Mulher morre após AVC e salva marido que esperava transplante na Baixada Santista: 'Sempre comigo'

Sibele morreu após sofrer um AVC; sua morte salvou a vida do marido, com quem estava há 30 anos

Por: Ravena Soares  -  03/10/23  -  06:34
Atualizado em 03/10/23 - 17:38
Mario e Sibele foram casados por 30 anos
Mario e Sibele foram casados por 30 anos   Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Na fila para receber um transplante de rim há 10 anos, o morador de Cubatão Mario Luiz da Silva, de 58 anos, não esperava que a responsável por salvar sua vida seria a sua própria esposa, Sibele Augusta, que morreu no último dia 22 de setembro, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), aos 52 anos.


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Relembrando sua trajetória, o aposentado conta que recebeu o diagnóstico de perda total dos rins no ano de 2013, após passar por exames para identificar possíveis diagnósticos para um inchaço em uma de suas pernas.


“O médico passou vários exames e em um deles, pediu um para saber sobre a condição renal. Aí ele descobriu que eu já tinha perdido um rim e o outro estava quase 70% perdido também”, relembra.


Imediatamente ele iniciou o tratamento e, posteriormente, a hemodiálise - processo onde uma máquina filtra e limpa o sangue, quando o rim deixa de funcionar.


Mesmo com o diagnóstico, Mario e Sibele decidiram aproveitar a vida, e o homem viajou bastante e curtiu ao lado da amada. Até que a doença se agravou. “Chegou o momento do cansaço, eu já não conseguia mais andar".


Neste tempo, o cubatense estava morando em Minas Gerais para auxiliar nos cuidados de sua sogra. Mas, alguns anos depois, retornou à Baixada Santista, onde conseguiu uma vaga para continuar o seu tratamento na Santa Casa de Santos. “Eu fiquei cerca de cinco anos indo para a hemodiálise na segunda, quarta e sexta”.


Mario também relembra os dias difíceis durante o tratamento, com alteração de pressão, dores e desconfortos. Além disso, ele ressalta que conviveu com muitas pessoas como ele. “Você acaba se sensibilizando pela dor do outro. A hemodiálise é um avanço muito grande, mas também é um sofrimento muito grande”.


De acordo com Mario, o casal aproveitou muito a vida
De acordo com Mario, o casal aproveitou muito a vida   Foto: Aquivo Pessoal/Reprodução

Apoio

Durante a sua trajetória, Mario diz que procurou auxílio em instituições de apoio a pacientes renais na Baixada Santista, entretanto, não encontrou. Com o incentivo da esposa, ele abriu o Centro de Apoio ao Paciente Renal e Transplantado da Baixada Santista, há cerca de dois anos.


Mas o projeto foi estagnado por algumas dificuldades que Mario passou a enfrentar, como a desistência de muitos pacientes.


Para ele, muitas pessoas acabam desistindo da vida, perdendo o ânimo e a vontade de lutar devido às adversidades que o tratamento traz. “Eu sempre fui animado, mas tem pessoas que não aceitam a doença. Não aceitam ficar horas na máquina (de hemodiálise). É a tal aceitação”.


Mario conta que apesar das dificuldades do tratamento, sempre teve ânimo
Mario conta que apesar das dificuldades do tratamento, sempre teve ânimo   Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Amor

Ao lembrar da esposa, Mario fica com a voz embargada, dizendo que ainda é difícil falar sobre ela. O luto é recente. Mas, não é qualquer luto. É o luto pela morte da mulher, que não só viveu ao seu lado por mais de 30 anos, mas também da mulher que é mãe de seus dois filhos e salvou a sua vida.


“Ela queria doar o rim há uns quatro anos atrás, mas eu falei ‘não, você é muito nova’. E eu não aceitei”, contou.


A esposa também teria sido a principal incentivadora para ele iniciar o tratamento no Hospital do Rim de São Paulo (HRIM). Mario também conta que durante seus anos na fila de espera para o transplante, foi chamado duas vezes, mas não conseguiu dar andamento ao procedimento. “Em uma eu estava gripado, na outra, foi durante a pandemia e eu fiquei com muito medo”.


Mas tudo mudou há poucos dias, quando a esposa sofreu um AVC. “Nós a socorremos rápido e ela ficou uns 20 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa”, conta.


Neste tempo, os filhos e as irmãs de Sibele, decidiram que iriam tentar salvar a vida de Mario. “Eu pensei ‘ela não vai morrer em vão, pelo menos vai ficar um pedacinho dela sempre comigo’. Foi o que me acalentou”, relembra Mario, que diz que outro paciente, também do HRIM, recebeu o outro rim de Sibele.


Mario diz que ela era sua grande companheira. “Namoramos três meses e casamos em seis. Todos diziam que não iria dar certo. Mas ficamos 30 anos juntos. Tinha muita felicidade, muita alegria”.


Depois de toda sua trajetória, Mario quer conscientização sobre a doação de órgãos. “Se eu puder ajudar as pessoas a falar sobre a doação de órgãos, vai ser muito importante”, finaliza.


Sibele com os filhos e o neto
Sibele com os filhos e o neto   Foto: Arquivo Pessoal/Repdorução

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