Exposição no Sesc Santos celebra a arte popular brasileira

Mostra tem 250 obras, de 33 artistas, contemplando 6 estados e fica em cartaz até julho

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  10/03/20  -  13:33

Começa nesta terça-feira (10), às 19h30, no Sesc Santos, uma viagem de integração da alma brasileira. Ao trazer aos holofotes a produção de 33 artistas populares, dos quatro cantos do País, a mostra itinerante (Re)Inventar – Artistas Criadores propõe um banho de conscientização sobre o que é (também) a nossa arte e a sua significação. 


“A chamada arte popular é feita fora dos ditos meios ‘cultos’. É uma criação cuja principal característica é vir dos extratos mais pobres da sociedade, refletindo uma expressão cultural própria”, explica Angela Mascelani, diretora e curadora do Museu Casa do Pontal, no Rio de Janeiro, a quem pertence o acervo em exibição no Sesc. 


Ou seja, o critério para definir o que seja arte popular – em complementação à erudita – é a condição socioeconômica do artista, dentro de seu caldo cultural original. 


Arte no Jequitinhonha tem cores claras, pelo barro
Arte no Jequitinhonha tem cores claras, pelo barro   Foto: Vanessa Rodrigues

Da pobreza à riqueza que brota das mãos do artista, há uma forte presença afro-brasileira e da miscigenação, explica Angela. A temática é comumente inspirada na religiosidade, no folclore e no cotidiano dos universos rural, agreste e, no caso da mostra em Santos, também caiçara. 


“Ao Sesc, no cenário que a gente vive hoje no Brasil, trazer uma mostra com a invenção do povo é muito importante”, diz Aline Stivaletti, programadora de exposições do Sesc-Santos. A mostra já passou pelas unidades de Birigui e de Santo André. 


Lampião Sereia, de Galdino: resgate do cangaceiro
Lampião Sereia, de Galdino: resgate do cangaceiro   Foto: vanessa rodrigues

A exposição


São 250 obras, divididas por artistas e/ou contexto. Há, por exemplo, uma ala do Vale do Jequitinhonha, contemplando obras criadas no norte mineiro. Exclusividade da exposição em Santos, também há uma ala caiçara. 


Logo à entrada, o visitante irá se deparar com um painel que esclarece uma confusão: a de que arte popular e artesanato são a mesma coisa. “O artesanato demanda habilidade e sensibilidade, mas a ideia é que seja multiplicado, há uma produção em série. O item artístico é único, exprime um sentimento, um estado de espírito”, define Angela. 


Ala da cultura caiçara tem motivos ligados ao mar
Ala da cultura caiçara tem motivos ligados ao mar   Foto: vanessa rodrigues

Há obras de Mestre Vitalino, artista pernambucano, talvez um dos mais conhecidos no Sudeste, que fez a descendência na arte: cinco, de seis filhos, seguiram os passos do pai. 


Também há exemplares do também pernambucano Galdino, que se descobriu artista após os 50 anos, nos anos de 1970, de maneira inusitada. Funcionário da prefeitura de Caruaru, foi designado para abrir valas no Alto do Moura, região da cidade onde estão concentrados os artistas seguidores de Mestre Vitalino. Foi tão impactado pela arte ao redor, que não quis fazer mais nada da vida. 


A princípio, estendia uma toalha no chão, na famosa Feira de Caruaru, para exibir sua arte ainda tímida. Mas quando certa vez um grupo de turistas japoneses se encantou e comprou todos os itens de uma tacada só, a notoriedade lhe sorriu. 


Simplicidade


Uma profunda simplicidade permeia a mostra. Como no caso de Noemisa, de Caraí, norte de Minas que, apesar de nunca ter se casado, traduziu em sua obra tudo a respeito, da cerimônia aos sonhos das meninas. 


Certa vez, em contato com a artista, Angela perguntou o motivo da fixação. E Noemisa: “Porque as noivas são as outras”. E por que você nunca se casou? “Porque quando morrer, quero ir para o céu vestida de anjo”. 


Serviço


(Re) Inventar - Artistas Criadores, no Sesc (Rua Conselheiro Ribas, 136)
de 11 de março a 26 de julho, de terças a sextas, das 9 às 21h30; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30, com visitas monitoradas por educador
Abertura, nesta terça (10), às 19h30, com show de Caju e Castanha.


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