Óleo de cozinha transforma praia em 'lixeira em alto mar', aponta especialista

Élio Lopes explica prejuízos à natureza quando o material não é reaproveitado

Por: Yasmin Vilar  -  18/01/19  -  09:06
  Foto: Divulgação/Prefeitura de Guarujá

Descartado comumente pela pia, o óleo de cozinha utilizado nas residências e estabelecimentos comerciais pode ter um fim trágico na natureza. O produto quase sempre vai parar nos oceanos, causando uma série de problemas à fauna e flora marinha.


“O grande problema é que, uma vez descartado, o óleo é destinado aos recursos hídricos. Isso nos leva a uma série de consequências, como a criação de uma camada de óleo que impede a oxigenação da água para animais marinhos, assim como o desvio dos raios solares que promovem a fotossíntese das plantas”, explica o gestor ambiental Élio Lopes.


O especialista comenta que, nas estações de tratamento, os óleos de cozinha e lubrificantes não conseguem ser retirados da água, que é lançada ao mar ainda contaminada. “Na região, só temos estações de condicionamento, onde apenas os materiais sólidos são contidos, por meio de uma peneira, para que as bombas dos emissários não sejam bloqueadas. O óleo não é bloqueado. Além disso, o cloro que é despejado para conter o forte odor provocado pela matéria orgânica acaba gerando uma toxicidade, e o prejuízo fica ainda maior quando tudo é lançado pelos emissários submarinos, tornando a água uma lixeira em alto mar”.


Só em 2018, foram coletados 1,8 milhão de litros de óleo pela empresa Biolitoral, que recolhe óleo de cozinha em residências e estabelecimentos. Após processo, o óleo pode ter destinos diferentes, se tornando matéria prima para a produção de biodiesel.


“Tudo é reaproveitado. Quando o óleo chega, realizamos a análise do produto, descontando a sujeira, geralmente composta por água e farinha”, explica Isadora Branco, auxiliar administrativa da Biolitoral. A empresa também realiza o tratamento da água e da farinha, que, ao ser seca, é enviada para fazendas, onde servirá de ração para porcos e outros animais.


Guarujá


Também preocupada com a questão ambiental, a Prefeitura de Guarujá realizou uma parceria com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Ao todo, são 12 pontos de entrega em supermercados e espaços de grande circulação na cidade.


Segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Sidnei Aranha, o posto de arrecadação do óleo permite um diálogo não só com a população, mas com turistas de todo o país. Ele define como “surpreendente” o papel da educação ambiental. “Durante os fins de semana, recebemos denúncias de carrinhos de praia descartando o óleo usado em águas fluviais. A educação ambiental tem o poder de criar fiscais ambientais”, comenta.


Uma das apostas do município é o projeto de educação Eco-Escola, um programa internacional da “Foundation for Environmental Education”, desenvolvido em Portugal desde 1996 pela ABAE. Atualmente, duas escolas da rede municipal de ensino integram o programa para receber o certificado. Além disso, a campanha atingirá o público infantil por meio da distribuição do gibi de colorir da “Capitã Recicla”.


Outra preocupação é o descarte das embalagens de óleos de cozinha, que deveria ser feito de maneira diferente. “Para o próximo ano, focaremos no retorno das embalagens às indústrias de origem. Elas não devem ser descartadas junto ao lixo comum”, finaliza o secretário.


Logo A Tribuna
Newsletter