Contreras reflete sobre o suicídio entre jovens no livro 'Crocodilo'

Escritor espera que sua nova obra, a ser lançada dia 8, ajude a fomentar debates sobre esse problema mundial

Por: Lucas Krempel & Da Redação &  -  30/10/19  -  10:13
  Foto: Reprodução

O escritor baiano Javier Arancibia Contreras tinha uma ideia em mente: uma obra que seria uma alegoria política mais incisiva sobre o que está ocorrendo no Brasil e em muitos outros países.


Filho de pais chilenos, exilados no Brasil após o golpe militar de 1973, Contreras sempre manteve um perfil contestador. O livro 'Soy Loco por ti, América' (Companhia das Letras, 2016), que lhe rendeu uma vaga entre os finalistas do Prêmio Jabuti de 2017, reforça isso.


Mas um assunto surgiu com mais urgência na cabeça do escritor, que passou boa parte da adolescência morando em Santos. Na prática, a política foi deixada de lado (em partes), o suicídio virou o assunto dominante. E assim teve início a obra 'Crocodilo' (Companhia das Letras), que será lançada no próximo dia 8, na Realejo Livros, em Santos.


“Decidi começar outra coisa e a primeira frase veio: hoje, meu filho Pedro pulou da janela do seu apartamento. A partir daí ficou claro para mim que o tema suicídio era o que estava me incomodando inconscientemente. Relembrei algumas histórias de colegas do passado que haviam cometido suicídio e que na época haviam me deixado muito mal, e também de artistas brilhantes, aparentemente cheios de vida, como o ator e comediante Robin Willians, por exemplo”.


Foi a partir dessa reflexão que Contreras passou a pesquisar o tema a fundo. “Fiquei impressionado e muito chocado com o número de cerca de 1 milhão de suicídios por ano no mundo. E isso me fez seguir em frente”, comenta.


Nome da obra


'Crocodilo' é uma metáfora do livro. Segundo o autor, é um ser que se esconde sob um lamaçal impenetrável e cujos olhos são a única coisa que se vê. Um ser cujo interior é como se fosse uma fortaleza indecifrável, uma couraça que esconde sentimentos represados.


“Sinto que os suicidas têm essa característica. Muitos revelam a essa sociedade agressiva que vivemos hoje só o que esta quer ver, uma pessoa feliz e lutadora, quando por dentro os sentimentos são conflituosos e se passa exatamente o contrário. Ter a obrigação de ser um vencedor e uma pessoa feliz em tempos de redes sociais e de uma sociedade que não exige menos que o empreendedorismo e o sucesso contrasta muito com a realidade”.


Contribuição


Mais do que uma obra forte e intrigante, 'Crocodilo' também pode ser considerada uma contribuição, justamente por discutir um tema tão polêmico.


“Não posso dizer a dimensão, mas acho que o tema teria de ser debatido incisivamente em escolas nos últimos anos do Ensino Fundamental e, com toda a certeza, no Ensino Médio. A taxa de suicídios de adolescentes em formação e jovens é a que mais cresce no mundo. Por isso, iniciativas como o Setembro Amarelo são fundamentais para o debate, para que não façamos o que tem sido feito há anos: varrer o tema pra debaixo do tapete”.


O escritor reforça seu argumento dizendo que a máxima de que o debate poderia influenciar suicídios de quem já está pré-disposto a fazê-lo é um grande erro.


“A literatura e o cinema têm apresentado obras ficcionais que abordam a questão do suicídio e acho que o debate tem sido bom com os jovens. Espero que 'Crocodilo' possa ajudar nesse sentido”.


Muitas razões


Com a base obtida a partir de muita pesquisa para 'Crocodilo', Contreras acredita que existem várias razões para uma pessoa cometer o suicídio.


“Não há resposta definitiva. A única certeza é que essas pessoas estão sofrendo muito para cometerem esse ato final. A epígrafe do livro, do escritor e filósofo francês, Albert Camus, explica bem a complexidade do tema: Existe apenas um problema filosófico realmente sério: o suicídio”.


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