PalafitaCon leva mundo geek ao Vila Gilda

Primeira edição da convenção, com uma série de atividades gratuitas, acontece neste sábado (17) no Instituto Arte no Dique, com convidados especiais

Por: Guilherme Gaspar & Colaborador &  -  17/08/19  -  15:12
Atualizado em 17/08/19 - 15:16
Em 2018, a Gibiteca do Arte no Dique recebeu mais 7 mil títulos
Em 2018, a Gibiteca do Arte no Dique recebeu mais 7 mil títulos   Foto: Divulgação

Santos é considerada a quarta cidade que mais consome produtos geeks e nerds em nível nacional, segundo a Amazon. Além disso, possui a maior favela sobre palafitas do País: o Dique da Vila Gilda, onde vivem cerca de 25 mil pessoas em situação de vulnerabilidade.


Juntando essas duas realidades nasceu a PalafitaCon, convenção gratuita voltada ao universo geek, que tem sua primeira edição neste sábado (17), com a realização de jogos de tabuleiros, palestras, histórias em quadrinhos, filmes e muito mais.


O evento teve inicio às 10h e vai até às 18h, no Instituto Arte no Dique (Rua Brigadeiro Faria Lima, 1.349, Rádio Clube) e terá entre as principais atrações as presenças de Alexandre de Maio e Ferréz.


Segundo seu idealizador, o produto cultural André Azenha, a PalafitaCon visa disseminar e descentralizar ainda mais a cultura pop na região. “A ideia do PalafitaCon surgiu logo após o Santos Film Fest de 2018, quando arrecadamos mais de 7 mil gibis, que foram destinados à Gibiteca do Arte no Dique”. Para ele, o grande diferencial dessa convenção é que ela preza pela democratização de acesso à cultura em sua essência, ao levar uma experiência geek àqueles que não costumam frequentar outros eventos do tipo na Cidade.


Maio alia Jornalismo e quadrinhos


O jornalista e ilustrador Alexandre de Maio participará de uma roda de conversa ao lado de Ferréz. Foto: Prefeitura de Santos/Divulgação


O jornalista e ilustrador Alexandre de Maio, 41 anos, irá participar de uma roda de conversa com o público ao lado de Ferréz. “Enquanto estarei abordando meus trabalhos no jornalismo em quadrinhos, ele irá falar sobre a cultura de uma forma mais ampla”, adiantou o paulistano.


Alexandre conheceu Ferréz no final da década de 1990, época em que comandava a revista Rap Brasil. “Logo nos primeiros números fiz uma matéria com ele, sobre o livro Capão Pecado, de 2000. Certo dia, ele visitou a redação e, desde então, construímos essa amizade que já dura longos anos”, contou. Juntos, eles fizeram os quadrinhos Os Inimigos Não Mandam Flores, em 2006, e Desterro, em 2012.


O ilustrador foi convidado por André Azenha via e-mail, quando o evento ainda era um projeto. Ao saber da finalidade da convenção, logo aceitou o convite. “Levar esse tipo de conteúdo, antes restrito às capitais, a um bairro da periferia, é incrível. Não poderia deixar essa oportunidade passar”.


Assim como todo fã de quadrinhos, Alexandre de Maio começou lendo histórias de super-heróis. Sua vida mudou quando uma criança do bairro em que morava foi atingida por uma bala perdida e morreu. “Na época, decidi fazer um quadrinho baseado nessa história. O resultado foi esse: trabalho com jornalismo em quadrinhos até hoje”.


Por abordar temas sociais e humanitários, o ilustrador encontrou algumas dificuldades no começou de sua carreira. “As HQs estão muito baseadas em ficção. No início dos anos 2000, existia uma certa estranheza. Com o passar do tempo, isso ficou para trás”.


Para ele, eventos como a PalafitaCon servem para mostrar que a arte não tem lugar certo para existir, além de criarem novos adeptos e aproximá-los da cultura pop.


Ferréz aposta na sinergia do lugar


Ferréz está ansioso para interagir com o público da comunidade. Foto: Prefeitura de Santos/Divulgação


O romancista, contista, poeta e empreendedor Reginaldo Ferreira da Silva, mais conhecido como Ferréz, chega à convenção ansioso para interagir com o público da comunidade. “Sou da mesma favela há 40 anos. Se vai rolar uma convenção de quadrinhos em um lugar de palafita, eu faço questão de participar”, garante ele.


Como destaca, fazer parte de um evento como a PalafitaCon, gratuito e sem qualquer tipo de restrição, é incrível, pois viabiliza a democracia na acessibilidade.


Ferréz enxerga uma vida longa ao movimento hip hop por sempre estar acompanhado de novidades. “Enquanto outros grupos seguem com os mesmos formatos, essa cultura vai se renovando e impactando cada vez mais pessoas”.
De acordo com o contista paulistano, que levará obras das editoras Comix Zone e Selo do Povo à convenção, sua expectativa é das melhores: “Que eu consiga conversar bastante com o público e que possamos criar laços com a cidade para futuros encontros entre as periferias, mantendo as quebradas sempre em conexão. Espero, acima de tudo, sinergia”.


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