Ganês denuncia racismo e xenofobia em Bom Prato na Baixada Santista: 'Não vim de um país de bosta'

Morador de Cubatão, um africano - natural de Gana - afirma ter sido vítima de racismo e xenofobia no restaurante Bom Prato da cidade. Entre as pessoas apontadas por ele, está um secretário da Prefeitura, que se apresentou como chefe da unidade. Kofi Boakye Acheampong estava com o filho de 10 anos na ocasião e disse que não pretende voltar a almoçar no Bom Prato com medo de ser humilhado novamente.

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O caso aconteceu na última sexta-feira (11), na unidade do Bom Prato, que fica no Centro de Cubatão. Kofi, que está desempregado e mora na cidade há dez anos, vai todos os dias ao restaurante popular para almoçar com o filho.

Ele e o filho estavam separados por cinco pessoas na fila. Depois de o filho pegar a bandeja do almoço, Kofi viu que um homem, que seria o gerente do local, começou a gritar com o menino, dizendo que ele estava atrapalhando a fila.

"Eu descobri que ele estava gritando com o meu filho e fui defendê-lo, dizendo que ele não era um adulto, era apenas uma criança. Depois disso, ele pegou a bandeja do meu filho, colocou em uma mesa e disse para a gente sair do restaurante e conversar do lado de fora", relembra.

Já do lado de fora, Kofi explica que foi apresentado a um homem que disse ser chefe do referido gerente e se chamava Zumbi. Zumbi é Sebastião Ribeiro, secretário municipal de Assistência Social.

"Quando eu conversava com o Zumbi, o gerente tentou me bater. Eu respondi pedindo por favor para que ele não me batesse porque eu iria revidar para me defender. Depois disso, Zumbi ficou bravo, dizendo que eu não tinha direito de ir ao Bom Prato por não ser brasileiro. Como eu não sou brasileiro, tenho de ficar em silêncio e obedecer às instruções deles", relatou o ganês.

Antes de ir embora, Kofi diz que ouviu o secretário, que conversava com outras pessoas que formavam fila do restaurante, falar “ele veio de um país de bosta. Ele não sabe de onde veio”. Eu fui confrontá-lo. Ele não faz ideia de onde eu vim, não sou de nenhum país de bosta”, teria falado Zumbi.

Medo e punição

O ganês afirmou que foi até a Prefeitura, e também na Câmara, para fazer uma reclamação formal do ocorrido. "Não estarei indo por um tempo. Estou com um certo medo de aparecer pelo que aconteceu. Então, por enquanto, não acho bom ir lá".

Kofi disse que ele e o filho vão todos os dias no Bom Prato e que essa é a única refeição que fazem no dia. Para ele, o secretário e o gerente deveriam ser punidos. "Não acho que conversar seja o suficiente. Os dois me humilharam. Humilharem eu e meu filho na frente de muitas pessoas. Todo mundo viu", completou.

Resposta

A Prefeitura Municipal de Cubatão rechaçou qualquer atitude de cunho racista ou xenófoba e esclarece que os fatos relatados pelo morador não condizem com o ocorrido. A Administração confirma que o secretário Sebastião Ribeiro, o Zumbi, foi procurado pelo morador no dia 11 de março, após ter sido atendido no Bom Prato.

"Durante esta conversa, o secretário afirma ter sido ofendido com palavras de baixo calão e que se resumiu a explicar à pessoa sobre as regras funcionais do Bom Prato que valem para todas e todos os clientes do lugar", explicou a nota.

A Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds) do Estado, responsável pelos restaurantes Bom Prato, afirmou em nota não compactuar com nenhum ato de preconceito dentro de seus equipamentos. "O Programa Bom Prato tem entre as suas características a inclusão, acolhimento e dignidade às pessoas em maior situação de vulnerabilidade."

A pasta já iniciou apuração dos fatos e adotará as medidas pertinentes, caso a denúncia seja confirmada.