Jovem denuncia hospital de Santos após filha nascer morta: 'Exames diziam que ela estava ótima'

Adriana Suely, de 23 anos, foi induzida ao parto normal por quase três dias, enquanto pedia por cesárea

Por: Ágata Luz  -  20/06/22  -  08:59
Enterro da criança aconteceu no último sábado (18)
Enterro da criança aconteceu no último sábado (18)   Foto: Arquivo Pessoal

Ao buscar atendimento médico em Santos, a moradora de Guarujá, Adriana Suely de Paulo Navarrete, acreditou que sairia do Complexo Hospitalar dos Estivadores com sua primeira filha no colo. Porém, a jovem de 23 anos precisou voltar para casa apenas com a dor do luto. Ela diz que foi vítima de negligência médica, pois sua bebê nasceu sem vida momentos após os médicos dizerem que os exames estavam ótimos. A mulher ainda denuncia que foi induzida ao parto normal, mesmo implorando por cesárea.


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Adriana foi internada na última terça-feira (14), perdeu a filha dois dias depois e, no último sábado (18), teve alta e enterrou a bebê. “Foi uma coisa inexplicável. Quando ela saiu da barriga, eles fizeram massagem nela, mas logo percebi que a bebê não chegou a respirar e nem chorar. Ela já saiu morta da barriga. Mas, como? Tiveram milhões de exames dizendo que estava tudo ótimo”.


A jovem conta que foi ao complexo hospitalar com objetivo de ter a bebê no mesmo dia. “Fui com uma cartinha da minha obstetra alegando que eu tinha que entrar em trabalho de parto porque estava fazendo 40 semanas e alguns dias”, ressalta, enfatizando ainda que possui problemas com a tireoide e pressão.


Adriana diz que inicialmente foi atendida por duas médicas que fizeram perguntas e verificaram sua pressão, oxigenação e glicemia. “Informei que na madrugada do dia 14, comecei a perder um líquido bem ralinho. Uma delas me mandou deitar na maca, fez o exame de toque e falou que era líquido amniótico, mas bem pouquinho”. A jovem conta que foi encaminhada para internação após ser elogiada pelas profissionais, que disseram que aquele dia era o certo para procurar atendimento médico.


Ao assinar a papelada da internação, Adriana escolheu a mãe como acompanhante e iniciou os exames pedidos pelas médicas. Foi quando fez, pela primeira vez, o exame de cardiotocografia (CTG), que monitora a frequência cardíaca fetal e as contrações uterinas. “Deitei, e a enfermeira deu toda assistência, ficou aferindo minha pressão e os batimentos do bebê”, conta.


Após cerca de três horas, Adriana foi encaminhada para a sala de indução, onde havia outras gestantes. Ela fez outro exame de sangue e foi questionada sobre o plano de parto. “Eu fiz (o plano de parto) pedindo cesariana, porque a minha médica já tinha me dito que a bebê era grande, estava alta e não seria um parto fácil, pois era meu primeiro filho. Então minha preferência era fazer a cesárea, principalmente porque chegou até o final da gestação, não estourou bolsa, nem teve aquela coisa natural”.


A jovem relata que decidiu ir ter a filha em Santos justamente porque queria a cesariana, porém, no Complexo Hospitalar dos Estivadores, teve uma conversa com uma obstetra que falou sobre os benefícios do parto normal. “Falou que a cesárea é uma cirurgia de grande porte, que a neném estava ótima, estava tudo correndo bem e que eu poderia tentar. Ela falou: vamos tentar, vamos ver como que vai evoluir”.


Foi neste momento, que Adriana foi orientada a fazer uso do comprimido Misoprostol, conhecido como ‘miso’, que serve para induzir o parto. “Quando colocou o primeiro já me assustou, pois eles disseram que poderia colocar até nove comprimidos, de três em três horas, depois de seis em seis horas. E aí já me assustei, perguntei se ia demorar demais e falaram que não. Isso durou dia 14 e dia 15”.


Na madrugada de quinta-feira (16), a jovem começou a estranhar, pois todas as mulheres da sala tinham os filhos e iam embora. “Fui ficando e não sentia dor de parto. Comecei a questionar se estava demorando muito, principalmente sem ter feito ultrassom ou exame mais específico, só CTG. Me responderam que estava tudo bem”. Ela lembra que antes de aplicarem o sexto comprimido, o exame CTG registrou um batimento fraco da nenê, que mobilizou a equipe médica.


“Veio outra médica e enfermeira e mexeram na barriga, balançaram disseram que ela (bebê) estava dormindo, que iriam acordá-la e tinha normalizado. Perguntaram se eu ouvia e eu estava ouvindo o barulho do aparelho, pois não sou médica e não sei diferenciar. Respondi que sim, mas percebi que uma das médicas pediu pra suspender o comprimido”, relembra, dizendo que houve uma falta de comunicação entre a equipe, pois enquanto uma médica suspendeu o ‘miso’ até segunda ordem dizendo que era necessário refazer o exame CTG em vinte minutos, uma enfermeira apareceu com o comprimido.


“Tudo começou a sair dos trilhos”, desabafa Adriana. Ela lembra que a enfermeira afirmou que outra médica analisou o exame anterior e orientou a permanência da medicação. “Falaram para eu e minha mãe ficarmos despreocupadas, pois o CTG tinha sido feito em menos de meia hora e ainda estava dentro do prazo. Eu estava ali há quase três dias, então confiava nos médico. Mas colocaram o comprimido, começou o pesadelo”.


A jovem conta que em menos de cinco minutos, sentiu uma dor “insuportável” e começou a pedir pela cesárea. “Mas toda vez que a gente falava, eles vinham com uma lista de problemas que a cirurgia poderia me trazer”. Ela diz que gritava pedindo a cesárea por conta das dores e o médico foi refazer o exame de toque. “Ele falou: ‘olha você já está de três centímetros, só que a bebêzinha fez um cocozinho’. Eu olhei pra minha mãe e ela perguntou se era perigoso ela aspirar ou comer, mas responderam que era normal, que o intestino dela estava funcionando e ela está pronta pra nascer”.


Bebê nasceu sem vida na quinta-feira (16) e foi enterrada no sábado (18)
Bebê nasceu sem vida na quinta-feira (16) e foi enterrada no sábado (18)   Foto: Arquivo Pessoal

Durante um exame CTG, a jovem notou alterações, mas foi tranquilizada pela enfermeira, que afirmou que estava tudo bem. “Falaram que o coraçãozinho dela estava batendo como se fosse um ritmo de música”. Ainda com dores, Adriana insistiu até conseguir assinar um documento pedindo a cesárea e partiu para a sala de cirurgia.


“Quando eles tiraram ela, já não tinha vida nenhuma. Nem certidão de nascimento eu vou conseguir fazer, porque ela já nasceu morta. Então como que eles fizeram tantos exames, estava tudo tão bem e ela já estava morta?”, desabafa a mulher, que diz ter visto o batimento cardíaco da filha momentos antes do parto.


“Na hora que o médico veio me dar o papel para fazer a cesariana, ele fez um examezinho em um aparelho portátil que escutava o batimento cardíaco dela, colocou do lado do meu ouvido, eu estava com muita dor, mas eu conseguir ver que estava 133. Como que estava 133 numa sala e em questão de minutos, ela saiu morta da barriga? Ela já estava morta e eu falei o dia inteiro que não estava mexendo”.


A família registrou um boletim de ocorrência por morte suspeita e o enterro da criança aconteceu no último sábado (18), em Guarujá.


Resposta

A reportagem de A Tribuna entrou em contato com o hospital, que emitiu a seguinte nota:

“O Complexo Hospitalar dos Estivadores, por meio da sua equipe técnica multiprofissional, informa que a paciente e seus familiares receberam assistência integral, suporte e acolhimento diante do caso em questão, e foram fornecidas todas as informações disponíveis até o momento. O apoio aos familiares continuará sendo fornecido pela instituição, até que a análise técnica do evento seja concluída”.


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