Infectologista acende alerta para surto da Síndrome Mão-Pé-Boca em crianças do litoral de SP

Para a médica Elisabeth Dotti, aumento dos casos acontece por conta do retorno às aulas; Prefeituras comentam 'surto'

Por: Ágata Luz  -  15/11/21  -  11:01
 Letícia, de dois anos, ficou sem conseguir comer ou beber água enquanto esteve com a SMPB
Letícia, de dois anos, ficou sem conseguir comer ou beber água enquanto esteve com a SMPB   Foto: Arquivo Pessoal/Elizabethe Cristina

Febre, mal-estar e feridas ou erupções por todo o corpo. Estes são alguns dos sintomas da Síndrome Mão-Pé-Boca (SMPB), doença causada por um vírus que vem preocupando pais da Baixada Santista após um ‘surto’ atingir as crianças da região. Para a médica infectologista Elisabeth Dotti, é necessário acender um alerta sobre a doença, principalmente por conta do retorno às aulas.


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A Tribuna conversou com três mães de bebês que foram diagnosticadas com a SMPB. A analista de importação Elizabethe Cristina Ribeiro, de 31 anos, levou um susto ao ver o início dos sintomas na filha Letícia, de dois anos. Moradora de Santos, ela desconhecia a doença. “Minha filha começou com febre alta e depois as bolinhas. Associamos com catapora e corremos para o Pronto Socorro”.


Elizabethe conta que assim que observou as 'bolinhas' pelo corpo da filha pensou que eram picadas de mosquito. A menina, porém, foi diagnosticada ao fazer um exame de sangue com SMPB. “A médica explicou que a doença passa de criança para criança e a gente acredita que ela tenha sido infectada na escola”. A família mora no Marapé e Letícia estuda em uma escola particular na região.


De acordo com a analista de importação, a filha precisou tomar antibiótico por 10 dias, assim como passar pomada antibiótica. “Os três primeiros dias foram bem difíceis. Após começar as bolinhas no rosto, em coisa de 24h, tinham se espalhado por todo o corpo”, relata a mãe de primeira viagem, dizendo que Letícia não conseguia comer ou beber. “A gente conseguia dar água pra ela (apenas) 10 ml na seringa”.


A pequena Alice, de dois anos, também ficou com a SMPB por dez dias. Filha da empreendedora Thaiany Neves Luz, ela vive no Parque São Vicente, em São Vicente, e desenvolveu os sintomas um dia após ir ao parquinho de um shopping. “Alice começou a apresentar coceira pelo corpo”, explica a mãe, dizendo que as erupções começaram a surgir depois, quando a família procurou atendimento médico.


“A pediatra disse que se tratava dessa doença. Eu nunca tinha escutado falar”, ressalta a empreendedora, afirmando que Alice não precisou de medicação, pois foi informada que os sintomas sumiriam em dez dias. Desta forma, a única orientação era para que ela não tivesse contato com outras crianças. “Mas mesmo com a orientação da pediatra de que não precisava passar nada, a Alice sofria muito para dormir e até chorava”, conta Thaiany, dizendo que ela começou a passar pasta d'água na filha até ela se recuperar.


Maria Eduarda Silva Lima, de 23 anos, também passou apuros com a filha Maite, de um ano. Elas moram em São Vicente, no bairro Cidade Náutica e os sintomas da bebê surgiram no fim de setembro, a partir de uma febre alta que se tornou erupções pelo corpo. “Na minha filha, durou 10 dias. As bolinhas sumiram sozinhas, só que provavelmente voltou, porque atualmente ela está com as mãozinhas com bolhas de novo”, desabafa a mãe, que precisou retornar ao médico e, no início de novembro, precisou medicar Maite com antibióticos.


Preocupação
O tema tornou-se uma preocupação para a população da Baixada Santista. Desta forma, a infectologista Elisabeth Dotti acende um alerta quanto ao momento atual. “Aumentaram os casos porque as crianças estão voltando para a escola. A gente ficou esse tempo todo com as crianças afastadas em casa e ficou represado. Com o retorno, começa tudo e pode afetar adulto ou criança”.


 Crianças de Santos e São Vicente ficaram com coceira e os corpos repletos de pequenas erupções
Crianças de Santos e São Vicente ficaram com coceira e os corpos repletos de pequenas erupções   Foto: Arquivo Pessoal/Elizabethe Cristina e Arquivo Pessoal/Maria Eduarda Silva

Segundo ela, os pais devem estar atentos aos sintomas iniciais da doença para evitar a disseminação. “Ao perceber qualquer sinal, não se deve levar a criança para escola, pois é uma doença altamente contagiosa. Tendo em uma, vai ter em várias”, explica, dizendo que o mesmo cuidado deve ser tomado pelos administradores das unidades escolares, que devem olhar com atenção qualquer criança com suspeita da doença. “São cuidados muitos simples de serem feitos para evitar tudo isso”.


Devido ao ‘surto’, a analista Elizabethe afirma ter receio de deixar a filha na escola novamente. “A gente tem medo, tenta cuidar de todas as formas, mas nunca está livre disso”, relata.


Apesar de Alice ainda não estudar, a empreendedora Thaiany também está preocupada e está evitando levar a filha em locais públicos. “Tento ao máximo deixá-la segura, mas a gente suspendeu as nossas atividades recreativas fora de casa. Temos que esperar um pouco e ver se o surto passa. Dói ver a criança daquele jeito e não poder fazer muita coisa”.


Tratamento
Segundo a infectologista Elisabeth Dotti, a Síndrome da Mão-Pé-Boca é causada por um vírus. “Então dá febre, coça e faz erupções. Com a criança coçando, ela começa a fazer uma lesão secundária”, relata, dizendo que por conta desta lesão, uma bactéria pode causar pus e o tratamento passa a ser com antibiótico. Por isso, os medicamentos podem variar em cada caso. “A SMPB é uma doença viral, que trata com anti-inflamatório e outros medicamentos. A mudança acontece a partir da chegada de bactéria”, enfatiza.


Prefeituras
Questionadas sobre o surto na região, as Prefeituras de Santos e São Vicente fizeram esclarecimentos sobre os casos nos municípios e os cuidados por parte dos órgãos públicos.


Segundo a prefeitura santista, a SMPB não é uma doença de notificação obrigatória das unidades de saúde às seções de Vigilância. No entanto, o Programa Saúde na Escola monitora os eventuais casos suspeitos da doença ocorridos nas unidades municipais de ensino.


“A ocorrência de mais de um caso no mesmo ambiente (classe, escola) é considerada surto e é notificada pela Secretaria de Educação à policlínica de referência do endereço da unidade escolar. De acordo com o Ministério da Saúde, só pode ser considerado caso confirmado de mão-pé-boca quando é feita a apresentação do atestado médico constado o número da CID (código internacional da doença) referente à SMPB”, diz a nota.


Desta forma, dos 79 casos considerados suspeitos em Santos no mês setembro, nenhum foi confirmado por conta da não apresentação do atestado. “Em outubro, de 105 casos suspeitos, foram recebidos seis atestados médicos, dos quais apenas um confirmou a SMPB”.


A Prefeitura de São Vicente informou que a doença também não é de notificação compulsória no município, desta forma, não há contagem de casos pela Vigilância Epidemiológica. No entanto, a cidade recebeu relatos de alguns casos da síndrome no bairro Jardim Rio Branco. “As crianças foram atendidas na ESF do bairro, avaliadas e afastadas do ambiente escolar durante o período de transmissão”.


Além disso, a Administração Municipal ainda confirmou que o aumento dos casos aconteceu após o retorno às aulas. “O que pode caracterizar uma epidemia”, diz a nota. No município, o aumento nos casos da doença foram identificados em setembro. Desta forma, foram notificados ao Programa Saúde na Escola (PSE). “As medidas de prevenção à doença estão sendo feitas, com afastamento das crianças das escolas ou creches, e orientações aos pais. É importante que ações como lavar as mãos e utilizar álcool em gel constantemente sejam priorizadas”.


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