Com perfil conciliador, Rosana Valle quer promover o entendimento entre as prefeituras

Deputada federal fala sobre primeiros dias na Câmara, analisa a reforma da Previdência e comenta sobre necessidades e projetos para o desenvolvimento da Baixada Santista

Por: Bruno Gutierrez  -  06/02/19  -  09:10
Rosana Valle tomou posse como deputada federal na última sexta-feira (31)
Rosana Valle tomou posse como deputada federal na última sexta-feira (31)   Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados

Apesar de viver a primeira experiência no campo político, Rosana Valle (PSB-SP) parece já estar adaptada à nova realidade. Nos primeiros dias transitando no Congresso Nacional, a parlamentar disse já ter contato com quase todos os deputados e senadores, além de ser respeitada e ouvida pela bancada de seu partido e pelas lideranças de outras legendas.


Sobre a Previdência, a pessebista acredita que a reforma seja necessária. No entanto, defende que "é preciso dividir em partes iguais esse remédio amargo". "Não concordo que o sacrifício tenha que recair todo sobre a população mais necessitada, ou seja, que é a base da pirâmide social. Na minha opinião, todos terão que ceder, inclusive militares", analisa.


Em relação à atuação política, a deputada quer utilizar seu perfil conciliador para promover o entendimento entre as prefeituras. Na visão de Rosana, existem muitas questões que precisam ser solucionadas regionalmente, como o déficit habitacional, a destinação do lixo, as deficiências no atendimento de saúde, a falta de segurança e o desenvolvimento turístico. 


Ela também fala sobre a necessidade de um modelo descentralizado na gestão Porto de Santos, para se trazer maior desenvolvimento para o setor e para a Baixada Santista como um todo.


AT - Como foi o primeiro dia na Câmara dos Deputados, já com a eleição da Mesa Diretora?


Rosana Valle - Foi muito intenso e produtivo. Em pouco tempo, já mantenho contato com quase todos os deputados e senadores, independentemente das posições políticas. Estou sendo respeitada e ouvida pela bancada do PSB e pelas lideranças dos outros partidos. Participei de vários cursos de ambientação e reuniões na Secretaria da Mulher. Fui a alguns ministérios e enviei ofícios dias antes de assumir. Um deles para o Ministério do Meio Ambiente, solicitando uma fiscalização mais efetiva na Cava Subaquática de Cubatão. E outro também ao Ministério da Infraestrutura, cobrando a demora na nomeação da diretoria da Codesp.


Sinto que terei muito trabalho pela frente para interferir, promover mudanças e impactar positivamente a vida das pessoas. 


AT - O PSB fez uma aliança com o PT, PSOL e Rede em oposição ao governo Jair Bolsonaro. Qual o seu posicionamento em torno dessa aliança?


Rosana - Essa composição foi somente para a escolha da Mesa Diretora. Fizemos várias reuniões com a bancada do PSB, e em todas elas me posicionei contra qualquer aliança com o PT. Entendo que o PSB ganhou muita credibilidade nos últimos anos por se posicionar de forma coerente nas votações do Congresso. Assim devemos permanecer, como partido de oposição, mas de forma inteligente e responsável, votando sempre a favor do Brasil e dos brasileiros.


AT - Como a senhora avalia a escolha de Rodrigo Maia para a presidência da Câmara, pela terceira vez consecutiva, contando o mandato tampão?


Rosana - Tínhamos um candidato do PSB (JHC-AL), e o partido decidiu por unanimidade apoiá-lo. Rodrigo Maia obteve mais de 334 votos, inclusive dos novos congressistas. A visão que muitos parlamentares têm dele é de que é um bom articulador com partidos da direita e da esquerda. Espero que promova o debate de todas as correntes partidárias, e que paute os projetos importantes para a mudança que os brasileiros esperam no país.


Deputada federal revelou voto em JHC na disputa para a presidência da Câmara
Deputada federal revelou voto em JHC na disputa para a presidência da Câmara   Foto: Isabella Castro/Assessoria

AT - A expectativa, hoje, gira em torno da reforma da Previdência. Qual a sua opinião sobre o tema?


Rosana - Acredito que é realmente necessário e importante que se faça uma reforma em nosso sistema previdenciário. As despesas do Brasil com a Previdência são incompatíveis com a conjuntura econômica e demográfica do país. Sabemos que a longevidade da população brasileira aumentou muito nas últimas décadas, e a conta não fecha. 


O problema são os termos em que essa reforma está sendo colocada em pauta. Nas discussões que serão feitas no Congresso em 2019, vou defender a transparência na divulgação das contas da Previdência.


A população precisa saber, de forma fácil e clara, onde está o rombo, quais são as empresas devedoras da Previdência, por que os bancos não pagam suas dívidas, e para onde está indo o dinheiro de impostos, como o Cofins, que deveria ir para a Seguridade Social. 


Não concordo que o sacrifício tenha que recair todo sobre a população mais necessitada, ou seja, que é a base da pirâmide social. É preciso dividir em partes iguais esse remédio amargo. Na minha opinião, todos terão que ceder, inclusive militares. Acredito, ainda, que existem muitos pontos obscuros a serem esclarecidos sobre a eficácia da reforma, sobre as regras de transição para o novo sistema, enfim... Os parlamentares terão desafios imensos nesse novo governo, e um deles será o de aproximar as decisões de Brasília dos maiores afetados por elas: o povo brasileiro.


AT - Como tem sido o relacionamento com os outros membros da bancada do PSB?


Rosana - Até então, tem sido o melhor possível. Nos últimos dias, fizemos pelo menos três reuniões, que duraram ao todo 15 horas. Foi um debate de alto nível. Percebo que os parlamentares das regiões Sul e Sudeste têm um viés mais ao centro do que os deputados do Norte e Nordeste, porém, todos temos voz e respeito. Somos 32, e estamos defendendo nossos posicionamentos de forma clara, e isso me dá tranquilidade. 


AT - Qual a sua avaliação de Tadeu Alencar como líder da bancada? 


Rosana - Tadeu Alencar tem serenidade, firmeza e equilíbrio. É um bom conciliador e comunica-se bem. Entende que é importante ouvir a todos. Conversamos bastante desde quando fui eleita, e rapidamente criamos uma identificação. Estou me sentido à vontade e ouvida. Gostaria que ele continuasse como líder de nossa bancada pelos próximos dois anos. 


AT - Quais os primeiros projetos que a senhora pretende apresentar na Câmara?


Rosana - Vou me empenhar para representar a região e defender projetos metropolitanos. Discutir soluções e priorizar a implantação de políticas públicas que contemplem a região, e não uma ou outra cidade.


Existem muitas questões que precisam ser solucionadas regionalmente, como o déficit habitacional, a destinação do lixo, as deficiências no atendimento de saúde, a falta de segurança e o desenvolvimento turístico. 


Vou me empenhar para ser uma parlamentar conciliadora e promover o entendimento entre as prefeituras. Podemos, sim, indicar aos gestores projetos que busquem soluções integradas, independentemente dos interesses partidários. Muitas vezes, como jornalista, percebi que faltam ações conjuntas nas cidades, e algumas dessas ações dependem mais da cooperação das três esferas do poder público (município, estado e União) e das parcerias com a iniciativa privada do que de grandes investimentos.


Temos de repensar, reinventar, multiplicar e explorar nossas potencialidades, e criar alternativas para que a população tenha mais oportunidades de trabalho e viva melhor. 


A Região Metropolitana da Baixada Santista sempre teve seu desenvolvimento econômico e social atrelado ao Porto de Santos, ao turismo de veraneio e às atividades industriais presentes no complexo petroquímico de Cubatão. Os últimos anos trouxeram mudanças profundas na forma de distribuição dos empregos. Em uma época marcada por rápidos avanços em automação e inteligência artificial, precisamos trabalhar para que a região encontre um novo caminho e seja um polo gerador de novas profissões. 


Acredito no caminho da Economia Criativa. O sucesso das startups e empresas pautadas no conceito de criatividade é prova desse movimento, que tem se tornado cada vez mais vivo e colaborativo. Vivemos uma época marcada pela quebra de padrões pré-estabelecidos, e investir em soluções criativas contribui diretamente para o desenvolvimento de uma sociedade mais sustentável e mais preocupada com o futuro.


Rosana Valle garantiu empenho para defender projetos metropolitanos
Rosana Valle garantiu empenho para defender projetos metropolitanos   Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados

AT - Para quais bandeiras a senhora pretender ter uma maior atenção?


Rosana - Vejo que o Porto de Santos pode trazer ainda mais desenvolvimento e empregos para a nossa região. O Porto sofre com a centralização do poder em sua gestão. O modelo de portos descentralizados funciona em diversos países e precisa ser aplicado aqui. Muitas reuniões, painéis e audiências públicas foram realizados para a discussão sobre o melhor modelo, e grande parte dos estudos aponta que uma melhor solução seria a gestão tripartite (município, estado e União). Pretendo reabrir essa discussão.


Como representante da Baixada Santista e do Vale do Ribeira no Congresso Nacional, pretendo fazer parte da Comissão de Viação e Transporte da Câmara dos Deputados, onde essas possibilidades e novos projetos para o desenvolvimento do Porto serão avaliados e questionados. Outro importante assunto é defender a garantia dos direitos dos trabalhadores portuários, que tanto contribuíram para o crescimento e para a história do maior e mais importante porto brasileiro.


Outra proposta é ampliar a promoção e divulgação das cidades da região e de seus eventos, criando um calendário metropolitano. A organização das atrações promoverá maior envolvimento da população local, e atrairá roteiros turísticos. Assim como acontece em outros locais do Brasil, em que cidades vizinhas se unem e atraem turistas até de outros países: Circuito das Águas paulista, Rota da Amizade e Serra Gaúcha.


Há, também, os centros históricos das cidades da Baixada Santista, que sofrem deterioração por causa de regras e parâmetros de tombamento muitas vezes inviáveis. Além da burocracia para se obter a permissão de qualquer mudança, não há interesse em manter parte interna e externa por causa dos altos custos. Os centros históricos do litoral precisam fazer parte de um amplo projeto de recuperação, com revisão das leis de proteção do patrimônio e maior incentivo fiscal aos proprietários que assumirem a revitalização.


AT - O que os munícipes da Baixada Santista e Vale podem esperar da senhora na Câmara dos Deputados?


Rosana - Podem esperar muita dedicação, trabalho e transparência. Sou uma jornalista e comunicadora, e meu canal de interação com a população pelas redes sociais é bem anterior à minha decisão de entrar para a política. Vou continuar mantendo esse diálogo pelas redes sociais e indo diretamente nas cidades, como sempre fiz.


Estudarei, ainda, formas de aproximar a transparência do mandato e a prestação de contas, para que a população possa acompanhar esses passos. A nova política não é feita nos gabinetes e palácios de Brasília, é construída no dia a dia, no contato com as pessoas e ouvindo seus anseios. A parceria entre os representantes e seus representados é o caminho para um mandato participativo e íntegro.


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