Diretor do Ciesp prioriza colocar o Polo Petroquímico de Cubatão na vitrine de São Paulo

Américo Ferreira Neto, que também é vice-presidente da Usiminas, fala sobre competitividade em entrevista

Por: Arminda Augusto  -  09/01/22  -  19:16
Américo Ferreira Neto assumiu o cargo no último dia 3 e fica até 31 de dezembro de 2024
Américo Ferreira Neto assumiu o cargo no último dia 3 e fica até 31 de dezembro de 2024   Foto: Reprodução/Ciesp

Américo Ferreira Neto é o novo diretor do Centro das Indústrias de São Paulo-Regional Cubatão (Ciesp-Cubatão). Assumiu o cargo no último dia 3 e fica até 31 de dezembro de 2024. Vice-presidente da Usiminas, Américo tem a dimensão do desafio que encontrará a partir de agora, com economia fragilizada, expectativa de PIB menor para este ano e a pandemia ainda ameaçando a volta à normalidade. Mas, otimista, o engenheiro de 45 anos e 32 de Usiminas está disposto a colocar o Polo de Cubatão na vitrine do Estado e, quem sabe, do País. Para isso, fala em competitividade, abrir as portas para o mercado de forma conjunta e buscar sinergia com os municípios da região e o Governo do Estado.


O senhor está assumindo a diretoria do Ciesp-Cubatão pela primeira vez. Com que ânimo econômico a indústria está vivendo?


A gente fala muito da indústria de transformação. O Polo de Cubatão tem uma indústria de base. Em 2020 e início de 2021, houve uma ducha de água fria com a segunda onda da covid. Aí tudo começou a mudar. O cenário, que era muito positivo, começou a se tornar mediano. E o crescimento ficou em torno de 4,7%. Ano que vem, se fala em 1,2% em um cenário básico. Então, isso segurou muita coisa. E a Ômicron é uma variante que traz dúvidas, porque a indústria tem um componente de serviços muito forte, e a pandemia afetou bastante. Ainda não recuperamos os patamares pré-pandemia. Sobre o cenário econômico, a gente sabe como as coisas estão caminhando: a questão do dólar, os gargalos industriais que a pandemia nos deixou e a falta de matéria-prima, dos semicondutores e de contêineres para movimentação no mercado internacional.


E como estabelecer as prioridades para esses três anos da sua gestão?


A primeira ação nossa será uma rodada de negócios com a macrorregião do Estado de São Paulo, onde estamos inseridos. E o que é essa rodada de negócios? É aproximar os fornecedores de matéria-prima daqueles que transformam as indústrias de transformação. O forte é no ABCD (Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema), o Vale do Ribeira, Santos e Cubatão. Essa é a macrorregião número 8. Isso vai acontecer em São Bernardo e está programada para 24 de março. Cubatão, como um polo das indústrias de base, terá a oportunidade de oferecer aquilo que produz. Estamos dentro do maior centro consumidor, o Estado de São Paulo, e esse é um dos diferenciais do Polo de Cubatão. O outro é essa malha logística (ferrovia, rodovia e porto). Uma segunda ação é olhar a revisão do Plano Diretor de Cubatão e entender o que eles estão querendo com isso. Se eles já têm algum contato com o Investe SP, de trazer alguma empresa para a região. Porque isso foi comentado no passado, mas não se materializou. Mas, em fevereiro, haverá reunião entre Ciesp e Prefeitura para sabermos o que vamos oferecer na rodada de março. Precisamos nos organizar para isso.


Ou seja, vocês precisam, antes, fazer a lição de casa.


Exatamente. A pandemia nos afastou. A gente precisa reativar o Polo de Cubatão. Todas as empresas têm um plano plurianual de investimentos, pensando nos próximos cinco anos, e é normal isso. Conhecer o que as empresas estão pensando para cinco ou dez anos é fundamental, até para entender o que nós vamos ofertar nessa rodada de negócios. O aumento da capacidade produtiva é um tema que está relacionado com isso. Se há aumento na capacidade produtiva, atendo o mercado interno e exportação; senão, vou ter que privilegiar alguém.


Pelo que o senhor já tem de informação sobre o potencial do Polo, quais são os concorrentes no fornecimento de insumos de base?


Vejo a petroquímica muito forte. Os produtos feitos aqui são únicos, como o combustível de aviação. Toda parte de adubos e de produtos para fabricação agrícola é feita no Polo de Cubatão, assim como o coque verde de petróleo, que a gente exporta em sinergia com a estrutura portuária de Cubatão. O próprio aço, aqui, é forte, para não ter que depender do material importado de outras regiões do País, como o Rio de Janeiro. Penso que o aço e a indústria petroquímica são os principais segmentos que poderíamos explorar.


E tem mercado consumidor que ainda não se utiliza dos produtos.


Sim. O próprio aço, hoje, a gente fomenta a cabotagem para o Nordeste, para evitar a importação. Por que, ao invés de mandarmos para o Nordeste, não mandamos para o próprio Estado de São Paulo? É uma oportunidade. Agora, para isso, precisamos enobrecer alguns produtos. E aí é onde eu falo dos investimentos de curto e longo prazos. Competitividade é uma das palavras-chave da indústria, não é? Competitividade e desburocratização. Não tenho dúvida de que o Polo de Cubatão, que já contribui bastante hoje, poderá contribuir mais. Até por não marcar essa presença, não trabalhar essa sinergia, fica um pouco distante dessa relação. Acredito que, com o Investe SP, com o Condesb, e Ciesp, nós vamos nos tornar muito fortes.


O senhor fala em buscar sinergia com o Condesb e os demais municípios. Como vai ser sua estratégia?


Exatamente. O Polo não é só de Cubatão, porque eu olho para a Baixada Santista como um todo. A força de capacitação do nosso pessoal vem da Baixada Santista como um todo. Se tenho mão de obra nessa região; se tenho possibilidade de as indústrias de transformação estarem nessa região; se tenho as empresas de logística, como Santos, por que não vou criar essa aproximação? Por que não vou fomentar que eles estejam próximos da nossa realidade? Não somos autossustentáveis. Cubatão não consegue manter o Polo sem as demais cidades da região. Ciesp, Investe SP e Condesb são três grandes forças. Se nós conseguirmos fazer isso, aí sim o Polo de Cubatão vai ter representatividade como indústria de base. De repente, como indústria de transformação ou se aproximando das indústrias de transformação do Estado.


O senhor vê sinergia também com o Porto? Vê demandas comuns que podem ser trabalhadas de forma conjunta?


Sem dúvida. Pontos como a chegada de matéria-prima, por exemplo. A cabotagem foi muito explorada nos últimos meses. Foram feitos vários favorecimentos e incentivos para sair da rodovia e da ferrovia, que começaram a virar gargalos maiores. Para o mercado interno não concorrer com essa condição marítima, a rodovia e a ferrovia foram forçadas a ocupar espaço. Além do Porto de Santos, tem a estrutura portuária de Cubatão, subutilizada.


Há uma queixa, na região, sobre falta de profissionais qualificados para algumas atividades. Isso também ocorre no Polo?


Isso é um problema que acabou acelerado com a pandemia. As relações foram muito comprometidas. Eu acho que a indústria - e outros setores também - nunca trabalharam muito o tema produtividade. Enquanto os países de 1º mundo sempre trabalhavam para fazer mais com menos, nós tínhamos que gerar empregos. Então, o poder aquisitivo das pessoas é pequeno, porque os salários são baixos, há uma burocracia enorme e isso não favoreceu o crescimento de mão de obra qualificada. Não digo só de escolas de formação profissional, como o Sistema S, mas falo de universidades e escolas técnicas, de formar grupos de pessoas a trabalhar nos mercados que são oferecidos por região. Faltou profissional de TI no mercado, por exemplo. A própria Indústria 4.0 fomentou muito isso. O profissional de TI ficou escasso no mercado. Por quê? Porque não houve um planejamento. É uma demanda que existe, em capacitar e qualificar essa mão de obra, mas primeiro investir nos que aqui estão. Tem muita gente desempregada. Então, o que deve ser feito, falando da indústria? Procurar o Sistema S, ver quais as profissões que nós queremos que eles qualifiquem. Qual é o banco de profissionais que nós temos? Vamos pegar essa mão de obra que já esteve, algum dia, na indústria e, por algum motivo, perdeu qualificação e capacitar essas pessoas.


Para essa rodada de negócios em março, a agenda ESG deve estar presente. As indústrias locais estão em sintonia com essa nova demanda?


Sim, com certeza. Hoje, quando você fala em investimentos, eles precisam estar embarcados em tecnologias que privilegiem o meio ambiente, que fortaleçam a redução de dióxido de carbono. Só assim teremos um crescimento sustentável. Tudo o que se fizer dentro da indústria, hoje, tem que ter esse viés. Então, quando você for aprovar um investimento, a primeira pergunta deve ser: qual o benefício ambiental que esse equipamento nos traz? Além disso, qual a redução do consumo de energia elétrica? Qual o aproveitamento dos coprodutos? Esses coprodutos estão sendo aproveitados dentro da planta? Se não tiver um planejamento neste nível, melhor nem sair de casa.


Como o senhor gostaria de entregar, daqui a três anos, a sua gestão como presidente?


As pessoas são muito saudosistas quando falam do Polo de Cubatão. Eu pergunto: será que éramos mesmo fortes? Se você vir tudo o que foi feito no Polo, em termos ambientais, foram mais de R$ 3 bilhões de investimentos. Qual era nossa integração com o meio ambiente, com o social, com a geração de emprego e renda, que realmente elevasse o poder aquisitivo, que acompanhasse o segmento industrial? Não podemos viver desse saudosismo. Existe uma fortaleza no Polo de Cubatão, que foi construída ao longo de todos esses anos, mas não se consolidou. Precisamos consolidar essa fortaleza com as aproximações. Não podemos trabalhar dissociados da Baixada Santista nem do Estado. Depois, temos que fortalecer isso na Região Sudeste, onde você tem outros estados que são muito fortes, e pensar no âmbito nacional. Acho que é essa representatividade que a gente consegue com as indústrias que temos no Polo hoje. Se eu conseguisse, enquanto diretor do Ciesp e trabalhando com as lideranças da Baixada Santista, o próprio Condesb, o Investe SP, fortalecer o Polo de Cubatão no Estado de São Paulo e no Brasil, acredito que já seria uma grande entrega que faria dentro do Ciesp nos próximos anos.


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