar. Temos de chamar nossos filhos e netos. Temos que aprender a votar. Não temos mais espaço e nem tempo para errar. Será um congresso pequeno, por conta da pandemia da covid-19, com 750 delegados dos 26 estados e do Distrito Federal.


O que vocês planejam fazer?


Vamos tirar uma proposta para entregar para o futuro presidente. Queremos uma pauta que leve discussões de temas como recuperação do salário mínimo e das aposentadorias acima do piso nacional. Porque, nestes últimos dois anos de pandemia, quem mais perdeu fomos nós. Milhões e milhões de pessoas perderam o emprego, e quem está ajudando muitas delas é o aposentado, que tem filhos ou netos que estão desempregados. E ele acabou se endividando com isso. O Governo ajudou os empresários pequeno, médio e grande portes e, para nós, não fizeram nada.


A defasagem das aposentadorias ao longo dos anos é uma das grandes queixas no País. O que poderia ser feito?


Esse é um grande problema que temos e vamos ter de sentar e discutir para encontrar fórmulas que corrijam essa situação. Arrumar um mecanismo que consiga arrumar, pelo menos, um pouco, porque a defasagem é muito grande. E tem outra coisa: em 1988, quando fizemos a Constituição, estipulou-se a expectativa de vida. Na época, estava em 56, 57 anos, e nunca mais se mexeu nisso. Então, hoje, você passou de 70 anos, não pode fazer financiamento, pegar dinheiro emprestado, não pode fazer nada. Mas a expectativa de vida, hoje, no geral, está 76 anos. No Sul, chega a 78 anos. Por que, se passou de 70 anos, você não serve mais para nada? Queremos fazer essa correção também para dar dignidade às pessoas.


Além desse tema, quais são as demais preocupações da categoria?


Queremos melhorias na saúde. Um plano de saúde hoje, em média, custa R$ 1,5 mil, R$ 2 mil. Se ele tivesse um plano que pagasse um percentual da aposentadoria, seria melhor. É um desafio grande. A nossa ideia, já conversamos no passado com o Lula sobre ela, é mudar o SUS. Toda a sociedade pagaria um percentual sobre o que recebe e todos teriam acesso. Isso acontece em alguns países da Europa. Daí, todos os hospitais do País poderiam atender a população. Então, o SUS teria uma política de Estado, independentemente do político que estivesse no poder. Você teria muito dinheiro e uma saúde decente para todos.


O sr. estava falando também em mudança para o Imposto de Renda.


Entendemos que o aposentado que ganha até o teto da Previdência (atualmente, em R$ 6.433,57) deveria ser isento do desconto de Imposto de Renda. Porque ele não está recebendo salário, é um benefício. Ele contribuiu para poder receber aquele benefício. Na nossa avaliação, isso está errado. Queira ou não queira, o valor do imposto daria para o aposentado comprar um medicamento ou uma cesta básica.


Como será dividia a programação do Congresso?


No dia 15, às 18 horas, faremos a abertura oficial. No dia 16 de manhã, prestaremos conta do nosso mandato. À tarde, começamos os debates sobre a situação dos aposentados, com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o presidente do INSS, José Carlos Oliveira. Na sexta-feira, a partir das 9 horas, vamos discutir política e contaremos com a presença do ex-presidente Lula. Tentamos trazer o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), mas ele não conseguiu se liberar dos trabalhos em Brasília. Teremos também distanciamento, álcool em gel, aferição de temperatura. Todos os cuidados. Já fizemos Congresso com 5 mil pessoas. Agora, estamos fazendo um evento pequeno.


Como está a proposta de criação do 14o salário, que trouxe muita expectativa para a categoria?


Tentamos fazer a votação do projeto do 14º essa semana, mas o Governo fez uma manobra e tirou o texto. Agora, só no ano que vem. Acho que nem deveria ser para todo mundo, mas para quem ganha até dois ou três salários (mínimos, hoje, de R$ 2,2 mil a R$ 3,3 mil).


O sr. também criticou a PEC dos precatórios.


Eles estão tirando da Previdência R$ 31 bilhões que são de aposentadoria, e 80% são de pessoas que se aposentaram e que teriam os atrasados dos últimos cinco anos para receber. São pessoas que passaram necessidades, que esperaram dois, três anos para começar a receber a aposentadoria e terão que esperar anos para ver a cor dos atrasados. Eles estipulam (valor) acima dos R$ 60 mil, a pessoa vai receber em até dez anos e, depois disso, não se fala nada. Então, é o maior calote que se está dando nos aposentados. Era um dinheiro que voltaria para a economia. Mas o Governo travou. Por quê? Para dar para político jogar na eleição no ano que vem. A nossa indignação está aí. Acho que é o maior assalto do planeta em cima dos aposentados.


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