Aos 88 anos, a cabeça já não lembra mais de alguns momentos do passado, mas o coração de Isabel a fez recordar a sensação de quando teve as filhas Clênia e Miriam nos braços. Já faz 53 anos que isso aconteceu, na Santa Casa de Santos, assim que elas nasceram. Pouco depois, as duas foram entregues a outras famílias e cada uma seguiu sua vida. Pelo menos até ontem, quando na sala de sua casa, em Guarulhos, Isabel teve as duas juntas outra vez. Foi o primeiro contato entre as irmãs desde 1967.
Em outubro do ano passado, a assistente comercial Miriam Romano Ramos, de Bauru (SP), tomou coragem e entrou em contato com ATribuna.com.br pedindo ajuda para encontrar a gêmea e sua mãe biológica, algo que passou a vida tendo vontade de fazer. E a matéria virou uma corrente do bem que a levou até sua mãe e, depois, sua irmã.
“É o tempo de Deus”, diz Miriam, empenhada em aproveitar cada segundo ao lado de Isabel, que luta contra um câncer na mama direita desde junho de 2013 e sonhava reencontrar as filhas antes de morrer.
“Esse dia está marcado para a gente e para todas as gerações. Eu passei 40 anos sabendo que você estava em algum lugar, minha irmã”, disse Miriam, emocionada, ao acariciar o rosto da gêmea.
Já a esteticista Clênia Maria Coelho, moradora do Macuco, em Santos, teve a confirmação do que sonhava. “Eu sou muito parecida com ela fisicamente, no jeito e nos valores. Ela só é mais calma. Tivemos filhos no mesmo ano e, ao trocarmos fotos, nos vimos iguais em todos os momentos da vida. É um presente de Deus descobrir uma gêmea a essa altura da vida”.
O encontro
Após a publicação da matéria em ATribuna.com.br, Miriam conseguiu o e-mail de uma das filhas de Isabel, a confeiteira Miriam Santos Silva, de 36 anos, com o apoio de um internauta que comentou no Facebook do Grupo Tribuna oferecendo ajuda.
“Quando vi uma mensagem perguntando se conhecia alguém com o nome da minha avó, meu coração acelerou. Sempre soubemos das gêmeas, pois ela falava muito disso. A partir dali, fomos trocando mensagens e confirmando nomes e detalhes”.
O primeiro encontro entre Miriam e a mãe aconteceu em dezembro. Nessa época, Clênia sequer sabia que era adotada. A revelação de que tinha uma irmã e mãe biológica aconteceu no último dia 2. No dia 9, ela já estava conhecendo Isabel.
"Toda a família sabia da adoção, menos a Clênia. Eles desconfiaram que seria a história dela pela foto e data de nascimento que estavam na matéria. Falaram comigo e, como essa matéria já estava por todos os lados, decidiram contar para ela. Eu estava muito preocupado com a reação”, diz o marido Geraldo Antonio dos Santos, de 55 anos.
A pedido da família, Clênia leu a Reportagem e “a ficha foi caindo”, conta. “Na hora, vi que era uma bênção e precisava ver minha mãe”.
Maria Aparecida dos Santos Silva, de 60 anos, que se via sozinha com Isabel, também era só alegria por ganhar duas irmãs de uma vez. “Eu não tinha uma irmã e agora tenho duas. Não poderia estar mais feliz na vida. Rezei muito por esse momento”.
Para o encontro com a gêmea, Miriam mandou fazer duas camisetas para que vestissem em momentos diferentes. As duas também levaram seus filhos (até de Santa Catarina) e netos para se conhecerem.
O primeiro abraço entre elas foi demorado e emocionante até para os familiares que aguardavam ansiosos pelo primeiro encontro entre Miriam e Clênia. “A gente é muito emotivo, mas nem tem como não ser. É uma história linda demais e que parece enredo de novela. Ainda bem que com um final (ou começo) muito feliz”, resume o neto de Isabel, Tiago Santos Silva, de 38 anos.